Glenn Martens resgata essência da Maison Margiela em estreia como diretor criativo da grife

Desfile Artisanal Inverno 2025 traz releituras de arquivos históricos, desconstrução têxtil e reflexões sobre o luxo contemporâneo
Maison Margiela Glenn Martens
(Foto: Divulgação)

Na última quarta-feira (9), a Maison Margiela apresentou sua coleção Artisanal Inverno 2025 sob o comando do belga Glenn Martens, que estreia como diretor criativo da grife. O desfile, realizado no mesmo local em que Martin Margiela apresentou sua última coleção autoral, em 2008, faz referência a memória do fundador em uma tentativa consciente de estabelecer uma nova era pautada pela fidelidade aos códigos originais da marca.

Martens, que também estudou na Academia Real de Belas Artes da Antuérpia, como Martin, mergulhou nos arquivos da casa ao assumir o cargo. Sua proposta foi clara: revisitar o passado sem se prender a ele. O cenário do desfile, com paredes cobertas por papel rasgado, evocava diretamente trabalhos do fundador, como as jaquetas do inverno 1997. Máscaras que cobriam os rostos das modelos, aludem à estreia de Martin em 1989, reafirmando a premissa de que o foco deve ser as roupas, e não quem as veste.

Na passarela, a estética desconstruída da Maison ganhou novas camadas com o uso de materiais reaproveitados. São forros de casacos antigos, couro vintage, cristais de estoque morto e roupas garimpadas em brechós populares. Corsets desenharam silhuetas apertadas e desconfortáveis, exigindo até mesmo treinamento respiratório das modelos. A manipulação têxtil, marca registrada de Martens, apareceu em bordados tridimensionais, drapeados translúcidos e estampas que imitam as pinceladas do pintor francês Gustave Moreau.

Apesar das inúmeras referências históricas, Martens evitou o saudosismo. Seu olhar pessoal aparece na escolha por volumes exagerados, proporções desconcertantes e na elaboração de uma moda que questiona o luxo a partir de objetos cotidianos. Um exemplo claro disso é o uso de peças encontradas por cinco euros na rede de brechós Guérissol, que foram transformadas em novos tecidos de alta-costura.

A coleção Artisanal da Margiela tesga os limites entre arte e moda, e Martens parece ter compreendido essa proposta com precisão. Ao se reconectar com os fundamentos da marca, ele propõe uma continuidade que é, ao mesmo tempo, homenagem e reinvenção. Em um ano marcado por trocas de comando nas grandes Maisons, sua estreia se destaca por respeitar a herança sem abrir mão da autoria.

Maison Margiela Glenn Martens
(Foto: Divulgação)
Maison Margiela Glenn Martens
(Foto: Divulgação)
Maison Margiela Glenn Martens
(Foto: Divulgação)
Maison Margiela Glenn Martens
(Foto: Divulgação)
Maison Margiela Glenn Martens
(Foto: Divulgação)
Maison Margiela Glenn Martens
(Foto: Divulgação)

Deixe um comentário