A peste apodera-se de imagens que dormem, de uma desordem latente, e de repente empurra-as até aos gestos mais extremos; e o teatro, também ele, se apodera de gestos e os empurra até ficarem fora de si: tal como a peste, refaz a cadeia entre o que é e o que não é, entre a virtualidade do possível e o que existe na natureza materializada. (Antonin Artaud)
Abrem-se as Cortinas. No fundo esquerdo do palco está o personagem cuja representação é a do próprio autor. No Centro, sentado sobre a mesa, está o jovem Macário de frente para a platéia. De costas, também sobre a mesa, está o desconhecido. Embaixo, estão as mulheres da Taverna. Quem são estas personagens? O que elas Fazem?
O jovem estudante Macário chega numa taverna para passar a noite e começa a conversar com um estranho. De repente, acontecem fatos inusitados e O Desconhecido leva-lhe a uma cidade de devassidão, povoada por prostitutas e estudantes, onde Macário tem uma alucinação envolvendo sua mãe.
Trata-se da estória de Macário, jovem de 20 anos que nunca conheceu seu pai ou mãe, que chega a uma estalagem, montado em seu burro, qual Dom Quixote, em suas peregrinações, e pede comida e pouso. Um desconhecido aproxima-se e começa a conversar com ele sobre variados assuntos, tais como poesia e amores.
Macário, considerada a obra-prima de Álvares de Azevedo, é o único drama e última obra escrita pelo Jovem autor que faleceu aos 21 anos, e se baseia em um sonho que o próprio autor teve. Considerado o primeiro autor Genuinamente brasileiro, Álvares escreve um texto que se mantém ainda pertinente aos tempos atuais.
A ação do espetáculo decorre toda à noite, distribuindo em réplicas curtas, não raro humorísticas, um debate moral e psicológico muito denso. As cenas são recortes de uma realidade fantástica, influenciada pela linguagem Pop, com base na crueldade Artaudiana. A música, assim como os gestos dos atores, visa uma linguagem minimalista, buscando despertar não apenas emoções, mas sensações e percepções que atinjam não somente o consciente, mas também o instintivo o inconsciente. A trilha sonora é toda executada ao vivo.
A mola propulsora do espetáculo é uma busca substancial, essencial e descomprometida de qualquer estigma, ainda que com influências filosóficas e literárias de peso, como Goethe, Byron, Artaud, Dumas, Victor Hugo, Meierhold entre vários outros. Macário é o Fausto brasileiro sem a eternidade, e sim com a efemeridade característica de seu autor que abandonou a vida jovem, e buscando não livrar as pessoas do mal, e sim contagiá-las com a sua peste romântica.
A peça é atemporal e o espaço é o plano psicológico do protagonista, definindo ainda mais a realidade fantástica proposta pelo autor do texto. As cenas são construídas com base na Dança Contemporânea, no Teatro Físico e na Musicalidade. A estética é a contemporânea, sendo um espetáculo híbrido, com elementos caóticos, característicos de vanguardas como surrealismo e o dadaísmo, buscando ainda elementos da tragédia grega e do Teatro medieval. Assim, o espaço inscrito é marcado por uma dubiedade de significado que talvez indique a estrutura profunda do drama, construído sobre a reversibilidade entre sonhado e real, vacilante terreno onde, quando pensamos estar num, estamos no outro.
Ficha Técnica
Texto Álvares de Azevedo
Concepção e Direção João Bosco Amaral
Preparação dos Atores Guido Campos Correa
Preparação Corporal Edelweis Vieira
Trilha Sonora Lino Calaça
Cenografia Jeová de Lucena
Design Gráfico Renato Roriz
Iluminação João Bosco Amaral
Maquiagem Cia. Teatral Oops!..
Figurino Lino Calaça
Elenco:
Olliver Mariano Macário
Sol Silveira O Desconhecido
Thamis Rates Mulher da Taverna
Ary Arantes Mulher da Taverna
Renato Roriz O Autor
Lino Calaça O Músico
Produção e Realização Cia. Teatral Oops!..
SERVIÇO:
Projeto Temporada Ouro
Espetáculo: Macário
Cia. Teatral Oops!
Data: 01, 08 e 15, às 21h (quintas-feiras)
Ingresso: R$ 10,00 inteira e R$ 5,00 meia