- (Foto: Igor Leonardo – Hektaphoto's)
Lucas Pereira
A baiana Simone Bittencourt de Oliveira, mais conhecida como Simone, é dona de uma carreira invejável e do êxito de mover multidões ao longo de quatro décadas. De passagem por Goiânia, especialmente para visitar as instalações e conhecer mais sobre o trabalho desenvolvido pelo Centro de Valorização da Mulher (Cevam), a cantora movimentou um número menor de pessoas, mas tão grande em emoção quanto um Maracanãzinho lotado – feito da artista nos anos 80 -. Simone fez questão de conhecer cada detalhe da ONG, que é presidida por Maria Cecília Machado, abraçar e conversar com as crianças e encantá-las com sua música. Ao final da visita, a cantora bateu um papo com a Zelo, no qual abriu seu coração. Confira a entrevista na íntegra:
Com que olhos que você vê a iniciativa do Cevam?
Simone: Eu acho que tudo que você pode ajudar, pode compartilhar, é bom. Que bom que eu conheci o Cevam! Que bom que quando eu vim aqui pra Goiânia eu tive a oportunidade de conhecer o pessoal, algumas das crianças estiveram lá, e eu fiquei muito tocada, porque é uma barra muito pesada. O que eu puder fazer, eu vou fazer!
Você acha que o incentivo de pessoas com grande repercussão na mídia ajuda na difusão dessas causas ainda desfavorecidas no nosso país?
Simone: Eu acho que caberia muito ao Governo, tanto Federal, quanto Estadual e Municipal, ajudar. A verba monstruosa que se tem deveria ser muito mais bem aplicada do que está sendo. Então, seria bom que os governantes, os políticos, esses homens poderosos, olhassem um pouco, tivessem esse “padrão FIFA” para a educação, para a saúde, para essas causas que são muito grandiosas e lutam contra o que faz um estrago enorme na vida das pessoas. Eles poderiam ser um pouco mais condescendentes, ter um pouquinho mais de abertura para ver todas essas barbaridades que acontecem, afinal, não é só aqui, não é só o Cevam que ajuda. E obviamente nós, pessoas públicas, podemos ajudar, mas não pode ficar tudo nas costas dos artistas. Maseu digo que se você pode falar, se acredita no que está vendo, você tem que falar, que espalhar, portanto, eu estou à disposição.
Diante desse governo tão deficitário, você acha que o posicionamento dos artistas aumenta a conscientização?
Simone: Eu sempre fui uma pessoa que pelo que eu acredito eu boto a cara. Em questões como política, religião, você não pode brigar com as pessoas, cada um tem um gosto. Então, você tem que se posicionar, porque se você toca as pessoas pela posição em que você está se colocando, e pela verdade que você está passando, o tempo irá mostrar o resultado. No caso aqui, meu posicionamento com o Cevam, isso transcende essas questões políticas, eu não quero saber disso, vai além. Mas que tem a ver botar a cara a tapa sim. Eu não me importo com isso!
Com mais de 40 anos de carreira, a Simone hoje tem uma postura diferente em relação a público, shows, mesmo esse posicionamento social?
Simone: Não! Eu sempre fui uma pessoa coerente com a vida e com a minha carreira. A minha fomra de pensar e minha maneira de agir não mudaram. Daqui para frente eu posso errar menos, ser um pouco menos pavio curto talvez. Mas o meu posicionamento diante da vida é exatamente igual, eu sou turrona, teimosa, no que eu acredito eu acredito, no que eu creio, eu creio. Agora eu acho difícil mudar! (risos)
Você vem de uma geração que é bastante utópica, que via a música como um instrumento para mudar o mundo. Você acha que isso ainda tem força atualmente?
Simone: Eu acho que a música foi o grande grito de liberdade e a cultura, obviamente, ganhou com isso. Nos anos 60, aquele movimento de liberdade, amor, sexo, drogas e rock’n roll, eu acho que foi um grito válido. Mas a gente vê as incoerências que aconteceram no mundo, como no caso do John Lennon, aquela tragédia horrorosa, que era um cara que sempre lutou pela paz, cantando o amor o tempo inteiro. Acho que a música modifica muito a maneira de pensar, ela traz muitos benefícios. E a geração à qual eu pertenço, eu devo dizer-lhe que, até agora está insuperável, sem dúvida nenhuma é maravilhosa. O que a gente tem de bagagem dessa geração é um espetáculo!
Hoje você prefere fazer shows mais intimistas?
Simone: Depende do show! Acho que o artista deve ir onde o público está, mas tem shows que são para lugares menores mesmo. E a realidade mudou também. No caso, esse meu último show é para ambientes pequenos, ele precisa disso.
Falando do seu último trabalho, o “É Melhor Ser”, como está a repercussão?
Simone: Tá ótimo! Estou em turnê com ele.
Você traz grandes compositoras nesse trabalho, e tem uma música que você compôs junto da atriz Fernanda Montenegro. Como surgiu essa ideia?
Simone: A Fernanda escreveu um bilhete, um texto, pra mim. E um dia eu, lendo e relendo, vi que a primeira parte do bilhete, em que ela falava de mim e em todos os artistas, já tinha a música implícita. Eu vi uma coisa como um mantra naquele começo de bilhete, então liguei para ela e pedi permissão. Ela chancelou, então era esse o projeto!
E tem algum projeto futuro que você pode compartilhar com a gente?
Simone: Projeto tem! Que eu possa compartilhar ainda não! (risos)
Voltar com show a Goiânia, algum plano?
Simone: Sim, claro! Se possível ainda esse ano!