Repertórios da Festa do Divino de Pirenópolis (GO) são resgatados

Onze melodias da Banda de Couro e do Grupo de Contradança foram gravadas em estúdio
(Foto: Nivaldo Trindade)

São muitos e diferentes sons que dão ritmo à Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis (GO), a começar pelos foguetes, que anunciam e pontuam cada ritual e, bem antes da abertura dos festejos, avisam que eles vão começar. As músicas e o toque dos sinos também marcam momentos distintos da festa, como o final das missas, cerimônias e a coroação do imperador. Além do foguetório e dos sinos, também embalam a Festa do Divino as apresentações de diversas bandas e grupos.

Para manter vivas as canções que fazem parte da Festa em louvor ao Divino Espírito Santo de Pirenópolis, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por meio da superintendência em Goiás, fez o resgate de onze músicas que compõem o repertório da Banda de Couro e do Grupo de Contradança, integrantes da manifestação.

São melodias bem conhecidas e apreciadas pela comunidade local, a exemplo da “Vamo, vamo, vamo comê doce”, “Vem cá Bidu”, “Mariquinha Muchacha”, “Pica Pau e Passarinho”.  As canções, que estavam somente na memória de alguns músicos correndo o risco de se perderem, foram recuperadas com a transposição das partituras realizadas pelo maestro José Joaquim do Nascimento. Para isso, foram feitos ensaios com os músicos envolvidos nos festejos, gravando as melodias em estúdio. As mídias foram disponibilizadas aos detentores e compartilhadas com os atuais e novos integrantes da Banda Couro e da Contradança, através do Escritório Técnico do Iphan de Pirenópolis.

Composta por um conjunto de percussão que remonta às festas dos negros escravizados, realizadas na extinta Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, a Banda de Couro é uma manifestação que teve início no século XVIII e utiliza diversos instrumentos musicais como tambores de couro, zabumba, rufadeira e várias caixas pequenas que dão ritmo e cadência aos ritos. Já o grupo de contradança ou pau de fitas, como também é conhecido, costuma fazer sua primeira apresentação no domingo de Pentecostes, pela manhã, quando casais de crianças vestidas de branco, com fitas vermelhas na cintura e chapéus de palha, dançam no largo da Matriz.

O resgate das melodias faz parte das ações de salvaguarda da Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis que teve início em 2019, no mesmo ano em que o Iphan-GO entregou sete novos instrumentos musicais para a Banda de Couro.

Para o superintendente do Iphan-GO, Allyson Cabral, pensar em ações para salvaguardar um bem cultural de natureza imaterial é apoiar sua continuidade de modo sustentável. “É atuar no sentido da melhoria das condições sociais e materiais de transmissão, como também na reprodução da manifestação que possibilitam sua existência”, pontua.

Para a definição das próximas ações de valorização e divulgação do bem cultural, estão em curso as reuniões virtuais de elaboração do Plano de Salvaguarda da Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis em que detentores e instituições públicas envolvidas na Festa estão dialogando sobre as próximas metas a serem alcançadas em curto, médio e longo prazos.

Festa envolve toda a cidade

Conhecida como uma das mais tradicionais festividades religiosas de todo o país, a Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis foi reconhecida pelo Iphan em 2010 como Patrimônio Cultural do Brasil. Inscrita no Livro de Registro das Celebrações, a manifestação ocorre desde 1819, sempre no período de Pentecostes, 50 dias após a Páscoa. Durante quase 30 dias, a comunidade pirenopolina participa de novenas, folias, alvoradas, apresentações folclóricas e diversos outros rituais, que envolvem a zona rural e urbana, todos em busca das bênçãos do Divino.

De modo a manter viva a tradição, as canções gravadas e disponibilizadas em mídias estão sendo replicadas na cidade por meio das rádios, missas e carros de som, já que os grupos folclóricos não se reuniram para as apresentações devido à pandemia do coronavírus. É o segundo ano consecutivo, em mais de 200 anos, que a manifestação não foi realizada nos moldes tradicionais, mas vivenciada por meio de lives e pela transmissão da festa de anos anteriores por meio de canais digitais.

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