
Sensibilidade, silêncio e presença definem o traço da arquiteta e designer goiana Ana Beatriz Bach, que expõe sua primeira peça autoral em uma galeria de arte no Marais, em Paris, a poucos passos do Museu Picasso. O convite veio do Salão Internacional de Artes, após a curadoria conhecer a proposta estética e narrativa que envolvem a obra. Batizada de “Cúpula Instante”, a peça marca também o início de sua marca, a Casa Carvalho.
“A arte imita a vida. O ponto de partida é um sentimento e o objetivo é provocar uma emoção”, explica Ana Beatriz. Em sua criação inaugural, a artista materializa um instante em suspensão, inspirada no desenho que uma gota d’água faz ao tocar a superfície. O resultado é uma escultura que evoca o efêmero, convida à pausa e provoca uma reflexão sobre a delicadeza do tempo presente. “A Cúpula Instante é sobre o momento entre o antes e o depois. É sobre a certeza de que, nessa vida, só temos o agora.”
Mais do que uma peça de mobiliário, a obra é um manifesto de sensibilidade em forma de design. Criada a partir de esboços livres que mais tarde ganharam forma com a colaboração de artesãos, a obra revela o cuidado com os materiais, os detalhes e o gesto. “A matéria precisa conversar com a ideia. Cada decisão carrega um significado e compõe a narrativa que quero contar”, afirma a designer.

Casa Carvalho
Com a Casa Carvalho, Ana Beatriz propõe um design que não se rende às tendências de mercado. Suas criações são um convite à escuta e à percepção da passagem do tempo. “As histórias que me tocam são as que se escondem em fragmentos de silêncio que vivem entre os ruídos da rotina. Se consegui provocar alguma emoção ou memória, cumpri meu propósito”, revela.
Ver sua primeira peça chegar a Paris tem um sabor especial. A designer define a oportunidade como um acontecimento maior do que as palavras permitem expressar. “A Cúpula Instante carrega muito de mim, é a síntese do que acredito como designer e como pessoa. Isso confirma que as emoções são universais, e que quando o design nasce de um lugar profundo, ele é capaz de tocar o outro com a mesma intensidade.”
Em um momento em que o design caminha cada vez mais para soluções automatizadas e produções em larga escala, Ana Beatriz aposta no gesto autoral como forma de resistência. “Desenhar algo que seja eterno, que atravesse o tempo, é quase um ato político. Penso nas peças como heranças emocionais, que podem ser passadas de geração em geração. São histórias contadas sem pressa, com beleza e significado.”, finaliza.