Artigo

Alice Galvão
  • Personagens do conto “A Bela e a Fera” (Foto: copyright Feld Entertainment)
Na semana passada, o programa Amor e Sexo, apresentado por Fernanda Lima na Rede Globo abordou dentre os temas, as implicações dos contos de fadas na formação das crianças. Regina Navarro Lins, psicanalista e jurada do programa declarou de pronto sua indignação com as mães que lêem estas histórias para suas filhas e filhos. Segundo ela, são narrativas que imprimem no subconsciente da criança valores machistas, que condicionam a felicidade da mulher ao surgimento salvador do príncipe encantado.
Mas até que ponto os contos são vilões? As princesas deste mundo fantástico e mágico surgiram em um recorte histórico de um mundo que viveu a realidade dos valores que ali aparecem de forma caricata. São fábulas que alegorizam recortes de tempo e espaço passando valores de forma oral, geração após geração, e culminando no triunfo do bem contra o mal, que é uma conclusão moral persistente até hoje. Vendo por este prisma e considerando que no subconsciente da criança ficam tanto as informações contadas quanto as vividas, parece justo que elas conheçam tanto o reino imaginário de Cinderela, quanto o de Shrek, armazenando diferentes pontos de vista e interpretando todas as informações em comparação com a sua própria realidade.
O espetáculo “Disney Live – Três Contos Clássicos”, que passou por Goiânia no início do mês foi uma excelente oportunidade de reflexão sobre o tema, principalmente do ponto de vista artístico do espetáculo. No palco, figurinos impecáveis, coreografias precisas, cenário versátil, efeitos sonoros e visuais encantadores. Na plateia, um conjunto de crianças hipnotizadas pelas personagens, que pareciam encarnar diretamente dos filmes da Disney. Graças à riqueza de detalhes na maquiagem de efeito, aliada às técnicas corporais e de clown dos atores, a madrasta de Cinderela com suas filhas Griselda e Anastácia, bem como Gaston, o pretendente de Bela em “A bela e a fera” arrancavam longas gargalhadas. Magia e encantamento estiveram presentes no Teatro Rio Vermelho e transportaram o público para um universo fabuloso, graças a recursos sinestésicos como fumaça, transparências, jogo de luzes e sombras, fogos de artifício e chuva de papel picado. De vez em quando as personagens dialogavam com as crianças da platéia, fazendo perguntas sobre a história, pedindo opinião sobre decisões a serem tomadas ou convocando a criançada a cantar junto o Bibbidi-Bobbidi-Boo (música-feitiço que a fada madrinha de Cinderela canta para realizar sua transformação de figurino). Como mestres de cerimônia, Mickey, Minnie, Donald e Pateta apresentavam as histórias e as faziam saltar de um livro “mágico”, posicionado em um dos cantos do palco.
A temporada de encantamento foi também uma oportunidade para alunos e internos da Vila São Cottolengo, crianças do Centro de Valorização da Mulher (Cevam), das creches Meninos Jesus de Praga, São Miguel Arcanjo e Grupo Pela Vidda terem seu primeiro contato com o teatro, graças ao projeto “Platéia Social”, realizado pelo Idtech. Este é apenas mais um sinal de que os Contos de Fadas têm e sempre terão seu lugar no universo infantil e que a transmissão dos valores morais é determinada não apenas pela história que é contada, mas também pelo contexto em que isso acontece.
Alice Galvão é jornalista, especialista em marketing e cantora.

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