No final de novembro, Meghan Markle revelou para o jornal The New York Times que sofreu um aborto espontâneo em julho desse ano. “Eu sabia, enquanto agarrava meu primeiro filho, que estava perdendo meu segundo”, disse a duquesa de Sussex ao tabloide americano. E Meghan está longe de ser um caso isolado. “Cerca de 20% das gestantes sofrem com abortos espontâneos. Ainda assim, o assunto é tratado como um tabu e muitas mulheres não sabem os motivos que levam ao problema, muito menos a quais tratamentos podem recorrer para que a gestação ocorra de maneira saudável e sem complicações”, afirma o ginecologista e obstetra Dr. Rodrigo da Rosa Filho, especialista em reprodução humana e membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH).
Segundo o especialista, o aborto espontâneo é caracterizado pelo fim da gestação antes da 22ª semana devido a morte do feto. Geralmente, os sintomas mais comuns do aborto espontâneo são dor abdominal forte, o que Meghan Markle descreveu como uma “cólica aguda”, e sangramento vaginal. Já as causas do problema são extremamente variadas. “A maior causa dos abortos espontâneos não tem relação com a saúde da gestante, ocorrendo devido a uma alteração cromossômica do embrião que faz com que este não se desenvolva corretamente, sendo assim rejeitado pelo organismo, o que leva ao aborto”, explica.
Os outros casos de aborto, por sua vez, estão geralmente ligados a saúde da mulher, podendo incluir problemas no útero, alterações hormonais, doenças autoimunes e da tireoide e condições como síndrome dos ovários policísticos, clamídia, sífilis e toxoplasmose. “Alguns hábitos do dia a dia também são prejudiciais à saúde da gestante e do bebê, podendo levar ao aborto. Por exemplo, o consumo de bebidas alcoólicas e ricas em cafeína, o uso de drogas e medicamentos sem prescrição e o tabagismo, assim como a simples exposição à fumaça do cigarro, estão relacionados ao aumento de casos de aborto espontâneo”, alerta o Dr Rodrigo. “Mulheres obesas ou extremamente magras também estão mais propensas a sofrerem com aborto, visto que, nesses casos, o organismo não está em condições de garantir o bom desenvolvimento do feto.”
Mas a boa notícia é que é possível evitar que o aborto se repita, sendo que o primeiro passo para esse objetivo é adotar um estilo de vida saudável, mantendo uma alimentação balanceada, controlando o peso, dormindo bem, praticando exercícios físicos de acordo com a recomendação de seu médico e evitando o consumo de bebidas alcoólicas, o tabagismo e o uso de drogas. “Além disso, é fundamental visitar o médico, que poderá realizar uma avaliação de sua saúde e solicitar exames para verificar se não existe uma condição pré-existente que pode levar ao aborto, indicando, a partir disso o tratamento, mais adequado para cada caso”, afirma o médico. “Por exemplo, quando o aborto é causado por alterações hormonais o médico poderá recomendar suplementos que ajudem a equilibrar os níveis dos hormônios no organismo. Já em casos de síndrome do ovário policístico, o tratamento inclui o uso de anticoncepcionais para regular o ciclo menstrual, indutores de menstruação para ajudar no processo de ovulação e hipoglicemiantes para controlar a resistência insulínica, além de medicamentos para reverter o quadro de infertilidade.”
No entanto, caso o motivo do aborto seja a genética, o que pode ser identificado por meio de testes de genotipagem, a melhor alternativa para garantir uma gestação saudável é apostar em uma fertilização in vitro. “Isso porque a fertilização in vitro permite que os óvulos sejam fecundados em laboratório e os embriões sejam avaliados por meio de exames genéticos. Dessa forma, apenas os embriões saudáveis e que não apresentam alterações cromossômicas são selecionados e implantados novamente no útero, o que reduz significativamente o risco de aborto”, completa o Dr Rodrigo da Rosa Filho. Mas vale ressaltar que, ao sofrer um aborto, o mais importante antes de tentar engravidar novamente é consultar um médico, que poderá realizar uma avaliação de seu estado de saúde e solicitar exames para identificar qual a real causa do problema, recomendando assim o tratamento mais adequado para garantir que a próxima gestação ocorra de forma segura e sem complicações.