Galeria homenageia antiga boate Jump em evento com a humorista e atriz Nany People

Momento faz parte da Jump Expo Art Show 2022, que acontece em fevereiro e contará com uma série de atividades
Nany People (Reprodução/Paulo Belote )

Na década de 1990, Goiânia foi presenteada com um espaço que jamais sairá da memória afetiva de toda uma geração de artistas e de frequentadores da noite goianiense: a The One Jump Dance Club, ou simplesmente boate Jump. A casa fez história, marcou gerações e influenciou definitivamente a noite e a cultura locais. É por esse passado tão celebrado que entre os dias 24 e 26 de fevereiro o público poderá recordar – ou conhecer – suas memórias, que foi muito mais do que uma boate para nossa capital: uma casa que quebrou tabus, ocupou um espaço físico e relacional improvável, revelou manifestações artísticas inovadoras e celebrou a diversidade de gênero e a inclusão social.

A mostra, que acontece na 588 Art Show Galeria, reúne uma programação com atividades presenciais e virtuais, com uma exposição fotográfica com memórias do espaço, debates sobre artistas e performatividade de gênero, literatura de gênero, políticas afirmativas, além de oficinas de criação para se tornar uma drag queen.

A comediante Nany People, madrinha do projeto, estará no evento compartilhando relatos de sua trajetória e debatendo sobre diversidade. Esta iniciativa conta com o apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás. Toda a programação é gratuita e terá tradução em Libras.

Memória cultural

A mostra Jump Expo Art Show é resultado da parceria entre Rodrigo Lima, gestor da 588 Art Show Galeria e proponente deste projeto, e Regina Perri, ex-gestora da boate e curadora da exposição. Rodrigo fez o convite à Regina tendo em mente três principais objetivos: recuperar a memória da Jump e evidenciar seu impacto na cena cultural goiana e brasileira, fomentar o debate sobre gênero e diversidade e manter viva e ativa a 588 Art Show Galeria, que já abrigou mais de 40 exposições e recebeu mais de 100 artistas.

“Nosso espaço de eventos de arte e antiquário está com alguns projetos inovadores para este ano: um deles é o trabalho com memórias: individuais, coletivas, histórias de vida, trabalho e empreendimentos. A história da Jump e de Regina também fazem parte das minhas lembranças, do meu passado e do passado de muitas pessoas. Quero mostrar que momentos de alegrias, amizades, lazer, entretenimento noturno em Goiânia podem ser memorizados, eternizados e podem estar a mostra dentro de uma galeria de arte, dentro de espaços de cultura na cidade”, comenta Rodrigo.

Regina, que tem se deleitado em desenvolver a curadoria desta exposição, compartilha a importância de se recuperar as memórias da Jump e compartilhar com o público goiano 14 anos após o encerramento das atividades da casa. “Queremos dar luz ao acervo de imagens e sons que temos, que foram o reflexo de comportamentos e são o registro de momentos de um novo estilo de vida da época: a alegria!”, compartilha a empresária.

Programação

Nos dias 24 e 25 de fevereiro (quinta e sexta-feira) o público poderá acompanhar a programação virtualmente no canal do YouTube da 588 Galeria Art Show. Quem abre o evento, na noite de quinta-feira, 24, é a personagem Condessa Valéria Vaz, que conduzirá uma live sobre a arte Drag. Às 20h, o ator e produtor Rômulo Vaz, que atua junto aos coletivos “Somos Um em Onze Milhões” e “Teatro de Solidão Solidária”, compartilhará sua pesquisa desenvolvida na EMAC/UFG sobre a situação de artistas que vivem de performatividade de gênero. Em seguida, às 21h, o ator e comediante Victor Baliane, formado em Artes Cênicas pela UFG, vai ensinar os primeiros passos para se tornar uma verdadeira drag queen nos palcos e canais digitais. Baliane, nessa oficina, compartilhará de seus conhecimentos e experiências como drag há seis anos, que lhe renderam vários trabalhos e vitórias em concursos de talentos.

Na sexta-feira, 25, às 20h, a programação oferece uma mesa online com debate sobre “voz e visibilidade do gênero na arte”, com Larissa Mundim, diretora e coordenadora editorial da Nega Lilu, e Alexandre Augusto, idealizador do Cine-clube Zabriskie, com mediação de Regina Perri. Nesta conversa, Mundim vai compartilhar sua experiência com publicações de temática de gênero e Alexandre com dois projetos infanto-juvenis que envolvem filmografia de gênero, discussões e ações em escolas. Às 21h dessa segunda noite, Baliane oferecerá a segunda parte da oficina “Sou uma queen”.

A noite de sábado, 26, começa às 18h com uma live sobre memória, arte, políticas afirmativas e discussões sobre gênero e diversidade com a atriz e comediante Nany People; Dra. Cristina Lopes, Secretária Municipal de Direitos Humanos e de Políticas Afirmativas, com mediação de Regina Perri.  Às 19h haverá performance com a Top Drag Morgana Voguel, que contabiliza 16 anos de carreira, criada exclusivamente para a exposição. Em seguida, Victor Baliane é quem oferece uma performance desenvolvida para o evento dentro de sua oficina.

Quem estiver em casa, poderá acompanhar a transmissão ao vivo de um vídeo criado com imagens fotográficas e captações de imagens do processo de criação da exposição. Por fim, será aberta a Exposição Jump Expo Art Show 2022, com visitação monitorada pela gestora Regina Perri.

História

Antes de ser Jump foi The Boulevard. E antes de ser The Boulevard foi End Up Bar Café. Todos estes, espaços criados Perri. The One Jump Dance Club nasceu em 1996, na avenida República do Líbano, como um espaço engajado no estilo clubber. Com um espaço físico mais aconchegante, menor e mais moderno, a Jump se alinhava a um momento “booming” mundial da diversidade: música, moda, arte, cultura e entretenimento em um único espaço.

A “Festa Bye Bula” inaugurou esta nova “era” em Goiânia e, rapidamente, o artista plástico Adriano Valadares, a DJ Simone Junqueira e o colunista Fausi Humberto deram a cara nova ao clube. “A casa fez tanto sucesso que levou à uma consagração pela mídia nacional, sendo mencionada como ‘Divisor de Águas da Noite do Centro Oeste’. A Jump Dance Club ficou conhecida nacional e internacionalmente por realizar a verdadeira inclusão social de diversidade, raça e gênero”, comenta Perri.

A casa abrigou, patrocinou, apoiou e exibiu a cena artística cultural da cidade, além de receber nomes como Nany People, Rogéria, Vera Fischer e uma gama de artistas e shows contratados. “Nesta era “clubber”, o importante era dançar e se vestir muito bem.

O carro chefe da casa era a música: os DJs Felipe Venâncio, Mauro Borges, Zé Pedro e muitos outros tocaram neste espaço. A fotografia, é claro, era primordial: muito Glamour, alegria, risada, mixologia, e um “junto e misturado” perfeito sempre registrado em fotografias”, relembra Perri se divertindo ao selecionar as imagens que vão compor a exposição da mostra.

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