Por Igor Bahiense
Motivados por diferentes fatores, milhões de pessoas sofrem com algum tipo de alergia nos quatro cantos do planeta e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde ( OMS ), cerca de 35% da população mundial apresenta algum processo alérgico. No Brasil, dependendo da estação do ano, das condições climáticas e da presença de agentes causadores dos processos alérgicos ( insetos, poluição entre outros ), esse índice pode ser ainda maior. A orientação para o tratamento dos quadros de alergia não é simples, consistindo num tripé terapêutico baseado no controle alimentar, controle de ambiente e uso de imunoterapia ( vacinas contra as alergias ). No entanto, não raro, a administração de antibióticos é prescrita em alguns casos específicos, sobretudo em momentos de crises alérgicas.
Mas nem sempre o uso dos antibióticos poderá ser a melhor saída para controlar processos alérgicos: segundo pesquisa publicada na Global Journal of Medicine and Public Health em abril de 2013, que foi desenvolvida no Mumbai City Hospital, na Índia,, o uso destes medicamentos pode propiciar o aparecimento de alergias entre os pacientes ou até agravar sintomas da doença.
Diferente do que acreditava-se, esses medicamentos, embora possam ser eficazes para retirar pacientes das crises, acabam por trazer outros problemas à saúde dos alérgicos.
“Os antibióticos podem sensibilizar o sistema imunológico das pessoas, o que as torna bem mais suscetíveis ao surgimento dos quadros de alergias”, afirma a cientista indiana Shilpa Shah, coordenadora da pesquisa e Conselheira Científica do Projeto Social Brasil Sem Alergia. O estudo foi desenvolvido durante dois anos com 200 pacientes divididos em dois grupos: um grupo ( grupo de antibióticos ), com 126 pacientes, que fez uso do medicamento, sendo o outro, composto por 74, não submetido ao remédio ( não antibióticos ).
Ao contrário do que imaginava-se, foi percebida uma maior prevalência dos sintomas relacionados a alergia naquele grupo que fazia a administração dos antibióticos. “A pesquisa identificou um crescimento dos níveis de IgE, exame que determina a presença de algum tipo de alergia, entre os pacientes do ‘grupo de antibióticos’ em relação aos 74 do grupo ‘não antibióticos’”, comenta Dra Shilpa, que trabalha em estudos de pesquisas há mais de uma década.
Mas, segundo o Coordenador Técnico do Projeto Social Brasil Sem Alergia, o médico Marcello Bossois, alguns fatores justificam o uso destes remédios por parte daqueles que sofrem com os incômodos da alergia. “Como a mucosa do alérgico está sempre inflamada e é rica em proteínas carregadoras I-cam e V-cam ( levando micro organismos ao organismo do paciente ), frequentemente ele está doente e com problema respiratório, o que o leva ao uso dos antibióticos para tratar as conseqüências da alergia”, comenta.
Além disso, há outros fatores que motivam o constante uso do medicamento: o alérgico produz demasiado muco, sendo este fonte de cultura e proliferação de bactérias, gerando infecções respiratórias bacterianas como, por exemplo, determinadas pneumonias, alguns tipos de faringites, alguns casos de sinusite, entre outras. “Esse é mais um motivo que estimula a utilização constante dos antibióticos na população alérgica, já que é o único medicamento capaz de combater tais doenças”, ressalta Dr Marcello Bossois.
Outro ponto é o desequilíbrio do sistema imunológico do alérgico, que faz com que ele enfrente diferentes episódios de problemas com a imunidade, encontrando uma aparente solução através dos antibióticos. O Coordenador do Brasil Sem Alergia sugere, portanto, que seja prescrita a utilização do medicamento em determinados casos mais graves, porém sem jamais um acompanhamento clínico bem criterioso. “Se por um lado o antibiótico tem um papel imprescindível para retirar pacientes de crises, por outro ele poderá agravar alguns sintomas da alergia, gerando uma reincidência do problema”, finaliza.