A pandemia trouxe grandes mudanças na rotina diária das pessoas e uma delas foi a adaptação ao home office. Quem estava acostumado com o ambiente confortável do escritório, rapidamente teve que improvisar um lugar para trabalhar em casa. Em muitos casos, a mesa de jantar, cama ou o sofá se tornaram este local, o que, em um primeiro momento, pode até parecer confortável, mas ao longo do dia, além de ser prejudicial a saúde, também pode reduzir a produtividade. “Posturas inadequadas diminuem a concentração e podem causar dores e/ou até lesões no futuro”, alerta o médico ortopedista Paulo Corá.
Durante as primeiras semanas do isolamento social essa mudança foi bem vista e funcionou. Porém, segundo um levantamento do Google Trends, a expressão ‘dor nas costas’ foi uma das mais buscadas no Brasil em abril de 2020. A dor nas costas causada pelo home office traz grandes incômodos em algumas pessoas, principalmente naquelas que já estão pré-dispostas a terem problemas na coluna. “Estudos realizados pelo mundo expõem sobre o aumento de queixas de dores lombares em pacientes que realizaram o home office associado a um desequilíbrio na qualidade do sono devido a pandemia”, revela o médico.
Ele continua: “Além disso o estresse crônico de viver durante uma pandemia levou a uma série de sintomas físicos, como dores de cabeça, insônia, problemas digestivos, desequilíbrios hormonais e fadiga, segundo estudo indiano publicado em julho desse ano”. De acordo com Paulo isso deve-se ao sedentarismo e má ergonomia. “Grande parte das queixas de dor estão relacionadas a lesões musculares ou a desequilíbrios faciais (tecido que recobre os músculos com a função de proteção, suporte e facilitação do movimento). Os músculos, discos intervertebrais, articulações facetarias, entre outros, são potenciais geradores de dor”, explica.
Todos esses distúrbios causam dores, mas é preciso que haja uma identificação e classificação dessa dor. “Dor aguda, quando controlada, é valiosa para nosso organismo pois serve como sinal de alerta e melhora com a cura da lesão inicial. “Já a dor crônica é um agravamento da dor aguda, na qual não foi tratada. E por esse motivo torna-se uma doença e não está relacionada com sinais de alerta”, ressalta o ortopedista. Segundo ele é preciso estar atento também com o sono, pois a falta deste pode acarretar maiores consequências. “A alteração do sono pode ocorrer devido a dor ou ansiedade causada por ela. O sono é primordial para a recuperação de nosso organismo e caso não ocorra corretamente a nossa energia ou disposição fica baixa assim como há alteração do humor”.
As principais queixas
Até 84% das pessoas em algum momento da vida apresentarão dor lombar segundo levantamentos realizados pelo Ministério da Saúde, o que causa grande demanda aos serviços de saúde. Apesar desses números, um diagnóstico específico sobre possíveis causas da dor lombar não é determinado entre 90 e 95% dos casos, uma vez que a dor lombar apresenta caráter multifatorial. De acordo com um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Estadual de Campinas em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, 50% das pessoas que já tinham problemas na coluna sentiram aumento de suas dores e 40% passaram a sentir dores nas costas após mudança provocada no estilo de vida.
A dor é o sinal primário de lombalgia segundo a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), sendo que os principais sintomas são: “Dor que se inicia de maneira súbita na região lombar; irradiação ocasional da dor para os glúteos e/ou coxas, até os joelhos; a dor nas costas é pior que a das coxas; a dor se agrava com o movimento, ao sentar-se, parar, levantar objetos ou inclinar-se; a dor é aliviada com o repouso e calor; há antecedentes de fatores psicológicos e laborais estressantes; em alguns casos, existe antecedente de lesão mecânica ou história de trauma (com ou sem fratura)”, conta Paulo.
O médico apresenta algumas dicas para evitar a fadiga e as dores musculares: “Sentar-se com apoio para pernas, braços e costas; sentar-se com os pés apoiados no chão e com os joelhos formando um ângulo de 90 graus; atentar-se para a altura do monitor ou livros/documentos que deve estar na mesma altura e direção dos olhos (mantenha o pescoço reto); realizar pausas em períodos programados (para cada 40min de trabalho, descanse 5min), associado a alongamentos; atente-se para a escolha de ambiente arejado e com boa iluminação; rotina! Definir um horário de início e fim do expediente de trabalho; pratique exercícios para o corpo e a mente”, indica.
Tratamentos
Segundo Paulo a prevenção é o melhor remédio, porém quando a dor lombar está instalada a chave principal para o tratamento é o diagnóstico correto com exame físico, clínico e se possível a realização de exames complementares de imagem ou laboratoriais. “Grande parte das dores lombares não são identificadas por exames de imagem, pois a dor é individualizada e não está quantificada em nenhum exame realizado, mas vale salientar que para o bom tratamento precisamos do diagnóstico correto das causas e consequências que estão entremeados na dor em questão. Para o tratamento devemos entender sobre o tipo de dor a ser tratada”.
Existem ainda diferenças entre as dores, elas podem ser inflamatórias (nociceptivas) ou nos ‘nervos’ (neuropáticas), podendo estas estarem em conjunto, sendo denominadas de mista ou até mesmo não haver lesão identificada por exames, porém o paciente está realmente sentindo dores, o que se chama de nociplástica. “Para cada tipo de dor com suas características definidas ou até mesmo quando temos um mix de tudo isso, devemos pensar nos tratamentos propostos”, diz o médico. O tratamento é multidisciplinar, visando o bem do paciente. O auxílio médico além de outras funções pode manejar as medicações utilizadas, orientar e ser mais efetivo quanto o tratamento proposto sobre a possível área que causa a dor, lançando mão dos bloqueios diagnósticos e terapêuticos.
“Para o controle da dor podem ser utilizadas medicações como analgésicos simples, anti-inflamatórios não hormonais ou hormonais, adjuvantes, analgésicos opióides, além de infiltrações locais e endovenosas, dependendo das limitações que o paciente tem ao uso de cada medicação. “Assim como os centros de referência que realizam o tratamento de dor, sou adepto e muito satisfeito em poder dividir a atenção e o tratamento com meus colegas tanto da área médica quanto de outras áreas como por exemplo fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, enfermeiros, educadores físicos e demais áreas que trabalham com o manejo da dor”, complementa. “O bom trabalho em equipe pode produzir um efeito maior do que a soma dos esforços individuais”, finaliza o médico ortopedista Paulo Corá.