Na manhã deste sábado (30/05), foi realizado mais um Fórum de Cinema na programação do Fica 2014. No Colégio Sant'Ana, o debate contou com a participação dos diretores Eryk Rocha e Beto Brant, e foi mediado pelo professor Lisandro Nogueira. Seguindo a temática da amplitude do cinema brasileiro, a conversa teve início de forma intimista. O primeiro a falar foi Beto, que levantou a questão da produção em massa em contraponto à qualidade de conteúdo. “Hoje é como se o mérito fosse todo da bilheteria”, disse ele. De acordo com o diretor, o que se vê atualmente é uma democratização técnica e uma hibernação do idealismo que era marca do cinema brasileiro dos anos 60, por exemplo. “A nova geração vem fazendo um cinema coletivo”, garantiu Brant. Nesse sentido, ele abordou a internet, que já permite que as pessoas produzam em grande escala, com câmeras de celulares até, e já divulguem na rede.
- Um dos filmes de Beto Brant muito citados no debate foi “O Invasor', de 2001.
Pela primeira vez em Goiás, Eryk Rocha, filho do saudoso diretor Glauber Rocha, deu início aos seus dizeres elogiando a proposta do Fica. “Vi ótimas produções que não teria a oportunidade se não fosse o festival”, disse ele. De acordo com Rocha um debate sobre o cinema brasileiro tem muitos ângulos, mas dois tem um imediatismo temático mais marcante: a dimensão política e a dimensão estética. “Existe uma urgência de se repensar o espaço social do cinema”, enfatiza. Ele destaca o fato das poucas salas de cinema pelo Brasil e da distribuição deficitária dos filmes brasileiros. Sua aposta seria em salas menores, com exibição digital e preços populares. “Num mundo de pessoas cada vez mais individualizadas, o cinema é uma forma de reunião muito importante”, pontua.
Eryk Rocha é graduado em Cinema e Televisão pela Escola de San Antonio de Los Baños, em Cuba
No debate, os diretores ainda lançaram mão de muitas comparações entre o cinema atual e o segmento nos anos 60. “Naquela época o cinema era uma arte absoluta”, explicou Eryk. Atualmente há uma aura de mediocridade imprega no mercado de cinema, sem as ideias de transformação de mundo que vigoravam em 60. Com as comédias sem conteúdo em alta, num nítida mostra de cinema meramente comercial, a parte artística não vem sendo mostrada. “O cinema é uma arte e uma indústria, o que não quer dizer que existe uma harmonia aí”, ponderou Eryk.
Nem tudo foram reclamações, claro, os profissionais ainda levantaram o resgate artesanal do cinema nos últimos anos, que mesmo com tecnologia de ponta, tem uma parte artesanal muito forte. O preço do ingresso no país também foi citado. “Nos anos 70 o ingresso custava o preço da passagem de ônibus', expôs Brant. Com um dos ingressos mais altos do mundo, o Brasil vem deixando a desejar nesse quesito, o que pode afastar o público. O Fórum deu chance do público fazer suas perguntas e seguiu para seu final com o agradecimento do professor Lisandro aos convidados.
Fotos: Reprodução/Itamar Assumpção