Por Fernando Rizzatti
Se houve um tema em alta em 2020 no universo corporativo foi a transformação digital. Diante das novas regras impostas pela pandemia, empresas de todos os portes e segmentos precisaram se adaptar e encontrar novas formas de sobreviver. A tecnologia foi a única solução para a maioria delas.
Nesse contexto, a transformação digital assumiu o protagonismo. A pandemia não mandou “recados”; não deu tempo para que ninguém se preparasse. Ela chegou repentinamente e se instalou, demandando medidas de contingência para que as empresas continuassem operando. As vendas por sites, redes sociais ou mesmo por aplicativos de mensagens, simplesmente explodiram.
De uma forma ou de outra, todos foram afetados. Uns mais, outros menos. No caso de empresas aéreas e de turismo, o impacto foi enorme. Por outro lado, e-commerces ou lojas virtuais em geral, tiveram um grande crescimento em número de vendas e faturamento. Contudo, os problemas cresceram na mesma proporção. Dificuldades com o pós-venda, como a não disponibilidade do produto vendido em estoque ou o não cumprimento do prazo de entrega, ficaram entre as maiores reclamações.
Tudo isso aconteceu devido a três grandes fatores: a falta de planejamento estratégico, de investimento adequado e de tempo para uma correta implementação das soluções digitais. A transformação digital exige planejamento – e muito, por sinal. É preciso dispor de uma equipe especializada e bem formada, começando pela direção das empresas, que precisa entender o que é o digital, das suas exigências fundamentais até a ponta do processo, com desenvolvedores bem formados sobre as plataformas atuais de desenvolvimento. Vale destacar que quase todo dia surge uma nova plataforma que acaba revolucionando esse segmento, o que exige constante e frequente adaptação.
O investimento é outro fator que compromete os bons resultados. Mais de 90% das empresas brasileiras são pequenas e médias, dispondo de poucos recursos para tecnologia. Além disso, aquelas que nasceram há mais de cinco anos foram desenvolvidas em um mundo que praticamente não existe mais. Muita coisa mudou nos últimos anos. Muitas dessas empresas possuem seus sistemas transacionais e de gestão automatizados, mas esses sistemas, em sua enorme maioria, não estão prontos para trabalhar no mundo da internet e, sua adequação é algo que exige, em alguns casos, investimento e tempo significativos – o que para as PMEs é um enorme problema, já que elas não dispõem de orçamento e equipe técnica para conduzir as ações propostas pela transformação digital.
Somado a isso, o tempo foi outra barreira enorme, visto que tudo teve que ser feito às pressas. Normalmente, a adequação da realidade sistêmica das empresas exige prazos que ultrapassam um ano de desenvolvimento, gerando enormes impactos na implementação de soluções exigidas pela transformação digital. Ou seja, sem planejamento estratégico, investimentos adequados e tempo suficiente para implementar e testar soluções digitais, muitas empresas acabaram sendo duramente prejudicas nesse contexto.
E esse prejuízo não ficou restrito apenas às PMEs. Até os bancos, que a princípio dispõe de orçamentos, equipe e tempo, tem perdido espaço significativo para as fintechs. Elas propõem a venda de produtos e/ou serviços que resolvem de forma ágil e rápida as necessidades pontuais dos clientes. A competição com essas startups é complicada porque a infraestrutura dos sistemas operacionais dos bancos é antiga e precisa de muita adequação para poder oferecer o mesmo que as fintechs oferecem.
De modo geral, o que 2020 mostrou para empresas de todos os portes e segmentos é que a transformação digital é um caminho sem volta. As empresas que, daqui para frente, resistirem à sua real implementação, devem enfrentar sérios problemas que podem, inclusive, comprometer sua existência. É melhor não pagar para ver.