Woody Allen se descreve como alguém que engana pela aparência e pelo trabalho. Não se considera intelectual e muito menos artista – mesmo que seus filmes sejam considerados, por muitos, obras de arte. O fato é que o diretor fértil em idéias e seus filmes têm diálogos inteligentes e situações impagáveis, principalmente nos filmes de começo de carreira. Allen, que abre o Festival de Cannes deste ano com sua mais nova produção, Meia-noite em Paris, contou ao jornal britânico The Guardian os livros que mais tiveram impacto sobre sua vida e obra. Para nossa (boa) surpresa, Machado de Assis está entre eles. Entrando em uma livraria, guarde algumas das recomendações do diretor.
O Apanhador no Campo de Centeio – J.D Salinger, 1951
Clássico absoluto do autor – que ficou recluso quatro décadas após o sucesso da obra -, conta a historia, as reflexões e as decepções juvenis de Holden Caulfield. O tom da narrativa, digamos, tem muito a ver com o humor (e mau-humor) de Woody Allen. Sobre o livro ele explicou: “O Apanhador no Campo de Centeio é puro prazer e diversão para mim. Durante uma época em que leitura soava como obrigação, li este livro que ficou nas minhas fantasias sobre a cidade de Manhattan, o Upper East Side e Nova York em geral.”
Really the Blues – Mezz Mezzrow e Bernard Wolfe, 1946
A obra explora a cultura negra através dos olhos de um garoto branco que começa a aprender a tocar clarineta e se apaixona pelo jazz. Tudo a ver com o lado B (músico, muitas vezes A) de Allen, como o próprio disse: “Não acho que este livro seja muito bom, mas para mim foi importante porque o li quando a minha paixão pelo jazz estava se formando, já que eu estava aprendendo a ser um clarinetista de jazz.”
Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis,1880
Uma das pérolas da literatura brasileira dispensa extensa apresentação. Machado de Assis conquistou Woody Allen por seu humor, ironia e pessimismo na voz de Brás Cubas, o falecido narrador. “Ganhei de um brasileiro que me enviou e escreveu: ‘Você vai gostar de ler isso’. Como o livro era fino, eu li. Assim como O Apanhador no Campo de Centeio, tocou um sino dentro de mim! Também fiquei encantado com a originalidade desta história, que, de tão moderna, poderia ter sido escrita ontem e não há tanto tempo.”
The World of SJ Parelman – SJ Perelman, 2000
O livro reúne registros que satirizam as pretensões e futilidades da cultura popular americana, marca registrada do humorista, autor e roteirista que ficou famoso principalmente por seus textos para a revista The New Yorker . Sobre Perelman, Woody descreveu: “A pessoa mais engraçada que já conheci – seja em televisão, teatro, stand up ou no cinema – foi SJ Perelman. Quem, assim como eu, cresceu com seu humor, é impossível evitar sua influência. Ele tinha um estilo muito forte e criativo.”
Elia Kazan: A Biography – Richard Schickel, 2005
Nessa biografia o autor – e também amigo próximo de Kazan -, retoma as principais realizações artísticas do cineasta e diretor do pós-guerra. Responsável por dezenove filmes (muitos clássicos), ele colocou a história americana como um elemento importante e ativo nos enredos, como em Sindicato de Ladrões, de 1954, uma das mais significativas de suas obras. “É o melhor livro de show business que já li. Livros deste tipo normalmente não valem à pena, mas esse foi muito significativo para mim, porque me ajudou na época em que eu estava me tornando um cineasta. Schickel escreve com muita propriedade sobre o assunto.”