De acordo com pesquisa da Organização Mundial da Saúde realizada em 2020, o Brasil é o país com o maior número de casos de transtorno de ansiedade em todo o mundo, são 9,3%, e é o quinto em casos de depressão, com 5,8%. Com o cenário de pandemia ao longo do último ano e os seus efeitos emocionais e psicológicos, inúmeros efeitos relacionados à ansiedade tiveram aumentos expressivos, entre eles o refluxo, problema digestivo que está muito relacionado ao transtorno.
O que pouco se sabe é a relação direta entre o refluxo e sérios problemas odontológicos, como a erosão dentária, gengivite, ulceração da mucosa oral, hipersensibilidade, entre outros. “A erosão dentária é a doença mais prevalente, com incidência variando entre 2 a 77%, e esta variação é explicada por fatores como idade, gênero, etnia e fatores de risco populacionais”, garante a odontóloga Cláudia Martins, do Crool Centro Odontológico.
A especialista em próteses dentárias conta que os casos de erosão dos dentes têm aumentado nos últimos anos. “O estresse da vida moderna tem levado ao aumento da incidência de refluxo gastrointestinal e do apertamento ou bruxismo dental, consequentemente ao aumento da erosão dentária. A ingestão de bebidas industrializadas, que em geral são ácidas, leva também à erosão. Normalmente os indivíduos mais atingidos são homens de todas as idades, sendo que os estudos são controversos neste aspecto, devido à complexidade de fatores envolvidas na erosão dental”, afirma.
Drª Cláudia explica que alguns sinais e sintomas podem contribuir para que as pessoas notem a ocorrência de algum problema dentário proveniente do refluxo. “A erosão dentária pode ser notada pelo paciente com o aparecimento de lesões nos dentes, sendo na parte interna por refluxo ou na parte externa decorrente consumo de bebidas ácidas, algumas levando à destruição da coroa dental”, esclarece. Ela ainda acrescenta que pode haver hipersensibilidade dentária ou até dor, quando o desgaste expõe a polpa, ou nervo, do dente.
Entre os cuidados imprescindíveis para prevenção de lesões, estão a busca por métodos que aliviem o estresse e a ansiedade, conforme aponta a profissional. “Evitar a ingestão de bebidas ácidas, Observar a presença de alterações nos dentes por meio do autoexame e estar atento à existência de apertamento/bruxismo. E ao notar qualquer alteração, é preciso procurar o cirurgião-dentista”, alerta ela, que ainda orienta o uso de canudos ao ingerir bebidas ácidas, assim como aguardar pelo menos 30 minutos para escovar os dentes.
Hábitos que podem agravar o refluxo
Devido à pandemia, as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa e os hábitos mudaram. Com o home office, por exemplo, as pessoas possuem maior facilidade para descanso, principalmente após o almoço. É comum a pessoa almoçar e logo deitar para assistir televisão, navegar na internet ou, até mesmo, tirar um cochilo. O nutricionista do Sistema Hapvida, Igor Oliveira, explica para aqueles que já possuem refluxo, que esse comportamento pode aumentar a sensação de azia e queimação no estômago.
“Esse comportamento pode ocasionar no retorno dos ácidos e consequentemente o aumento da sensação de azia, queimação e tosse. Duas dicas importantes para quem come e vai descansar são: a primeira é não deitar após as refeições. E a segunda é, caso a pessoa precise deitar, que ela aguarde entre 40 minutos e 1 hora, e deite em um ângulo de pelo menos 45 graus. Seguindo essas dicas, com certeza o desconforto será bem menor”, explica.
A alimentação também faz toda a diferença para reduzir a inflamação causada pelo refluxo. Desde o início da pandemia, os pedidos de comida por aplicativo aumentaram, e a tendência de pedir alimentos ricos em gordura como pizzas e sanduíches, também aumentou. O nutricionista alerta para a importância de se evitar alimentos que potencializem os problemas gastroesofágicos, além de diminuir o volume das refeições.
“Os alimentos que geralmente causam desconforto para quem têm refluxo são: alimentos ricos em gordura como pizza, bacon, derivados lácteos mais gordurosos, carne vermelha, já que ela tem a digestão mais lenta e consequentemente faz com aumente a produção de ácido no estômago, cafeína, bebidas alcoólicas, bebidas gaseificadas, excesso de chocolates, alimentos que contem pimenta ou molhos picantes, entre outros. Além disso, é importante reduzir o volume de alimentos em cada refeição. As vezes a pessoa come uma carne branca, como o frango por exemplo, mas come em grande quantidade, o que pode aumentar a sensação de azia, queimação”, finaliza.