Iê Iê Iê de Arnaldo Antunes no Canto da Primavera

Com um repertório baseado em seu último CD, intitulado Iê Iê Iê, além de alguns sucessos antigos, como Essa Mulher, Socorro e Consumado, o ex-Titãs Arnaldo Antunes mandou ver e deu o tom no Palco do Rosário, na noite de sexta-feira. Elétrico e contagiante, agitou, pra valer, o grande público, aglomerado na junção das ruas Beira-Rio e do Lazer.

Músico, poeta e artista visual, Antunes — bem-humorado e receptivo com a imprensa —, concedeu entrevista coletiva momentos antes do show. Indagado sobre essa mistura musical, poética e visual em seu trabalho e como ela se reflete no palco, afirmou que o resultado é sempre gratificante e que a melhor coisa é tocar na praça e na rua, para um público mais caloroso e que, por razões financeiras, nem sempre tem acesso aos shows. Nesse aspecto, destacou o papel sociocultural de eventos como o Canto da Primavera.

Arnaldo Antunes, que se projetou no cenário musical como integrante dos Titãs, se desligou da banda em 1992, iniciando carreira solo marcada pelo experimentalismo e pontuada por eventuais parcerias com ex-companheiros do grupo e outros artistas. Está lançando o novo CD e realizando excursão pelo País, já tendo se apresentado em Belo Horizonte, Manaus, Belém, Brasília e agora Pirenópolis, antes de partir para outras capitais brasileiras.

Instado a falar um pouco sobre o experimentalismo em relação ao disco Iê Iê Iê, explicou que este CD, de certa forma, é um retorno à música mais dançante, mais animada, e não só na base do teclado. “É um rock mais melódico, com referências a artistas como Rita Lee e outros. O show está muito legal, a recepção do público é calorosa e estamos adorando fazer esse trabalho”, ressaltou. A calorosa recepção do público se repetiu em Pirenópolis, de forma que, a pedido, Antunes retornou ao palco e cantou mais duas músicas. Na primeira vez que deixou o palco, não escondeu o seu entusiasmo, exclamando: “Que show! Que show!”.

O cantor frisou que não está voltando ao Iê Iê Iê, mas se inspirando nele, revitalizando essa linguagem. “Antes de ser um disco de Iê Iê Iê, é um disco de Iê Iê Iê do Arnaldo Antunes. É um disco muito diferente de minha carreira e, ao mesmo tempo, muito parecido com ela”, completou, colocando que, com esse CD, o objetivo é atingir o maior número possível de pessoas.

Ainda em relação aos Titãs, Arnaldo disse que o novo CD tem um pouco de sabor desse começo de carreira, inserido na cultura pop de modo geral. “O disco retoma o Iê Iê Iê de outra forma, incluindo músicas minhas, antigas e ainda inéditas, que têm um som de Iê Iê Iê. E conversa com a tradição, tanto é que neste show eu canto uma música de Odair José (Quando você decidir), com o arranjo refeito, retomando os anos 80”, informou.

Um detalhe que chama a atenção é que na maior parte de seu trabalho — álbuns, composições e arte visual — Arnaldo Antunes utiliza títulos com uma única palavra. A saber se ele busca alguma síntese, respondeu afirmativamente: “Busco sintetizar o máximo com o mínimo de palavras”.

Quanto à pirataria no mercado de discos, o ex-Titãs disse que, com a Internet, ela não faz mais sentido, porque o acesso se tornou corriqueiro. “Não há muito caminho de volta, e até vejo um lado maravilhoso nisso, de as pessoas poderem ter acesso às músicas. Por outro lado, tem que equilibrar isso com o lado do artista, que precisa viver do seu trabalho. Um dos caminhos são os patrocínios das grandes empresas e a realização de turnês”, finalizou Antunes, que tem patrocínio da Natura, via Lei Rouanet.

Vale lembrar que, com Marisa Monte e Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes formou o trio Tribalistas, em 2002. Produziu diversos álbuns (Nome,1993; O Silêncio, 1996; O Corpo, 2000; Qualquer, 2006; Ao Vivo no Estúdio, 2007) e publicou vários livros (Psia,1986; Tudos, 1990; Doble Duplo, 2000; Palavra Desordem, 2002; Frase de Tomé aos Três Anos, 2006; entre outros).

Em Iê Iê Iê, o artista recria o gênero dançante dos anos 60, brincando com os clichês do universo pop, mas “sem saudosismo”, como fez questão de afirmar. No entanto, não negou, ao final da entrevista em Pirenópolis, que sempre ficam as saudades, inclusive em relação aos Titãs e os Tribalistas.

Fonte: Agepel

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