As gêmeas siamesas Valentina e Eloá Prado dos Santos, de 3 anos, passaram por cirurgia de separação, em Goiânia, no Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), nesta quarta-feira (11/1). Elas nasceram unidas pela bacia, ou seja, pelo osso ísquio, e segundo o cirurgião Zacharias Calil, responsável pelo caso, as crianças dividiam os intestinos grosso e delgado, fígado e genitália. Elas seguem na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade.
“A cirurgia das gêmeas siamesas Valentina e Eloá foi um sucesso”, afirmou Calil. Para ele, o quadro de saúde das crianças está dentro do esperado. A operação demorou mais de 15 horas, com separação do fígado, intestino, sistema urinário, bexiga e parte óssea, além da reconstrução da genitália, abdômen e pele. A cirurgia foi a primeira deste perfil no Hecad. “É uma cirurgia muito complexa, com o corte da comunicação de sangue, pele e intestino, entre outros órgãos. Sempre podem acontecer intercorrências, contudo ocorreu tudo muito bem”, completou o médico.
Essa foi a vigésima segunda cirurgia de separação de siameses do profissional, que considerou o caso desafiador devido à complexa união dos dois intestinos. O médico destacou que, apesar de altamente complexa, a separação foi totalmente realizada pelo SUS. “Nos EUA, um procedimento como esse custa mais de um milhão de dólares. Aqui, se calcularmos os honorários médicos, estrutura hospitalar, medicamentos, materiais, equipamentos, entre outros gastos, não sairia por menos de R$ 1 milhão”.
Calil também lembrou que o Hecad é referência em assistência de alta complexidade com uma estrutura de ponta. “Falo com muita segurança que no Brasil não temos um hospital com essa qualidade. Estamos muito bem equipados, com o que existe de melhor em tecnologia e material de ponta que nenhum hospital particular em Goiás possui. Seis médicos voluntários, alguns vindos de outros estados, ajudaram na operação”, disse.
Alta complexidade
As meninas nasceram em Guararema (SP), mas a família se mudou para Morrinhos, no sul de Goiás, para ficar mais próxima da unidade de saúde, uma das poucas no país que realiza o procedimento de separação, considerado de alta complexidade. Elas estavam ligadas pela bacia, configurando um caso de gêmeas isquiópagas, classificado como um dos mais complexos da cirurgia pediátrica.
Desde 2021, Valentina e Eloá passaram por diversos atendimentos, sendo que todo o processo de separação tem três etapas. A primeira foi a colocação dos expansores – espécie de tecido que tem a função de estimular o crescimento da pele -, que aconteceu no ano passado. O segundo passo foi a própria cirurgia, e o último é o pós-operatório, momento muito importante para a recuperação das pacientes.