Os galos soltam o verbo

Leo Pereira e Renato Monteiro estão por trás de boa parte das grandes campanhas eleitorais realizadas em Goiás nos últimos 20 anos. Uma delas mudou os rumos da política no Estado: a da “Panelinha” e do “Tempo Novo”, que levou Marconi Perillo ao governo do Estado em 1998. E fez tanto sucesso que foi copiada até em outros Estados. Ajudaram a eleger também Pedro Wilson em 2000, além de deputados e vereadores. E é por esta experiência deles na área que a Zelo convidou-os para um bate-papo sobre as próximas eleições em Goiânia. O encontro aconteceu na Livraria Nobel, na Avenida República do Líbano, onde, em anexo, funciona também o República do Café. Eles estão separados há mais de cinco anos, mas logo na chegada deu para perceber o quanto a imagem dos dois ficou associada depois de mais de duas décadas de parceria. “Estão juntos novamente?”, perguntou surpreso o coordenador da Câmara Técnica da Seplan (Secretaria de Planejamento Municipal de Goiânia), Sandro Rezende, que estava no local. Depois de dar as devidas explicações a Sandro, eles contam que ainda carregam o estigma de dupla, apesar de mais de cinco anos de separação.Justamente por causa dessa confusão, houve até uma resistência inicial quando a proposta lhes foi apresentada. “Levamos 500 anos para nos separar e agora você vem querer nos juntar novamente”, brincou Leo. A proposta inicial de ambos foi que cada um fosse entrevistado individualmente. “Já falam que a separação foi estratégia nossa para conseguir mais campanhas. Isso vai piorar as coisas”, comentou Renato. Mas viram também que seria mais uma oportunidade para deixar claro que estão separados de vez. A conversa rendeu boas análises sobre política e campanhas. É claro que não abrem o jogo totalmente sobre estratégias que podem usar no caso de trabalharem com algum candidato. Mas mostram alguns caminhos que poderiam ser trilhados. Eles falam também sobre a aliança PT/PMDB. Sobre isso, podem opinar com propriedade. Afinal, ambos foram petistas apaixonados e ajudaram a construir o partido no Estado. Leo continua fiel às suas origens políticas. Já Renato não tem mais ligações partidárias. Como publicitários, cada um segue o próprio caminho. Leo com a Agência Verbo, onde desenvolve projetos em publicidade, cultura e até moda. Ele e sua mulher, Licinha de Paula, que também é diretora de redação da agência, criaram a grife Caligrafia. O slogan já diz tudo: “Moda e expressão do Cerrado”. A proposta é unir os conceitos de moda e cultura, num trabalho que mistura artes plásticas, grafite e a criação de bordadeiras de Jussara. A Verbo atende a chapa “Responsabilidade Renovada”, que concorre ao Conselho Regional de Medicina, e faz consultorias para a Prefeitura de Rondonópolis (MT) em comunicação social, esporte e cultura. Desde o semestre passado tem sido responsável também pelos comerciais do PT e do PMDB de Goiás. Quanto a Renato, completa cinco anos de sociedade com Shell Júnior na Cantagalo, com a proposta de atuar em propaganda de mercado e marketing político. Atendem Unimed, Buena Vista, Centro de Convenções, Óticas Brasil e Panela Má­gica. Eventualmente criam peças para empresas como Faculdade Cambury, na parte de vestibulares, Caixa Econômica Federal e Portobelo Construtora. Participaram das campanhas de Rubens Otoni em Anápolis, de Marconi Perillo para o Senado – na parte de TV e rádio – e de Alcides Rodrigues para o governo – com as peças de TV. Também desenvolvem projetos culturais, como a criação do projeto gráfico e a logomarca do Museu Frei Confalloni e Poteiro, e o apoio à realização de um documentário sobre Lindomar Castilho dirigido por Pedro Novaes. A seguir, leia trechos da conversa. A entrevista completa você confere no site da Zelo (www.zelodigital.com.br) ##

Dentro desse perfil de possíveis candidatos, quem vocês acham que seria um bom produto de marketing político para se trabalhar, quem seria o melhor nome para competir com Iris nas próximas eleições? Existiriam boas alternativas fora das pesquisas?Leo: Falar disso é complicado porque eu não tenho dados. Pesquisa é um ingrediente muito pequeno. Para fazer uma análise dessas eu teria que estar discutindo com os candidatos para ver o que eles estão pensando, para onde eles pretendem caminhar, para ver quem é que vai ter força mesmo. Então, assim, eu não tenho como falar quem vai ter força.Então vamos dar nomes aos bois: Sandes Júnior, Demóstenes Torres, Barbosa Neto, Raquel Teixeira, Giovane Felipe, qual deles teria mais chances na briga?Renato: Eu sou defensor da tese de ter uma candidatura única da base aliada.Candidatura única que seria de quem?Renato: Não vou chegar a um nome. Vou te dar apenas alguns ingredientes que eu penso, porque depende de uma série de fatores. Por exemplo, hoje eu tenho dúvidas se duas candidaturas não é me-­lhor do que uma única. Vou dar um exemplo: o Sandes. Ele hoje é importante porque é o único que tira, até agora, votos do Iris. Com o apoio do PT, o Iris subiu quase 10 pontos, 15 pontos. Então, tirar o Sandes da disputa agora, eu não sei se seria bom. Definido o candidato, quais argumentos, por exemplo, poderiam ser usados contra a administração de Iris numa campanha?Renato: Eu tenho um monte de palpites, mas não posso revelar. Claro, existem várias plataformas. A questão do transporte, do trânsito, saúde, dá para explorar também o campo da educação. Eu acho que tem uma série de coisas acontecendo, mas não dá para desprezar o Iris como adversário, ele está numa situação muito boa no quadro político, está sozinho, administra praticamente sozinho a cidade, existe uma ausência de administração estadual na vida do goiano e sobretudo do goianiense. O Pedro Wilson, quando inaugurava obras, o Marconi inaugurava paralelamente uma série de ou­­tras. Quer dizer, havia competição. Não há uma competição de administrações hoje. Então, quer dizer, o Iris goza de um momento ímpar.Você falou sobre os pontos positivos. A pergunta é o que pode ser usado numa campanha contra a administração do prefeito? Renato: O Iris é um político que até certo ponto deu certo, se reciclou do ponto de vista de comunicação, então ele goza de um momento muito favorável. Penso que estão demorando a achar uma candidatura para disputar com ele, mas acredito que, se for encontrado um nome razoável, tem muita coisa ainda para ser explorada, não só do ponto de vista da gestão, ou do modo dele fazer política, mas do próprio embate mesmo, porque o Iris está fazendo política, e dá para discutir a política que ele está fazendo.Leo: Eu prefiro não trabalhar nesse ponto, mas dizer o seguinte: acho que nós estamos num momento da sociedade brasileira que é de novos posicionamentos políticos. Acredito que a prerrogativa é essa. Mas ninguém tem prerrogativa para novos posicionamentos. Todos os políticos desse País podem e têm condições de se reposicionar. Do DEM, passando pelo PMDB, pelo PT, PSDB, indo ao PCdoB, ao PV, a todos os partidos. Eu acho que há um certo fechamento de ciclo dentro da nossa história. Então, penso que não é assim, em que pontos que você vai pegar no pé de alguém ou com que pontos você vai vencer alguém. A questão é quem vai conseguir conversar com esse psicológico, com essa mente coletiva dos brasileiros.E como seria essa conversa com o psicológico dos goianienses?

Leo: O que eu posso dizer é que essa conversa tem ingredientes de conjuntura internacional, de conjuntura nacional e de conjuntura local. São ingredientes que passam por debates de planos de governo, de posicionamento político, e que vão gerar um embate. Na minha opinião, não tem ninguém nem com muita vantagem e nem com pouca. Nós estamos numa eleição onde pode acontecer de tudo, vai depender de como os candidatos caminham por ela. Qualquer um que cometer um erro grave corre o risco de ter uma derrapada muito forte.Renato: Vou te dar um dado interessante dessas últimas pesquisas. O Iris tem muitas vantagens – e são muitas, não tem poucas não. Na última, com o apoio do PT, ele chegou a um patamar de 50 e poucos por cento, mas se olhar na espontânea, existe um percentual, parece que em torno de 66%, ainda esperando uma candidatura. Então eu acho a disputa interessantíssima, acho que essa eleição vai ser bem disputada. Se houver uma candidatura compe­ti­tiva com o Iris, se houver alinhamentos necessários e se houver um trabalho profissional mesmo em torno disso, acredito que tem um campo muito bom para ser explorado, diante de tantos fatores competitivos que o prefeito tem. Eu acho isso interessante também, tanto quanto a competitividade dele. Qual o perfil de um candidato que teria chances de derrotar o Íris? ##

Renato: Alguém com uma boa plataforma, que tenha autoridade, moral, integridade, com preparo e que espelhe isso. Alguém que tenha um mínimo de conhecimento com a população. Eu acho por exemplo que, se agora surgir um nome novo, pode ser que essa situação seja vantajosa, mas eu não vejo assim. Seria mais difícil porque você tem que fazer essas duas etapas. Diante de uma candidatura tão competitiva e popular como a do Íris, fazer esse nome ficar conhecido diante para depois torná-lo competitivo é uma tarefa bem mais difícil.

Alguns desses possíveis candidatos que aparecem nas pesquisas têm demonstrado que são ruins de voto em Goiânia. Não seria um prato cheio para Iris insistir neles, como aconteceu em 2004? Não seria melhor tentar outras alternativas?Renato. Não, tem de ser alguém, de preferência, que seja mais co­nhe­cido, porque agora o tempo está ficando curto, então a gente teria que atalhar esse período de tornar alguém conhecido para depois tornar ele competitivo. Teria de ser de preferência alguém que já tivesse um grau de conhecimento razoável. Ele já nos aliviaria um pouco de perder tempo com essa tarefa. Agora vamos ter que correr com a campanha. Ao que tudo indica, isso só vai ser definido mesmo a dedo em 30 de junho, que é o limite. Mas não poderia ocorrer algo parecido com 98, quando o Marconi surgiu do nada para derrotar o Iris?Renato: Não é parecido. Em 98, o Iris não estava no poder, ele era senador e estava querendo voltar a ser governador, não tinha máquina, ele não tinha prestação de conta. Hoje não, ele está saindo de uma administração, está mostrando o que está fazendo. Então, a competitividade dele aumentou, ele tem esse fator importantíssimo. Ele está dentro da máquina, está administrando, já está fazendo, não está propondo vir para fazer.
Agora vamos falar sobre os pontos que vocês poderiam usar a favor de Iris?Leo: Para definir isso é preciso escrever um planejamento de campanha. Eu acho que o Iris tem diferenciais, ele tem um partido forte como é o PMDB, e agora numa aliança com um partido forte como é o PT, partidos que estão ocupando um cenário local, nacional, que têm um projeto para o Estado, um projeto para o País, que têm um projeto para a cidade. Acredito que a força desse projeto apresentado é que talvez seja o elemento mais importante da campanha do Iris. Esse projeto tem que ser feito, não sou eu que faço, são os gestores políticos dos partidos, e esse projeto tem que ser bem comunicado, e aí entra a qualidade de um comunicador para fazer a campanha.Falando em orçamento, qual a verba mínima que um candidato a prefeito precisaria hoje para ter chances de se eleger? ##

Renato: Vou pegar a prestação de contas da última campanha para prefeito do Pedro Wilson e do Iris no segundo turno, o que está declarado. Na parte de comunicação, o Pedro gastou 4 milhões e pouco, e o Iris gastou 3 milhões Eu não sei a cifra exata, mas é em torno disso, um gastou 4 milhões e pouco, o outro gastou 3 milhões e pouco, é o que está lá. Comunicação entendendo produtor, agência e me parece que até pesquisa. Não estou falando em cabo eleitoral, alimentação, carro de som. Numa campanha competitiva hoje, o mínimo para a área de comunicação é em torno disso. Para a arrancada inicial seria no mí­nimo 3 milhões. Estou falando só na área de comunicação. Isto para uma campanha ser minimamente competitiva.Mas é possível ganhar com pouco dinheiro? Renato: É muito difícil. Se pegarmos, por exemplo, a campanha da sola do sapato, de Bittencourt, era uma câmera e um sapato na mão, mas não era uma campanha barata para aquela época. Se você for averiguar os custos, vai ver que tem um valor razoável. Eu estou citando-a porque era uma campanha simples. A gente vem de uma época em que quase todo mundo, mesmo quem tinha mais estrutura, fazia campanha sem pesquisas. Um ou outro candidato tinha acesso a elas. Hoje é bem mais difícil trabalhar assim, sem pesquisa, sem um planejamento mínimo e sem uma comunicação adequada com a utilização dessas ferramentas. Então a gente vem de uma época que era muito no tapa, no faro do candidato, no faro nosso de profissionais. Mas é meio desleal você tentar uma campanha assim, é muito arriscado confiar apenas na percepção.No caso do Marconi contra o Iris, ele não tinha tão pouca verba assim. Se comparado com o Iris, tinha bem menos, mas havia grana para trabalhar, concordam?

Renato: Claro. Do início ao fim, o Marconi tinha pesquisas na mão. Todos os programas nossos foram monitorados com qualitativa.Quem fez campanha com pouco dinheiro e ganhou aqui em Goiânia?Leo: A primeira do Darcy Accorsi. Ele ganhou, mas não levou. Renato: Pedro Wilson, em 88, quase virou a eleição, perdeu por 3% dos votos. A gente ficou sabendo que ele ia entrar na frente da Maria Valadão porque alguém vazou de São Paulo, no Datafolha. Eu achava que ele estava 6 pontos atrás, e alguém vazou essa informação para a gente. E teve aquela reviravolta toda. Se tivesse segundo turno naquela época, o Pedro tinha ganhado. Mas, infelizmente, não teve.E a política partidária. Vocês foram militantes dedicados do PT. Como está hoje a ligação de vocês com o partido? ##

Leo: Sou militante do PT, todo mundo sabe, nunca desfiliei. Mas ao mesmo tempo sou um profissional de campanha, então sempre trabalhei nas campanhas de forma profissional.Renato: Eu ajudei a fundar, a fundar não, eu entrei em 82, já estava fundado, então ajudei a construir o PT. Saí em 92, eu acho. Tive uma briga, era a época do Darcy. Saí e não voltei mais. Estou falando um pouco do meu lado de militante político. Em 94 entrei para o PV, fui presidente municipal do partido. Depois fui presidente estadual. De lá para cá, nem sei se estou filiado mais, me afastei, não tenho ne­nhuma militância.Acham que aliança com o PMDB é boa para o PT?Leo: Eu vejo a conjuntura de 2008 como uma conjuntura de alianças no País inteiro. O PMDB e o PT têm uma aliança nacional. O PT já fez vários tipos de alianças em Goiás, nunca fez apenas com o PMDB. Então, acho que essa aliança é extremamente natural para que o PT continue exercitando a sua condição de um partido que faz alianças, e que conduz o seu projeto político desde o seu nascedouro, com posicionamentos firmes, mas também com política de alianças.Renato: Não sou mais militante do PT, mas, se eu fosse, provavelmente teria trabalhado na tese contra aliança. Não por purismo, não porque ela é feia, ou ela é escória, eu não acho. Penso que a aliança é uma tática eleitoral como outra qualquer, que tem de ser previstos seus prós e seus contras, os acertos e os enganos. Como militante, eu a veria como uma tática equivocada. Por que equivocada?Renato: Por tudo, pela história do PT, pelo acúmulo e pelo capital que o partido conseguiu ter em Goiânia durante todos esses anos. Um partido que teve duas gestões, que quase ganhou uma em 85, que quase ga­nhou outra em 88, que praticamente sempre esteve no segundo turno, eu não desfaria desse capital de imediato agora, e não vejo isso dentro de um projeto para 2010. Acho que isso é muito mais um pretexto para discutir a eleição atual. Eu não colocaria todo esse capital nas mãos de um outro partido, sobretudo um partido como o PMDB, que teve muitas diferenças com o PT ao longo dos anos. Então eu faria parte de uma outra tese que não fosse essa de uma aliança já no primeiro turno, pois, repito, não vejo ela como uma aliança feia, nem escória. Acho normal, vejo como uma tática eleitoral. Como militante, eu seria contra, pois acho que o partido ganharia mais em ter uma candidatura própria, pelas suas candidaturas para vereador, e pelo seu capital político. Sobretudo, porque é um partido que saiu fragi­lizado da última eleição na disputa do Iris. Então acredito que precisava de um reposicionamento de imagem do partido…Quais foram esses erros do PT? ##

Renato: O Pedro Wilson fez uma boa administração, mas também teve equívocos de gestão, de condução interna política e teve um grande equívoco na comunicação, o partido comunicou-se mal. A meu ver, este foi o grande problema da gestão Pedro Wilson. Inclusive, também foi um pouco por causa da comunicação que ele perdeu a eleição. Acho que seria um momento de o partido se reposicionar frente ao eleitorado com a candidatura própria.Como profissional, como você analisaria esse quadro?Renato: Olhando com olhos mais de profissional que está no mercado, porque eu não sou militante do PT mais, eu vejo que essa aliança tem prós e contras para o PMDB e para o PT. Ela tem o seu lado favorável, e eles vão tentar explorar isso ao máximo durante a eleição, mas tem vários pontos negativos que eu não gostaria de abordar agora, e quem fizer uma campanha de oposição também vai poder explorar. Então, acho essa aliança no mínimo um pouco delicada, e acredito que ela tem de ser vista com essa delicadeza e com a sensibilidade necessária nesse momento.Como cidadãos, como goianienses, o que vocês acham que está faltando para a cidade, do que vocês sentem falta?Renato: Planejamento. Vejo essa cidade com ausência de planejamento. Eu acho que não tem uma visão do ponto de vista de seu urbanismo, uma visão moderna, uma visão de futuro. Penso que nós não temos uma gestão hoje, e o Giovane Felipe coloca isso bem no discurso dele. Nós temos talvez um gerente esperto, capaz, que tem feito um bom gerenciamento, mas nós temos hoje uma Goiânia sem planejamento. Não é só uma administração, aí também tem que pegar as outras gestões, que se perderam nessa questão, na falta de uma visão moderna, de uma cidade que possa ser sustentável, de uma cidade que possa antecipar problemas que outras capitais já tiveram, que nós, necessariamente, não vamos ter de ter. Eu sinto falta disso.Leo: Eu acho que Goiânia tem que dar sim novos passos, no sentido de se posicionar enquanto cidade estratégica para Goiás. E esses novos passos vão ser diferentes dos novos passos que todas as grandes cidades têm que dar. Eu acho que o que precisa mudar mesmo é o ritmo da lógica que o sistema capitalista impõe às grandes cidades, essa é uma discussão filosófica, uma discussão que pressupõe discutir novas políticas públicas, novas visões de como implementar políticas públicas, e é uma discussão que vai se dar, na minha opinião, a partir dessa eleição para os próximos 10 anos da sociedade brasileira, em todas as cidades, em todo o País. Quiçá não seja uma discussão de mundo porque os problemas que afetam Goiânia não são diferentes dos que afetam todas as grandes cidades, e não são diferentes dos fatores que afetam as pequenas cidades também, só que eles são avessos. E aí discutir isso é um processo muito longo. Eu, enquanto cidadão, me coloco nessa condição, de que Goiânia tem que se rediscutir sim, como têm que se rediscutir todas as cidades do nosso País.

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E a trajetória de vocês juntos. Que tal reconstituirmos isso um pouco?
Renato: No campo profissional eu e o Leo tivemos uma trajetória juntos, de fazer coisas, de veicular nosso trabalho. Nossa agência (a Verbo) era muito voltada para partidos, sindicatos. Depois tudo foi crescendo, nós a agência…
Leo: A gente se conhece há uns 28 anos. Trabalhamos juntos no teatro, fizemos o Pára-Choque do Diário da Manhã, é uma trajetória de relacionamento pessoal e profissional maior do que a de sociedade.
Renato: Você tira ai uns cinco anos que nós já estamos separados. Eu e o Leo tivemos em torno de vinte anos de atividades juntos, atividades intensas, escrevendo coluna de humor, o Pára-Choque, fazendo teatro, fazendo publicidade, o Leo é padrinho das minhas duas filhas, então é uma trajetória que foi um casamento mesmo e as pessoas misturam.

É verdade que as pessoas trocam os nomes de vocês?
Renato: É verdade. Eu até hoje chego em reunião e me chamam de Leo, confundem os nomes. Tem reunião que eu estou e me chamam de Leo. Aí tenho que explicar que eu sou o Renato. E ainda perguntam se estou na Verbo (risos). Algumas coisas foram até maldosas. Quando nos separamos foram publicadas notas em em jornal que diziam que eu e o Leo não tínhamos separados de fato, que era uma fachada, que a gente havia dividido a sociedade para poder ampliar os negócios, para poder pegar mais campanha.
E depois de tantos anos separados, qual o balanço que vocês fazem dessa sociedade?
Renato: O que fica disso aí é o respeito, eu acredito que mútuo. Nós temos nossas diferenças e elas são profundas, mas há um respeito mútuo. Essas diferenças são grandes até hoje…
As diferenças são grandes em relação a que, por exemplo?
Renato: Em tudo. Já eram com a separação e talvez agora isso tenha ficado um pouco mais notório. A gente sempre teve muito conflito, muitas divergências. De pensamento, de mundo, de colocar em prática as coisas. Num determinado momento funcionou bem esse contraditório, essa fórmula dos contrários, chegar numa síntese e conseguir fazer alguma coisa. Depois de um momento que nossas diferenças cresceram e a gente sentiu a necessidade de separar, então aí não teve mais porque continuarmos juntos. O Shell… O Léo… aí, eu confundo o Shell com ele também (risos) tem a agência dele que tem um foco, eu tenho a minha agência que tem um foco junto com o Shell. Hoje eu e o Leo somos basicamente concorrentes, mas fica o respeito do trabalho de cada um.
Se havia tantas diferenças, por que vocês ficaram tanto tempo juntos?
Leo: Uai porque ele é competente, se não fosse eu não tinha ficado (risos). Porque diferença nós sempre tivemos, muitas. Aliás quem conhece a gente sabe disso. Nossa relação foi de muitas visões diferenciadas, mas ao mesmo tempo também de muita competência para fazer o trabalho de ambas as partes, e de uma capacidade de implementação que eu acho que também é de ambas as partes. Então eu acho que foi isso que definiu a nossa sociedade. A gente viveu uma sociedade durante um longo tempo onde nós dois fazíamos a mesma coisa. E não é fácil ser sócio quando se faz a mesma coisa, quando você faz uma e seu sócio outra já é mais fácil, porque aí cada um tem suas tarefas. Em vários momentos, a gente fazia a mesma coisa, dividia a maioria das campanhas que fizemos juntos. Um dia um fechava, no outro dia outro fechava. A gente tinha muita visão diferenciada, mas ao mesmo tempo também muita unidade de visão, cada um confiava na qualidade de trabalho do outro. ##

Renato: O que colaborou para ficar essa marca que as pessoas às vezes tanto comentam e comentam mesmo, não é querendo ser estrela, é porque nós tivemos essa sorte, ralamos muitos anos juntos. Tivemos a sorte de fazer três campanhas extremamente populares, a do Pedro em 88, que só não ganhou porque não tinha segundo turno, a do Marconi em 98, e teve a virada do Pedro em 2000 também saindo do terceiro lugar e se tornando prefeito quando ninguém acreditava que ele era capaz. Quer dizer, foram duas campanhas que ganhamos de virada e outra quase ganhamos de virada. Isso te coloca conhecido no momento ímpar onde marketing político começou a ser discutido à exaustão, apareceram os gurus, os magos, o Duda Mendonça em plena campanha com o Lula. Antes do Lula, o Marketing político era uma coisa escondida, depois se popularizou demais, ganhou a grande mídia e a gente numa região como essa, vira “top” mesmo. Então é natural que as pessoas fiquem especulando.
Qual a campanha em parceria que vocês mais gostaram de fazer?Leo: A maioria dos trabalhos que fiz, eu gostei de fazer. Do ponto de vista da riqueza do trabalho, do ponto de vista daquilo que se conversou com a sociedade, foi a campanha de 2002 da Marina, onde eu consegui discutir com a sociedade a implantação de um projeto de desenvolvimento sustentável para o Estado. Mas na minha sociedade com o Renato, foi sem dúvida a campanha do Marconi, que é quando houve uma explosão profissional nossa. Renato: Há vários trabalhos. Dos trabalhos propriamente ditos vinculados com o Léo, eu gosto muito de ter feito o Pára-Choque (coluna de humor do Diário da Manhã) com ele durante três anos. Gosto muito da montagem de A Falecida, com direção de Sandro de Lima. Gosto muito das campanhas do Pedro em 88, da campanha do Marconi em 98, e a do Pedro em 2000. Gosto de outras também. Mas gosto muito dessas.
(Nesse momento, Leo se retira da entrevista devido a compromissos)
Renato: Dos trabalhos propriamente vinculados com Leo, gosto muito de ter feito com ele o Pára-Choque no Diário da Manhã durante três anos. Gosto muito da montagem da Falecida com direção do Sandro de Lima, das campanhas do Pedro em 88, do Marconi em 98, e gosto muito da campanha do Pedro em 2000. Gosto de outras também, mas gosto muito dessas.
E fora dessa parceria com o Leo, o que você destacaria?
Renato: Eu gosto por exemplo, da logomarca logomarca nacional que é hoje da Abrinq (Associação Brasileira de Brinquedos), que é minha e do Doril, que trabalhava na Stilus. Foi um concurso nacional, isso nos anos 80. A conta era da W/Brasil e por isso ela não podia participar e nós ganhamos nacionalmente. É a marquinha da bandeirinha do Brasil. Hoje está em tudo quanto é, produto brinquedo amigo da criança. Gosto muito também dessa Logomarca que eu e o Shell criamos recentemente para a Emgea (empresa criada para negociar contratos de habitação da Caixa Econômica Federal), para o “Ô de casa” (projeto que facilita negociação de dívidas), que eu acho uma logomarca simples, mas boa. E gosto de outras campanhas. Bom, nós, publicitários, gostamos muito do que estamos fazendo na atualidade. Nossa agência é uma agência jovem, pulsando. Estamos hoje entre as três, quatro agências mais premiadas aqui em Goiás.

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