Por Diógenes Moura
O fotógrafo argentino Marcelo Brodsky construiu um ensaio fotográfico a partir de ausências tão próximas quanto ele mesmo, o desaparecimento do seu irmão Fernando, do seu amigo Martín, dos amigos dos seus amigos, dos que ele já tinha ouvido falar, dos que ele nunca ouviu falar e mesmo não conhecendo eram tão próximos de uma mesma dor, de uma fenda que se abriu na vida e nas famílias de cada um dos desaparecidos, dessa amargura de um adeus nunca revelado: “BuenaMemoria” é um documento sobre a ditadura militar na Argentina e em todas as outras partes do mundo onde o sistema político atiçou (e ainda atiça) as suas garras.
Com fotografias de família e retratos dos colegas de turma do Colégio Nacional de Buenos Aires, o artista reescreveu uma identidade perdida a partir das imagens dos que estão vivos, para localizaar em algum lugar do passado, a sua própria história e, nesse caso, tratar sobre uma memória universal que não se perdeu e é definitiva para o hoje mundo “democrático” entender que não poderemos seguir adiante sem que todos esses nomes sejam repetidos, repetidos e repetidos como verdadeiramente o são no corpo vivo de “Buena Memoria”. Assim, teremos o retrato de um tempo. É esse tempo que Brodsky perpetua acompanhado pelas suas próprias palavras e pelas palavras de amigos que sabem o que significam até hoje aqueles anos de assassinatos, desaparecimentos, silêncio, mudez e morte anunciada.
Trata-se também de uma exposição sobre a literatura dessa ausência. Sobre a forma verídica de um acontecimento. Chega ao Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza num momento importante, o bicentenário das lutas de resistência na América Latina. “Buena Memoria” é, portanto, um livro aberto que poderá mudar a cada instante: Claudio, Martín, Fernando e todos os outros nomes desaparecidos vistos simbolicamente pelos alunos de hoje nas imagens da série Ponte daMemória. Refletidos nos rostos deles, os outros, nos mesmos, os que aqui ficamos para não esquecer, para nunca esquecer que o terrorismo foi assim: apagou de sua frente nomes e sobrenomes sem se importar com o trauma que apenas encontra sinônimo nos horrores da guerra.
Com fotografias de família e retratos dos colegas de turma do Colégio Nacional de Buenos Aires, o artista reescreveu uma identidade perdida a partir das imagens dos que estão vivos, para localizaar em algum lugar do passado, a sua própria história e, nesse caso, tratar sobre uma memória universal que não se perdeu e é definitiva para o hoje mundo “democrático” entender que não poderemos seguir adiante sem que todos esses nomes sejam repetidos, repetidos e repetidos como verdadeiramente o são no corpo vivo de “Buena Memoria”. Assim, teremos o retrato de um tempo. É esse tempo que Brodsky perpetua acompanhado pelas suas próprias palavras e pelas palavras de amigos que sabem o que significam até hoje aqueles anos de assassinatos, desaparecimentos, silêncio, mudez e morte anunciada.
Trata-se também de uma exposição sobre a literatura dessa ausência. Sobre a forma verídica de um acontecimento. Chega ao Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza num momento importante, o bicentenário das lutas de resistência na América Latina. “Buena Memoria” é, portanto, um livro aberto que poderá mudar a cada instante: Claudio, Martín, Fernando e todos os outros nomes desaparecidos vistos simbolicamente pelos alunos de hoje nas imagens da série Ponte daMemória. Refletidos nos rostos deles, os outros, nos mesmos, os que aqui ficamos para não esquecer, para nunca esquecer que o terrorismo foi assim: apagou de sua frente nomes e sobrenomes sem se importar com o trauma que apenas encontra sinônimo nos horrores da guerra.
“Buena Memoria” reconstrói Marcelo Brodsky para si mesmo. Traz de volta (sim, sabemos que isso não é possível) o seu amigo Martín quando os dois queriam ser fotógrafos. Traz de volta seu irmão Fernando, numa foto feita por Sara, a mãe dos dois. Uma única fotografia do filho que não voltou, sentado num teatro vazio. Apenas (e tudo) isso. Não será jamais uma fotografia muda. Traz para diante de nós o retrato 3 x 4 de Claudio onde ele olha e pensa que os “fins justificam os meios”, e traz ele mesmo, Brodsky, num navio, ao lado de seu irmão sobre as águas marrons do rio da Prata (“permanecemos em um lugar desconhecido”) onde os corpos eram atirados e onde hoje, em Buenos Aires, está instalado o Parque da Memória. É lá, naquele espaço onde a emoção perde o nome, que justamente estão inscritos os nomes de quase todos os desaparecidos. Ao trazer para os nossos olhos a própria história de Marcelo Brodsky irmanada à história de muitas outras famílias, “Buena Memoria” cruza o espaço da vida com o que a vida, a palavra, a memória e a fotografia têm de mais extraordinário: ir do ontem ao muito além.