O sabor, a textura e a versatilidade, mas também a história e seu encanto, fazem do chocolate uma paixão mundial que vem desde os tempos mais antigos: os maias por exemplo consideravam o chocolate (bebida de cacau preparada com água quente) o “Alimento dos Deuses”. De lá para cá, muita coisa mudou, e os processos industriais adicionaram pelo menos dois ingredientes ao cacau: gordura e açúcar. Para não ter erro: quando falamos em benefícios do chocolate nos referimos à constituição da massa do cacau (de cor escura), portanto quanto maior o percentual dele no chocolate, mais saudável o é alimento e também mais escuro e amargo. “O cacau, ingrediente básico do chocolate, contém uma quantidade significativa de gorduras boas (40-50% em manteiga de cacau, com aproximadamente 33% de ácido oleico, 25% de ácido palmítico e 33% de ácido esteárico). Ele também contém polifenóis, que constituem cerca de 10% do peso seco de um feijão inteiro. O cacau é uma das principais fontes de polifenóis na dieta ocidental, contendo mais compostos fenólicos do que a maioria dos alimentos.”, afirma a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Listamos 10 motivos relacionados à saúde para consumir o chocolate amargo:
- Efeitos cardiovasculares – Uma série de benefícios para o sistema cardiovascular pode ocorrer após a ingestão regular de alimentos e bebidas que contenham cacau. “Os chocolates com maior concentração de cacau têm ação vasodilatadora, melhoram a função vascular e contam com atividades antiplaquetárias, prevenindo a formação de placa de gordura dentro das artérias”, explica a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da diretoria (comissão de marketing) da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). “Esses benefícios têm forte relação com a presença dos flavonoides, que são anti-inflamatórios e antioxidantes. Em adultos jovens e saudáveis, uma ingestão diária de 20g de chocolate de cacau mais alto (90%) por um período de 30 dias melhorou a função vascular, reduzindo as pressões da artéria braquial central e promovendo o relaxamento vascular. Um estudo prospectivo sueco relacionou o consumo de chocolate com menor risco de infarto do miocárdio e doença cardíaca isquêmica”, afirma a Dra. Marcella. Segundo o estudo, uma revisão sistemática, o uso regular de chocolate pode estar associado a um risco cardiovascular reduzido e a sugestão de dose adequada para consumo de chocolate foi de 45g por semana, uma vez que níveis mais altos podem contrariar os benefícios à saúde devido a efeitos adversos associado ao consumo elevado de açúcar.
- Antidiabético – Os componentes do cacau oferecem importante ação como agentes antidiabéticos, especialmente com diabetes mellitus tipo 2 (T2D). “Esse aspecto é de particular relevância devido à emergente epidemia mundial de síndrome metabólica, que inclui obesidade, diabetes e dislipidemia. O cacau e seus flavonóis melhoram a homeostase da glicose, retardando a digestão e absorção de carboidratos no intestino”, afirma a médica nutróloga. O cacau e seus flavonóis melhoram a sensibilidade à insulina, regulando o transporte de glicose e as proteínas sinalizadoras de insulina nos tecidos sensíveis à insulina (fígado, tecido adiposo e músculo esquelético), prevenindo efeitos oxidativos e danos inflamatórios, segundo o estudo.
- Contra obesidade – Recentemente, estudos investigaram os efeitos preventivos ou terapêuticos do cacau e de seus constituintes contra a obesidade e a síndrome metabólica. Na revisão desses relatos, os autores citam estudos que observaram uma redução na expressão de vários genes associados ao metabolismo e armazenamento de gorduras, além de aumentar a expressão de genes associados à termogênese. “Em um estudo clínico, o cheiro de chocolate amargo foi avaliado para avaliar a resposta do apetite. O chocolate produziu uma resposta de saciedade, reduzindo o apetite; portanto, poderia ser útil na prevenção do ganho de peso. Além disso, os flavonoides podem produzir eventos metabólicos que induzem a lipólise (quebra de gordura); tais eventos reduzem a deposição lipídica e a resistência à insulina”, afirma a médica. O chocolate escuro também pode funcionar em combinação com outros nutracêuticos e ter efeitos positivos no perfil lipídico. Um ensaio cruzado de 4 semanas entre 31 adultos com sobrepeso ou obesos determinou que o consumo diário de amêndoas (42g / dia) sozinho ou combinado com chocolate escuro foi efetivo para a redução do colesterol total e da fração colesterol de baixa densidade (LDL). Os autores concluíram que incorporar amêndoas de cacau e chocolate amargo em uma dieta, sem exceder as necessidades energéticas, pode reduzir o risco de doença cardíaca coronariana.
- Melhora da microbiota intestinal – Nos últimos anos, há um interesse crescente nos estudos da microbiota intestinal e suas alterações como resultado dos hábitos alimentares. O intestino humano hospeda a microbiota intestinal, uma enorme coleção de microrganismos com papel fundamental no armazenamento de energia e distúrbios metabólicos. “Em um estudo de intervenção humana, projetado para investigar a influência da alta ingestão de flavonoides de cacau no crescimento da microbiota fecal humana, os autores avaliaram que a ingestão de 494 mg de flavonoides de cacau/dia por quatro semanas teve um efeito significativo no desenvolvimento da microbiota intestinal”, explica a Dra. Marcella.
- Um ‘up’ para o sistema imunológico – Estudos in vivo e in vitro mostraram que o cacau possui propriedades regulatórias nas células imunes implicadas na imunidade inata e adquirida. “Os efeitos positivos dos flavonoides de cacau no sistema imunológico, por vários mecanismos, são conhecidos como a redução da liberação de mediadores, a restauração do equilíbrio das células e a regulação negativa de produção de imunoglobulinas”, diz a médica.
- Benefícios ao Sistema Nervoso Central – Existem evidências de algum fator benéfico no sistema nervoso central. “Os polifenóis do chocolate preto podem atuar no sistema nervoso central (SNC) e nas funções neurológicas através da liberação de óxido nítrico, responsável pela vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo cerebral que fornece oxigênio e glicose aos neurônios, levando ao aumento na formação e manutenção de vasos sanguíneos no hipocampo. Além disso, o potencial antioxidante dependente do polifenol pode contribuir para a melhora de alguns distúrbios neurodegenerativos”, afirma a médica.
- Estímulo à felicidade – Segundo estudos, a ingestão de chocolate está ligada também a aspectos emocionais, ao aumentar a síntese cerebral de serotonina, o famoso hormônio da felicidade e que produz uma sensação de energia e prazer. Mas é necessário ter cautela no consumo de chocolates com teor maior de açúcar, uma vez que os carboidratos também estão envolvidos nesse processo em um primeiro momento, mas seu excesso também pode causar distúrbios metabólicos e elevar a sensação de culpa.
- Poder sobre aspectos sexuais – O chocolate exerce vários efeitos sobre a sexualidade humana, atuando principalmente como afrodisíaco. “O cacau em pó e o chocolate contêm substâncias que, em conjunto com outros componentes do chocolate (como cafeína e teobromina), produzem uma sensação transitória de bem-estar. “O principal componente da excitação sexual é a vasocongestão periférica dos tecidos genitais, pelo aumento dos níveis de óxido nítrico; assim, juntamente com a serotonina, com produção aumentada após o consumo de cacau, pode estar envolvido no processo de estímulo sexual”, diz a médica nutróloga.
- Prevenção da anemia – Rico em ferro, o cacau pode ajudar a prevenir a anemia. “O ferro é essencial para a formação da hemoglobina, que é um componente das hemácias responsável pelo transporte de oxigênio para o organismo e que normalmente está em menores quantidades em caso de anemia”, explica a médica. Enquanto 100g de cacau contam com 13,9 mg de ferro, cada 100g de feijão, geralmente citado como uma boa fonte desse mineral, possui 5,1mg.
- Efeito anti-idade na pele – De acordo com a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o chocolate amargo não causa espinhas, ao contrário do que muitos acreditam. “Devido à alta concentração de cacau em sua fórmula, o chocolate amargo é, na verdade, um aliado da saúde da pele, pois suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias ajudam a conferir luminosidade e hidratação ao tecido cutâneo, além de auxiliarem na proteção aos danos dos raios UV, prevenirem rugas e combaterem os radicais livres”, destaca a dermatologista.