Em estudo com brasileiros adolescentes e jovens adultos feita pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, quase metade das pessoas entre 15 e 36 anos apresentaram padrão de dependência moderada à internet, que se correlacionou positivamente com depressão, ansiedade e estresse, além de dificuldades de sono. E segundo o Global Gen Z & Millennial Survey, da agência Deloitte, jovens e adultos passaram a priorizar descanso, saúde mental e limites digitais como resposta à sobrecarga cotidiana. Esses achados ajudam a explicar por que o preparo emocional passou a ocupar espaço central nas reflexões para 2026.
Até mesmo pesquisas de mercado e tendências de consumo, como o relatório anual do Pinterest, têm observado que o escapismo e a busca por conforto e autenticidade vão influenciar escolhas estéticas e de comportamento em 2026. Em um contexto de hiperconectividade permanente, cresce a necessidade de estratégias que preservem o equilíbrio psicológico, fortaleçam a identidade e garantam pausas reais na rotina acelerada.
Para a psicóloga Christina Vieira, que orienta crianças e adolescentes, a presença contínua das telas interfere diretamente no funcionamento cognitivo. Segundo ela, estamos conectados 24 horas por dia, o que compromete atenção, memória e bem-estar emocional ao longo do tempo. Além disso, o aumento da ansiedade e a desconexão com o mundo real funcionam como sinais claros de alerta. Diante desse cenário, o conforto emocional surge como resposta prática à sobrecarga. Christina afirma que “é necessário usar parcimônia em todos os atos”, incluindo o consumo digital. Por isso, estabelecer horários para o uso de telas e priorizar experiências presenciais ajuda a restaurar o equilíbrio emocional.
Escapar para reconectar
A autenticidade ocupa um papel central nesse processo de preservação emocional. Ao abandonar comparações constantes com versões idealizadas exibidas nas redes sociais, as pessoas aliviam a pressão interna e reduzem o desgaste emocional. Christina afirma que observar a vida alheia não é um problema em si, mas “quando essa comparação passa a orientar expectativas e frustrações, torna-se prejudicial”. Nesse sentido, assumir uma identidade mais realista e menos performática ajuda a construir relações mais saudáveis consigo mesmo e com o entorno.
Outro ponto central desse movimento é o escapismo, entendido como uma forma de reconexão, não de fuga. Para a psicóloga, “momentos de escapismo ajudam a acessar a própria essência”, seja por meio de hobbies, experiências sensoriais ou pausas intencionais na rotina. Essas práticas funcionam como respiros emocionais diante da sobrecarga diária. Ainda assim, a psicóloga alerta para o risco de transformar o afastamento em isolamento, o que reforça a importância do equilíbrio entre introspecção e convivência.
O descanso, especialmente o sono, surge como um dos pilares da saúde mental. Christina destaca a importância da higiene do sono e do uso consciente do tempo dedicado ao relaxamento. Segundo ela, “esses cuidados podem ser trabalhados na terapia e, em alguns casos, com acompanhamento neurológico”, o que ajuda a restaurar energia, regular emoções e melhorar a qualidade de vida.
Equilíbio e cuidado
Pensar em 2026, portanto, envolve reorganizar prioridades e rever hábitos. Christina sugere a criação de um checklist pessoal voltado à saúde emocional, com escolhas mais conscientes. Para ela, “o equilíbrio é a chave de tudo”, sobretudo diante do excesso de estímulos. Por fim, a especialista reforça a importância do acompanhamento profissional. “O cuidado emocional pode — e deve — ser mediado pela terapia”, diz. Em um mundo cada vez mais exausto, preparar-se emocionalmente para o futuro passa por presença, limites e autocuidado consistente.








