Interação da poluição com os fios de cabelo e couro cabeludo diminui o trabalho de proteínas ligadas ao crescimento e fortificação dos fios
Os níveis de poluição atmosférica têm aumentado nos últimos anos, principalmente nas metrópoles e megalópoles e a maior preocupação é com relação ao material particulado, que tem sido associado a problemas respiratórios e câncer. Estima-se que a poluição do ar ambiente cause a morte de 4,2 milhões de pessoas por ano. No entanto, seus efeitos sobre a pele e os folículos capilares são menos conhecidos. “Agora, a exposição ao material particulado tem sido associada à perda de cabelo humano, pela primeira vez na pesquisa apresentada no último Congresso de Dermatologia em Madrid”, afirma a dermatologista e tricologista Dra. Kédima Nassif, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Associação Brasileira de Restauração Capilar.
Segundo a médica, o material particulado (MP) é uma mistura de pequenas partículas e gotículas líquidas compostas de uma ampla gama de ácidos, incluindo nitratos e sulfatos, produtos químicos orgânicos, metais e partículas de solo e poeira. “Essas partículas estão ligadas a vários problemas de saúde devido ao seu tamanho microscópico, o que lhes permite entrar facilmente nos pulmões e causar danos tanto aos próprios pulmões quanto ao coração. O material particulado é dividido em duas categorias: PM10 e PM2.5. PM10 refere-se a partículas com diâmetro de 10 micrômetros ou menos, e PM2.5 refere-se a partículas com diâmetro de 2,5 micrômetros ou menor”, afirma a dermatologista.
A nova pesquisa utilizou células do couro cabeludo humano encontradas na base dos folículos capilares (conhecidas como células da papila dérmica do folículo humano, ou HFDPCs), que foram expostas a uma série de concentrações de partículas de diesel e poeira semelhantes à PM10. “Após um período de 24 horas, os pesquisadores usaram uma técnica de laboratório na qual moléculas específicas de proteínas podem ser identificadas em uma complexa mistura de diferentes proteínas. Após realizar a transferência de Western, os resultados mostraram que o PM10 e o material particulado de diesel diminuíram os níveis de β-catenina, uma proteína responsável por incentivar o crescimento e a morfogênese do cabelo, o processo biológico que dá ao organismo sua forma através da célula, tecido e diferenciação de órgãos”, diz a médica.
As proteínas ciclina D1, ciclina E e CDK2, todas responsáveis pelo crescimento e retenção de cabelos, também foram diminuídas pelo pó de PM10 e pelo particulado de diesel. “Os pesquisadores descobriram que quanto mais altos os níveis de poluição, menores os níveis de proteínas no cabelo. As fontes de material particulado são amplas e derivam de áreas às quais as pessoas são frequentemente expostas, às vezes diariamente. Essas fontes podem incluir vapores de gasolina e diesel, mineração, construção, fabricação de cimento, cerâmica e tijolos, e através da queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e biomassa”, explica a médica. Os danos à pele podem ser observados no envelhecimento prematuro, descoloração e ressecamento, enquanto os danos ao cabelo pela exposição à poluição podem ser observados na queda de cabelo.
Outro estudo realizado no ano passado descobriu que a poluição pode causar aumento da sensibilidade no couro cabeludo, levando a coceira, caspa, excesso de oleosidade e raízes capilares dolorosas. “Todos esses sintomas podem levar ao aumento da queda de cabelo, seja por coçar ou pela irritação causada pelos poluentes transportados pelo ar”, diz a médica.
Para ajudar a manter os cabelos e o couro cabeludo limpos do excesso de poluição, a Dra. Kédima Nassif recomendou manter uma boa higiene dos cabelos lavando-os regularmente. “Outros métodos incluem manter-se hidratado, usar óleos que formam filme sobre o fio protegendo contra agressões externas, além do uso de chapéus e usar máscaras de hidratação profunda uma vez por semana”, finaliza a médica.