Uma metamorfose ambulante no cerrado goiano

Marco Antonini – “Não vivo de sonhos, nem os tenho”
Por Geovane Gomes
Pense nas performances de Ney Matogrosso, junte-as à irreverência de Rita Lee e adicione um pouco da ousadia da banda Duran Duran. Pronto, você já tem noção de quem é Marco Antonini. Sem medo de dizer o que pensa, ele é um roqueiro que luta por um espaço em um campo dominado por sertanejos. O bom humor não revela, mas Marco aprendeu a viver com os tombos que a vida lhe deu, talvez por isso hoje se contente com tão pouco. Intenso, ele não vive de sonhos, não quer voltar ao passado e tampouco pensar que exista futuro. Para ele, tudo tem de ser vivido hoje e agora. Tão presente em si, a música e os amigos foram quem o ajudaram quando enfrentou uma forte depressão. Mas nada é capaz de tirar a alegria deste goiano que há 20 anos defende com garra o pop rock produzido no Estado. Agora leia cada frase com um sorriso no rosto, pois foi assim durante toda a entrevista de Marco Antonini.
Nome completo: Marco Antonini Ferrero.
Nascido em: Catalão – Goiás.
Profissão: Músico, cantor e intérprete, cafajeste, brega, chique e muito bem-humorado.
Formação acadêmica: Comunicação Social Rádio e Televisão (GO), Marketing e Jornalismo (USP).
Desde quando você percebeu que teria talento para a música? Quem mais o apoiou?
Eu nunca disse, pensei ou achei que tenho talento para a música. Eu sou mais teimoso e corajoso do que talentoso. Mas em 1974, quando vi pela primeira vez Rita Lee e a última apresentação ao vivo dos Secos e Molhados, na despedida deles no Fantástico, senti uma mistura de susto, espanto, perplexidade, e congelei na hora. Fiquei fascinado de tal forma com a figura do Ney Matogrosso que, para espanto e perplexidade da minha família, que assistia comigo, falei: “É isso que quero fazer na minha vida.” Daí para frente comecei a imitar e cantar nas festas da escola ou em qualquer lugar em que tivesse oportunidade, e fazia todos os trejeitos e danças do Ney. Pensa o quanto sofri com os xingamentos e toda a tiração de sarro da minha cara! Eu tinha os piores apelidos possíveis, mas não estava nem ai para eles. Nunca tive apoio e carinho e tudo que fiz foi com meu próprio esforço. Meu pai faleceu quando eu ainda era criança, e minha mãe, devido às ameaças de morte sofridas pelo meu pai, saiu da cidade e só vim a reencontrá-la aos 17 anos.
Você chegou a cursar Jornalismo, mas o seu destaque veio na música. Por que a escolha pelo curso de Jornalismo? Em algum momento você pensou em largar a música para viver dessa profissão?
Eu queria fazer um curso universitário, pois sou superativo e odeio ficar parado, mas jamais poderia fazer faculdade particular, não tinha como pagar. Durante as manhãs, eu não fazia nada, daí resolvi estudar, mas queria uma profissão moderna que me ajudasse na música. Dentre todas as profissões, a Comunicação, além de ser na Universidade Federal, é a mais próxima e a que mais auxilia um artista, no caso um cantor como eu. Isso também ocorreu quando me mudei para São Paulo. Para ocupar o tempo, resolvi fazer Marketing e Jornalismo. Mas não tenho vontade de ser jornalista, sou preguiçoso e essas coisas exigem que você seja responsável e entregue matérias e afins a tempo.
Goiás é o celeiro da música sertaneja, e você há 20 anos caminha na contramão. Esse estereótipo de que goiano só gosta de sertanejo atrapalha o seu trabalho? Não pensou na possibilidade de também atuar nesse ramo?
Dizem que é louco quem toca guitarra em terra de sertanejo, eu sou só mais um destes loucos. Jamais você me veria cantar ou compor música sertaneja, odeio de coração. Às vezes ouço em festas de amigos ou coisas assim, afinal, somos obrigados a ouvir desde que aceitemos o convite de ir à casa de fulano. Mas nunca comprei e nem nunca comprarei um CD de música sertaneja, tampouco DVD, acho todos iguais e chatos. Assim como talvez eles também me achem, mas pouco me interessa a opinião deles ou seja lá de quem for. A única que gosto é a de raiz: Pena Branca e Xavantinho, Tonico e Tinoco. O resto virou uma música pop da pior qualidade, que a cada dia inventa uma nova linguagem que juro que não entendo, porém respeito. Não ouço, não vejo e nem quero saber.
Você tem um estilo muito ousado de se vestir, e essa ousadia às vezes é levada para o palco. Você se preocupa com a imagem que é passada para o público?
Sempre gostei de estilo e não de moda, faz parte do meu dia a dia, eu sou assim, não é uma personagem. Eu mesmo faço minhas camisetas, meus figurinos, minhas roupas cotidianas. Gosto de estilos meio que misturados, coisas como hippie, anos 70, black, street, e, claro, o glam, que é onde entro. Sempre tive uma queda pelo que é chocante e nos deixa perplexos. Duran Duran é New Romantic e super Glam, bem vestidos, maquiados, cabelos armados, ternos impecáveis, foi onde me achei enquanto músico. Mas não me importo nem um pouco com a imagem passada.
Em 20 anos de carreira, com certeza você já viveu muitas histórias no palco e fora dele. Conte um fato que o tenha marcado, seja ele divertido, constrangedor… algo inesperado.
Antes eu corria pelo palco feito um louco, parecia um professor de aeróbica. Depois dos quatro acidentes no palco que romperam meus ligamentos dos joelhos e sete cirurgias, hoje vivo com 42 pinos de titanium no corpo e já não posso me movimentar tanto. Daí me concentrei na voz e comecei a cantar de verdade. Isso sim a vida me ensinou a duras penas, pois no primeiro acidente perdi meu contrato com a gravadora, perdi uma tour de 54 shows, todas as programações de divulgação do disco, perdi minha casa em São Paulo, meus empresários, fiquei um ano sem andar. Fui ao chão total. Tive depressão profunda, pânico.
Parafraseando uma música de Capital Inicial, nos responda: O que você queria fazer se ninguém pudesse vê-lo?
O que eu gosto de fazer tem que ter muita gente olhando e ouvindo: é minha música, e ela só tem sentido se existem pessoas para ver e ouvir. Amo fazer o que faço.
Qual o grande sonho que você ainda não realizou?
Não vivo de sonhos, nem os tenho. Tudo o que quero, eu faço, e onde eu quis ir, já fui. Já vi todos os shows de todos os artistas e bandas que eu queria ver, conheço quase o mundo todo, falo quatro línguas, vou à luta, consigo. Sou guerreiro. Não me arrependo de nada e nem tenho nada a esconder. Vivo o meu sonho no dia a dia e muito bem acordado.
Se pudesse voltar ao passado para consertar algo, o que seria?
Não sou nostálgico e não tenho saudades do que já foi. “Esqueça os mortos, eles não levantam mais, mas tenha respeito.” Ontem já foi, amanhã não existe, eu vivo o agora.
Em poucas palavras, fale sobre:
Liberdade: Liberdade é ser sexy, acho isso o máximo.
Palco: Minha casa
Medo: Não tenho medo de nada e nem de ninguém; sou temente, no sentido de ter fé, em Deus.
Fama: Não sei o que é isso, não falo do que não sei.

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