
O câncer de pulmão continua sendo uma das neoplasias mais letais no Brasil e está entre os tipos com maior incidência. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) indicam que, entre 2023 e o início de 2025, foram registrados cerca de 704 mil novos casos de câncer por ano no país. Excluindo os casos de câncer de pele não melanoma, aproximadamente 483 mil diagnósticos foram de outros tipos de câncer — sendo 32 mil de pulmão, ficando atrás apenas dos tumores de mama, próstata e colorretal em número de ocorrências. Em 2023, a doença representou 7,5% dos casos novos em homens e 6,0% em mulheres.
Por isso, a campanha Agosto Branco — voltada à prevenção e ao diagnóstico precoce do câncer de pulmão — ganha ainda mais importância. Para o médico pneumologista Matheus Rabahi, do Hospital Mater Dei Goiânia, os números exigem atenção: “O cigarro continua sendo o principal responsável, ligado a cerca de 85% dos casos. Fumar, seja cigarro industrializado, de palha, narguilé ou eletrônico, expõe o pulmão a milhares de substâncias tóxicas e cancerígenas”, alerta.
Ele acrescenta que os sintomas iniciais muitas vezes são ignorados: “Tosse que não melhora, sangue no escarro, falta de ar que piora, dor no peito, rouquidão persistente e perda de peso devem levar a uma consulta médica imediata. Qualquer sintoma respiratório que dure mais de três semanas precisa ser investigado”.
Exame que salva vidas
O câncer de pulmão geralmente é identificado apenas em estágio avançado. No Brasil, apenas cerca de 15% dos casos são detectados em estágios iniciais potencialmente curáveis. “Um paciente de 62 anos relatou tosse contínua por seis meses, pensando que fosse bronquite. Quando finalmente procurou ajuda, o câncer já estava em fase avançada”, conta Matheus.
A tomografia de baixa dose surge como um exame eficaz e preventivo. Estudos internacionais mostram que o rastreamento anual com tomografia de baixa dose reduz em cerca de 20% as mortes por câncer de pulmão em pessoas de alto risco.
No Brasil, o exame é recomendado para pessoas fumantes com 50 anos ou mais, ou que tenham parado de fumar há até 15 anos. É indicado para quem não apresenta sintomas e poderia receber tratamento curativo se o câncer for detectado. O exame é rápido, indolor e utiliza pouca radiação.
O médico também alerta que fatores ambientais e ocupacionais podem aumentar o risco, como poluição, radônio, sílica, amianto, fumaça de fogão a lenha sem ventilação e exposição a solventes químicos. “Profissionais da construção, mineração e química precisam de atenção redobrada”, reforça.
Quanto aos avanços no tratamento, Rabahi destaca que hoje há exames de imagem de alta precisão, broncoscopia avançada, biópsias guiadas e testes genéticos do tumor para definir a melhor terapia.
“Existem imunoterapia e medicamentos personalizados que melhoraram a sobrevida e a qualidade de vida, mesmo nos casos mais avançados. Atendi uma paciente cujo tumor foi detectado precocemente em um rastreamento; ela fez cirurgia e está curada”, explica.
O tratamento exige abordagem multidisciplinar: o pneumologista monitora a evolução, o oncologista define a terapia medicamentosa, o cirurgião torácico atua nos casos operáveis e especialistas como fisioterapeutas e nutricionistas apoiam na recuperação e bem-estar do paciente.
Parar de fumar é o primeiro passo
O especialista do Hospital Mater Dei Goiânia lembra que abandonar o cigarro traz benefícios rápidos: “O risco começa a cair logo após parar de fumar. Em 15 a 20 anos, o risco se aproxima do de nunca fumantes, embora possa permanecer um pouco maior em ex-fumantes de alta carga”. Apoio psicológico e o uso de adesivos ou gomas de nicotina podem ajudar nessa jornada.
“O câncer de pulmão pode ser prevenido na maioria dos casos. Parar de fumar, evitar substâncias nocivas e realizar exames de rastreamento em grupos de risco salvam vidas. Cuidar do pulmão é cuidar do futuro!”, conclui.