O segundo maior bioma da América do Sul tem seu valor exaltado neste dia 11 de setembro, quando se comemora o Dia Nacional do Cerrado. Dados do Ministério do Meio Ambiente apontam que o Cerrado possui a menor porcentagem de áreas sobre proteção. Dentro desse contexto, o Legado Verdes do Cerrado, Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável de propriedade da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio) localizada em Niquelândia (GO) destaca-se como um case que alia conservação, desenvolvimento sustentável e a nova economia integrada com atividades tradicionais.
Há três anos, são realizadas na área de 32 mil hectares – sendo aproximadamente 80% de Cerrado nativo – , iniciativas essenciais para a conservação do bioma, implementando uma nova forma de uso e ocupação do solo, onde 20% do seu espaço é destinado às economias tradicionais (pecuária, agricultura e silvicultura), usado de maneira inteligente e rentável para custear os outros 80%, que representam a área de cerrado nativo conservado. A reserva é também um grande laboratório de pesquisas a céu aberto para estudantes e profissionais que, em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), desenvolvem projetos relacionados ao Cerrado.
“Acreditamos que podemos ter uma sociedade melhor a partir do momento em que mudamos nossa relação com o Cerrado. O Legado Verdes do Cerrado tem um papel importante não só em promover ações de conservação, mas também em levar o Cerrado para perto das pessoas, seja por meio de pesquisas científicas, seja por ações de reflorestamento ou paisagismo urbano com mudas nativas e ações educativas para a população. A filosofia do Legado é sempre integrar pesquisa, produção e relacionamento social para que essas três vertentes possam melhorar a sustentabilidade dos locais em que nós habitamos e trabalhamos”, explica o diretor da Reservas Votorantim, David Canassa.
Ações
Na nova economia, desenvolvimento sustentável e conservação andam de mãos dadas. No sistema agroflorestal implantado no Legado, os ecossistemas naturais são replicados, o que otimiza o uso da terra e concilia a conservação ambiental com a produção de alimentos. Antes ocupada pelo plantio de eucalipto, a agrofloresta do Legado Verdes do Cerrado tem hoje seis hectares de área cultivada com previsão de expansão a uma área total de 17 hectares ainda neste ano. Mais de 5 mil mudas já foram plantadas, de espécies como limão, banana, goiaba, mandioca, além de espécies do Cerrado, como cajuzinho-do-cerrado e baru.
Além de ser uma alternativa de produção sustentável de alimentos, a agrofloresta é um atrativo para a fauna, na medida em que possibilita uma nova dinâmica que reequilibra o ecossistema. No Legado, a área cultivada recebe visita constante de antas, raposas, catitus, tatus e diversas espécies de pássaros nativos.
Conforme explica David Canassa, a reserva ambiental também tem papel importante para a água: “As florestas possuem papel fundamental na conservação e manutenção das águas, seja para as cidades, para abastecimento, ou para o campo, para produção de alimentos”. Neste sentido, o Legado Verdes do Cerrado já promoveu, em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) jovem de Niquelândia e com produtores rurais locais, a recuperação de nascentes com a plantação de 1,4 mil mudas nas regiões do córrego Buriti, do córrego do Taquari e do Rio Traíras, de onde é captada toda a água que faz o abastecimento público do município.
As mudas utilizadas foram produzidas no Centro de Produção de Biodiversidade (CPB) do Legado, que trabalha com espécies nativas. A produção do CPB teve início em 2018 e cresceu em 2019, consolidando a iniciativa como um novo e promissor negócio. O CPB foi ampliado chegando a uma capacidade de produção de 300 mil mudas/ano, atendendo à demanda de projetos de reflorestamentos principalmente nos estados de Goiás e Minas Gerais. No local são cultivadas 50 espécies diferentes, entre elas aroeira, angico, baru, canela-de-ema, pitomba, guariroba, pequi e ipê. As plantas produzidas atendem à demanda de parceiros da Reserva, instituições e proprietários rurais, além de prefeituras em projetos de recuperação da flora e paisagismo urbano.
As sementes para produção das mudas são coletadas na própria reserva. Desse projeto resulta um banco de sementes que já chega a 1,9 milhão de amostras de espécies nativas. A iniciativa tem papel fundamental na conservação da biodiversidade, pois quando conservadas corretamente, algumas sementes podem ficar guardadas por décadas. O banco de sementes contribui, ainda, para o melhoramento genético, já que por meio da seleção de sementes é possível reduzir a suscetibilidade das plantas a pragas ou a mudanças climáticas