O monólogo “Boi” foi escrito especialmente para o ator Guido Campos Correa, pelo dramaturgo Miguel Jorge. Através da Lei Municipal de Incentivo a Cultura pôde ser realizado.Trata-se da estória de Zé Argemiro, que, entre suas brincadeiras de menino da roça, tem como favorita a de montar na garupa do boi Dourado. Diferentemente da vida normal que levam os outros meninos da sua idade, Argemiro prefere a companhia dos bois, com os quais passa horas conversando, mergulhando, inclusive, em sentimentos de profunda dor e tristeza, quando algum deles morre. Tal particularidade começa a preocupar sua mãe, Maria, e, assim que ele cresce, ela trata logo de arranjar-lhe um casamento. Zé Argemiro, contudo, só pensa em tomar banho de rio com o boi Dourado, coçar seu couro e acolher em seu colo a cabeça daquele que passou a ser, há muito tempo, seu melhor amigo. Cedendo aos apelos de sua mãe, Argemiro decide casar-se com Das Dores. Entretanto, pouco tempo depois do casamento, Das Dores põe-se a reclamar de que o boi Dourado recebe mais carinho e atenção que ela. Tal situação agrava-se cada vez mais, até que, enciumada e cheia de ódio, Das Dores ameaça matar o boi Dourado. Sua decisão afeta profundamente Argemiro, desencadeando nele inesperada reação.
A trama parte de uma bucólica situação inicial, para aprofundar-se na relação de amizade entre Zé Argemiro e o boi Dourado, a qual retoma o carinho que Zé do Burro alimenta por seu burro, na peça “O Pagador de Promessas”, de Dias Gomes, e chega a situações tensas e críticas, que culminam com uma certa visão kafkaniana dos acontecimentos.
Guido é um ator visceral, que atua há mais de 20 anos e já foi dirigido, entre outros, por nomes como Antunes Filho, Amir Haddad, Luis Fernando Carvalho, Jorge Fernando, Wolf Maya, Hamilton Vaz Pereira, Regina Miranda e Henrique Rodovalho. Participou, também, das novelas “O Rei do Gado”, de Bendito Ruy Barbosa, e “Que Rei Sou Eu?”, de Cassiano Gabus Mendes, e dos longas “Carandiru”, de Hector Babenco, “O Tronco”, de João Batista de Andrade, “Outras Histórias”, de Pedro Bial, e “Terra de Deus”, de Iberê Cavalcanti.
Seu espetáculo “A Terceira Margem do Rio”, baseado no conto homônimo de Guimarães Rosa e dirigido por Henrique Rodovalho, foi premiado e aplaudido em várias cidades brasileiras, bem como em Portugal, Itália e Costa Rica. A peça foi, inclusive, eleita em 2007, pela revista Bravo!, como um dos 100 melhores espetáculos brasileiros nos últimos oito anos.
Para dirigir “Boi”, Guido convidou o uruguaio Hugo Rodas, que, além de dirigir peças e ministrar oficinas por todo o Brasil, também é professor de Teatro na Universidade de Brasília. Hugo Rodas reside na Capital desde 1975 e foi descrito como um “gênio” pela atriz Denise Stoklos. Em Goiânia já dirigiu, entre outras, a peça “Édipo”, da Cia. Benedita de Teatro, que foi a grande vencedora do I Festival Nacional de Teatro de Goiânia e contou com a presença do próprio Hugo no debate que se seguiu à apresentação. Um pouco de sua trajetória foi registrada na dissertação “O Garoto de Juan Lacaze: Invenção no Teatro de Hugo Rodas”, desenvolvida no programa de pós-graduação em Arte da UNB por Claudia Moreira de Souza.
O BOI. Uma vez mais Goiânia no caminho, aliás, desde o lendário convite de Dona Nize de Freitas nos anos setenta, praticamente recém chegados ao país e a Brasília. Goiânia tem-se transformado no meu segundo “terreiro” me oferecendo experiências e parcerias inesquecíveis. Agora esta nova proposta sobre a obra de Miguel Jorge, ao qual agradeço infinitamente a sua “loucura” e confiança para a realização desta adaptação, a convite de um ator disposto a me sofrer até as últimas conseqüências. A todos meu agradecimento pela permissão para entrar nesse universo.
Hugo Rodas
“BOI” é meu segundo solo no teatro, missão difícil, mas prazerosa… Zerar e começar tudo de novo… O desafio, um novo olhar, uma nova forma de respirar, um novo caminho, o aprendizado… Miguel Jorge criou personagens lindos, fortes, simples: Zé Argemiro, das Dores, a mãe, os vizinhos e o próprio boi… o Sertão presente.Na regência desse encontro Hugo Rodas: um criador, um mestre, um “bruxo”… por tudo isso: um “louco pop cênico” todo meu respeito e admiração. “Salve Lelê”.
Guido Campos Correa
Ficha Técnica:
Texto Original: Miguel Jorge
Direção/Concepção/ Adaptação: Hugo Rodas
Atuação: Guido Campos Correa
Cenário/Iluminação/ Figurino/Trabalho Corporal: Hugo Rodas
Trilha Sonora Original: Victor |Pimenta
Fotografia: Layza Vasconcelos
Adereço cabeça boi: Marcos Lotufo e Edith Lotufo
Mascarado: Maria Aparecida (Pirenópolis).
Programação Visual: Marcos Lotufo
Cenotécnico: Jeová de Lucena
Produção Geral: Guido Campos Correa
Realização: Sertão Teatro Infinito Cia.