De um Mundo ao Outro Pierre Verger nos anos 30 fica em cartaz até 18 de outubro no Palacete das Artes Rodin Bahia
O Palacete das Artes Rodin Bahia virou um labirinto que envolve o visitante para contar a trajetória da iniciação do olhar de Pierre Fatumbi Verger, o fotógrafo e antropólogo francês que é, segundo palavras de Irène Kirsch, adida de Cooperação Cultural da França na Bahia, um patrimônio cultural baiano, a própria encarnação do Ano da França no Brasil. A exposição De um Mundo ao Outro Pierre Verger nos anos 30 modificou, pela primeira vez, o uso do espaço do Palacete para descrever o ambiente cultural-artístico vivido por Verger nos anos 30 e como ele influenciou a carreira do fotógrafo que começou, nesta época, suas andanças pelo mundo.
A mostra ficará aberta até 18 de outubro, mesmo período em que serão apresentadas, na Aliança Francesa de Salvador, algumas fotografias de Paris feitas por Pierre Verger especialmente para a Exposição Universal de 1937. O Palacete das Artes Rodin Bahia e o Ano da França no Brasil já têm um laço natural em função do comodato que colocará a partir do dia 28 de outubro à disposição do público baiano 62 obras do referencial escultor francês, afirmou o artista plástico e diretor do palacete, Murilo Ribeiro, em referência à vinda de esculturas de Rodin para formar o acervo do museu em Salvador. Verger é o mais brasileiro de todos os franceses, afirmou, lembrando o período que o fotógrafo viveu no Brasil. É importante para o Palacete abrigar uma mostra tão importante para a leitura e compreensão da obra de Verger.
Esta exposição traz as influências estéticas de Verger, o que o olhar dele tinha de originário da França, do seu contexto cultural, declarou Cláudia Possa, a curadora da mostra, que reúne 180 fotos, 30 documentos originais, 11 reproduções grande formato, do período entre 1930 e 1937, antes de Verger começar a viajar pelo mundo. A exposição também exibe um audiovisual, com excertos de entrevistas do fotógrafo. Esta exposição é importante para se ter a compreensão do que eu chamo toque Verger de perceber a realidade, de um artista que trilhou um caminho único, como suas obras, acrescentou a pesquisadora, que fez seu doutorado sobre o fotógrafo e antropólogo francês.
Possa dividiu a curadoria com Alex Baradel, que conta ter sido provocado pelo Ano da França no Brasil para fazer a mostra De um Mundo ao Outro Pierre Verger nos anos 30. Verger é conhecido pelo que fez viajando. Nós nos centramos no início de sua mudança de vida, quando ele deixa de ser burguês para ser viajante, explicou o co-curador. É o seu processo de mudança, de 1930 a 1938, quando ainda vive em Paris, antes de deixar a capital francesa para nunca mais voltar.
Ainda de acordo com Alex, os cinco ambientes da exposição, De um Mundo ao Outro Pierre Verger nos anos 30 contextualizam a época histórica do entre-guerras e o fervilhamento cultural no qual estavam envolvidos Verger e o grupo de fotógrafos com quem partilhava experiências e olhares. Aqui está e o substrato da época em que ele forjou sua visão etnográfica do mundo.
A exposição é fruto de uma exaustiva pesquisa que durou um ano e que recria para o visitante os elementos que modificaram a visão de mundo e de si mesmo do fotógrafo que se rebatizou Fatumbi. Esta intenção se nota desde o primeiro ambiente de entrada, em que não há fotos de Verger e sim do ar de sua época e dos amigos com os quais compartilhava experiências; passando por um recorrido pelas revistas e periódicos da época, que publicaram suas fotos de viagens; até uma visita guiada por Verger às colônias francesas da época, como Polinésia, Taiti e partes da África, às quais visitou e documentou não só por fotos, mas pelas legendas e por um raro caderno de notas, que foi encontrado e está exibido.
É uma exposição muito didática, elogiou o diretor geral do Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia (IPAC), Frederico Mendonça. Já nos recebe situando o contexto no qual Verger começou e, em seu desenrolar, fica forte a percepção do caminho que ele percorreu até chegar na Bahia, pondera. Verger é um personagem fundamental para se entender o olhar francês sobre o Brasil e o mundo, e esta exposição é bastante minuciosa e cuidadosa neste percurso de valorização e compreensão da nossa cultura a partir de um olhar estrangeiro, que foi se forjando em franco-brasileiro, completou.
Gilberto Sá, presidente da Fundação Pierre Verger, ressaltou a importância do Ano da França no Brasil para o intercâmbio e estreitamento de laços entre culturas. É uma característica fundamental de nossa instituição apoiar a arte e a cultura franco-brasileiras. E participar da exposição de um francês que viveu na Bahia ou um baiano que nasceu na França, que é muito mais o caso de Verger , chancelada por este evento binacional vale muito a pena, afirmou o presidente da fundação que disponibilizou parte do acervo para esta exposição.
Pelas viagens, pelo mergulho no exterior, Verger conheceu-se a si próprio, destacou a socióloga Maria Palácios, presente na abertura da exposição. É nesta fase aqui retratada, dos anos 30, que ele desenvolveu o olhar etnológico, de olhar as outras culturas e aprender com elas.
Verger é a própria encarnação do Ano da França no Brasil, entusiasmou-se Irène Kirsch. Nele, o intercâmbio cultural existe, é uma realidade, ele fez a sua vida em cima deste conceito. Irène também destacou a adoção da Bahia por Verger e de Verger pela Bahia. Pierre Verger é daqui, não é mais da França ele é um patrimônio de vocês, emendou.
A exposição é produzida pela Capim Rosa Chá. É uma realização do Palacete das Artes Rodin Bahia juntamente com a Fundação Pierre Verger, CulturesFrance, Aliança Francesa de Salvador e Secretaria de Cultura da Bahia.
Serviço:
De um Mundo ao Outro Pierre Verger nos anos 30
De 16 de setembro a 18 de outubro
Palacete das Artes Rodin Bahia
Endereço: Rua da Graça, 292 Salvador
De terça a domingo, das 10h às 18h
Entrada gratuita
