Autódromo Internacional de Goiânia completa 50 anos: histórias e curiosidades marcam trajetória do local

Em celebração aos 91 anos de Goiânia, Zelo recorda momentos especiais que marcaram o desenvolvimento da capital
Autódromo Internacional de Goiânia
(Foto: Fernando Campos)

Allan David

O tempo voa, e nas retas do Autódromo Internacional de Goiânia passa em marcha acelerada. O circuito, queridinho de pilotos de automobilismo e motociclismo, está completando 50 anos. São muitas as histórias desse gigante do Centro-Oeste, grandioso em público, conquistas e momentos épicos, e elogiado por personalidades como Wilson Fittipaldi e Nelson Piquet.

A concepção do circuito começou na década de 1960. Naquela época, as corridas ocorriam nas ruas do Centro de Goiânia, sempre em outubro, no aniversário da Capital. Mas já não satisfaziam os pilotos e nem o público, cada vez mais crescente de amantes do automobilismo e do motociclismo. O vai e vem de carros pedia um espaço à altura.

O risco de acidentes com espectadores, o espaço apertado para os mecânicos trabalharem e até a falta de pontos com visão privilegiada para a pista pesaram na decisão do então governador Leonino Di Ramos Caiado de ordenar a construção de algo permanente em Goiânia.

O desafio seguinte era encontrar uma área adequada para ser transformada em autódromo. E os técnicos incumbidos da missão encontraram no terreno da Fazenda Gameleira, do pecuarista Lourival Louza, um espaço que combinava facilidade de acesso, boa topografia e localização estratégica. A pista tinha de oferecer segurança, amplas áreas de escape e boa visibilidade.

Para desenhar o projeto e tirá-lo do papel, o governo da época escalou o arquiteto Silas Varizzo e o automobilista Marcos Veiga Jardim. A dupla tinha como conselheiro técnico nada menos do que Emerson Fittipaldi, bicampeão da Fórmula 1. O trio acompanhou minuciosamente o desenrolar das obras, realizadas entre 1972 e 1974. A inauguração se deu em julho daquele ano.

Entre os detalhes que levam o DNA de Fittipaldi estão a cerca de aço que divide a pista do público e as generosas áreas de escape. Para o piloto goiano Raphael Teixeira, que concorre na Stock Car Pro Series, esse último atributo é um dos diferenciais do circuito goiano. “Os principais fatores da pista de Goiânia são as áreas de escape, que proporcionam que os pilotos andem sempre no limite do equipamento, porque eles sabem que têm segurança. É um traçado que mescla curvas altas e rápidas, com bastante técnica e baixa velocidade”, acrescenta Raphael. Segundo ele, os pilotos que se sobressaem em Goiânia costumam vencer em outras pistas.

Acostumado com as exigências de federações de automobilismo e motociclismo, o gerente do Autódromo de Goiânia, Roberto Boettcher, conta que o principal feedback dado pelos pilotos são elogios à segurança do circuito. Assim como Raphael Teixeira, Roberto destaca que a pista tem grandes áreas de escape e todas elas contam com caixas de brita.

“Temos ainda a maior reta do Brasil, de mil metros, o que dá total segurança tanto para carros como para motos. […] Boxes bem montados, salas de imprensa e de transmissão, torre de cronometragem e direção de prova”, enfatiza Roberto. Ele iguala a estrutura do Autódromo de Goiânia à de Interlagos, em São Paulo. “Posso dizer que somos número um em tudo, sem contar que é o único autódromo de arena. Dependendo de onde você está, na curva 1, você vê 90% da pista”, assegura gestor.

Autódromo Internacional de Goiânia
Construído na década de 1960, Autódromo Internacional de Goiânia Ayrton Senna foi projetado por Silas
Varizzo e Marcos Veiga Jardim, com a orientação de Emerson Fittipaldi (Foto: Acervo/ Roberto Boettcher)

Anos dourados com a MotoGP

Já nos seus primeiros anos de funcionamento, o circuito de Goiânia atraiu grandes públicos nas corridas de carros lendários da década de 1970, como Opala e Maverick. Mas foram sucessivas etapas da MotoGP, chamada à época de 500cc, que levaram a pista ao estrelato. O lugar ficou conhecido mundialmente por provas da modalidade realizadas em 1987, 1988 e 1989.

Nascido na década de 1980, o piloto Raphael Teixeira vivenciou várias dessas corridas na infância. Ele diz que nutre um sentimento de amor pelo lugar. “Conheci o automobilismo dentro do circuito de Goiânia, assistindo as corridas do meu pai, Walmir Teixeira. Então, eu tenho um carinho especial [pela pista].”

Em 2023, Raphael correu com o número 49 para lembrar a idade que o Autódromo então completava. O piloto adianta que fará uma nova homenagem ao circuito na etapa de Goiânia deste ano da Stock Car, comemorando, desta vez, os 50 anos da praça esportiva.

Ele é um dos pilotos goianos que ganharam notoriedade no Brasil pelo bom desempenho em corridas no Autódromo de Goiânia. Campeonatos sediados no local, como as Fórmulas Honda, Ford e Marcas e as copas Planalto e do Centro-Oeste, inspiraram Raphael e outros atletas goianos da atualidade, entre eles, os também pilotos Vinícius Mercez, Vinícius Tessaro, Fausto Filho, Marina Brandão e Jéssika Martins, da Fórmula F200.

Autódromo Internacional de Goiânia
Hoje, o complexo esportivo sedia diversas competições, incluindo etapas da Stock Car, Copa Truck e
Fórmula F200 (Foto: Fábio César)

Apesar de pilotar hoje em provas de rua, Jéssika Martins considera o Autódromo de Goiânia como sua segunda casa. “É um ambiente familiar, um ambiente maravilhoso. A pista é sensacional, já andei nela como copiloto na categoria Turismo umas três vezes, inclusive grávida. Foi uma experiência incrível”,recorda a desportista.

Jéssika vê no circuito de Goiânia um espaço também de inclusão social. Especificamente, de inserção do público feminino no automobilismo. A piloto coordena um projeto denominado Kart Delas, iniciativa pela qual leva mulheres ao autódromo para vivenciarem o universo das corridas, a movimentação nos boxes e o backstage das competições. “Eu preciso daquele ambiente”, reforça.

O nome Ayrton Senna

Em 1989, a história do Autódromo de Goiânia ganhou um novo capítulo. Naquele ano, a Assembleia Legislativa de Goiás aprovou a mudança do nome para Autódromo Internacional de Goiânia Ayrton Senna. Era uma homenagem em vida ao ídolo brasileiro do automobilismo mundial. Senna morreria cinco anos depois, numa corrida na Itália.

Para o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), a trajetória do circuito está entrelaçada com a própria história da Capital e dos goianienses. “É incrível você imaginar um governador, há 50 anos, com a sensibilidade para construir um autódromo em Goiânia, uma cidade que até então tinha pouco mais de 300 mil habitantes”, acrescenta Caiado sobre a iniciativa do então governador Leonino Caiado.

O chefe do Executivo estadual ressalta que, além de ser palco de grandes corridas do automobilismo, o circuito se tornou, ao longo dos anos, “uma fonte vital de benefícios econômicos, esportivos, culturais e de lazer para o Estado”. Segundo ele, isso se converte na atração de investimentos, turistas e negócios relacionados ao automobilismo.

Espaços de múltiplos usos

Além de eventos relacionados ao esporte, a área recebe festivais de música, provas de corrida de rua, treinos de ciclistas amadores e profissionais e outras programações. São potenciais explorados, sobretudo, após uma ampla reforma   ocorrida no local de 2012 a 2014. O retrofit resgatou o autódromo do ostracismo que ele amargou no início dos anos 2000.

Autódromo Internacional de Goiânia
O piloto Raphael Teixeira pretende celebrar os 50 anos de história do Autódromo de Goiânia (Foto: Duda
Bairros)

Um tempo novo se descortinou na rotina do Autódromo de Goiânia após as intervenções para ressuscitá-lo do marasmo. As atividades do complexo foram retomadas com o pé no acelerador. E algumas dessas programações são as etapas de Goiânia da Copa Truck. Os brutos passam nas curvas do Autódromo a todo vapor, arrancando suspiros das multidões que os assistem lá todos os anos.

Secretário estadual de Esporte e Lazer, Rudson Guerra classifica o local como uma das principais praças esportivas de Goiás. Ele informa que o autódromo recebe eventos quase todas as semanas. E ressalta: “É um espaço de múltiplos usos, que permite a prática do esporte envolvendo velocidade e também está aberto ao lazer de todos os goianos.”

Para o gestor, o lugar assumiu um perfil eclético, atraindo usuários praticantes de esportes de várias ‘tribos’. “Trata-se de um espaço seguro e com uma pista em excelentes condições de uso. E qualquer pessoa pode usar o autódromo nos dias e horários determinados”, justifica Guerra.

Autódromo Internacional de Goiânia
Inaugurado em 1974, pista é um marco no esporte, com uma rica história de corridas e grandes públicos
(Foto: Fernando Campos)

Parque Marcos Veiga Jardim

Outra atração aberta ao público que frequenta o autódromo é o Parque Marcos Veiga Jardim. Localizado no Parque Lozandes, ao lado do complexo esportivo, esse equipamento público foi inaugurado em 2016 com a proposta de oferecer aos goianienses um espaço para a prática de esportes, convivência, entretenimento e atividades culturais. Distribuída em 55 mil metros quadrados, a estrutura do Parque Marcos Veiga Jardim possui skate park com duas pistas para as modalidades de skate street e skate bowl; academia ao ar livre; teatro de arena; quadras de areia e quadras poliesportivas; quiosques; e uma pista de caminhada de 1,2 mil metros.

O parque é permeado por uma área verde com exemplares de tuias, coqueiros, flamboyants, ipês amarelo e cor-de-rosa, jambeiros e outras espécies típicas do Cerrado; são 23 espécies no total. A vegetação local é refletida em um amplo espelho d’água, que ajuda a refrescar a temperatura nos dias quentes de Goiânia.

Autódromo Internacional de Goiânia
Com a maior reta do Brasil, circuito oferece segurança e adrenalina para carros e motos (Foto: Leonardo
Tavares)

Perspectivas para os próximos anos

Presidente da Federação Goiana de Automobilismo, Sérgio Crispim se diz otimista com o futuro do Autódromo de Goiânia. De acordo com o dirigente, o Estado de Goiás, por meio da Secretaria de Esporte e Lazer, fará uma pequena reforma no local em julho deste ano, quando a pista vai se preparar para receber competições como as etapas regionais da Stock Car e da Copa Truck.

“A gente só pode ter uma mensagem de grande otimismo porque cada vez mais modalidades estão nascendo, sendo trazidas de fora do País para cá. Estamos aqui com grandes perspectivas de termos outras modalidades mundiais aqui na nossa pista e, com certeza, o público de Goiás vai assistir muita festa, muita coisa boa nos próximos anos.”

Autódromo Internacional de Goiânia
Além de corridas, o complexo do autódromo de Goiânia é um espaço versátil que recebe festivais de
música, provas de corrida de rua, treinos de ciclismo e muito mais (Foto: Américo Larozzi)

Matéria publicada na edição de número 50 da revista Zelo.

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