As ruas de pedra e casas de pau a pique da Cidade de Goiás guardam na memória da população um patrimônio que simboliza o Brasil colonial. Localizada a cerca de 140 quilômetros de Goiânia, a antiga Vila Boa foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Mundial em 2001, pela singularidade de seu conjunto arquitetônico e pela preservação de suas tradições. É um território onde história, cultura e natureza convivem em harmonia, mantendo vivo o espírito do interior goiano.
Ao longo do tempo, o município consolidou-se como polo cultural de relevância nacional. Sede do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), de festivais gastronômicos e de manifestações populares, a cidade mantém uma intensa produção artística e intelectual. A Praça do Coreto, cercada por casarões e bares, é um dos espaços mais simbólicos e festivos do lugar. Nas ruas e nos quintais, a hospitalidade se manifesta em gestos simples, como uma conversa à sombra das varandas, é nesse ambiente acolhedor que se mantém viva a alma da cidade. Agora, esse mesmo cenário recebe o primeiro Congresso Conviver.
De hoje (4) até 6 de novembro, a Cidade de Goiás será sede da primeira edição do evento, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O congresso reúne representantes de universidades, institutos federais e comunidades de todo o país para debater o futuro das habitações populares e da conservação do patrimônio cultural brasileiro.
“A Cidade de Goiás é o cenário ideal para o congresso, um lugar onde o patrimônio é vivido diariamente e onde se constrói, de forma coletiva, o futuro da preservação cultural no Brasil”, afirma Gilvane Felipe, superintendente do Iphan em Goiás.
A cidade entre poesias
“Goiás, minha cidade… Eu sou aquela amorosa de tuas ruas estreitas, curtas, indecisas, entrando, saindo uma das outras.”
— “Minha Cidade”, Cora Coralina
Não há como falar da Cidade de Goiás sem mencionar Cora Coralina, uma das poetisas mais admiradas do Brasil. Nascida em 20 de agosto de 1889, quando a cidade ainda se chamava Vila Boa de Goyaz, Cora começou a escrever aos 14 anos e transformou o lugar com sua poesia sensível e profunda. Doceira de profissão, produziu uma obra que celebra os valores culturais do interior goiano.
Em 1965, lançou seu primeiro livro, “O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais”, pela Editora José Olympio. Sua consagração veio após o reconhecimento de Carlos Drummond de Andrade, que exaltou sua escrita. Em 1983, foi eleita Intelectual do Ano e recebeu o Prêmio Juca Pato, concedido pela União Brasileira dos Escritores.
Cora faleceu em 10 de abril de 1985, em Goiânia. Em sua cidade natal, a Casa da Ponte, às margens do Rio Vermelho, abriga hoje o Museu Cora Coralina, que preserva sua memória e reflete a essência de sua poesia: o rio, as casas históricas e a força das palavras que eternizaram Goiás na literatura.

Patrimônio e identidade
Os casarões, igrejas e espaços públicos de Goiás revelam a transformação urbana da antiga capital, que manteve esse status até 1937. O município reúne o maior conjunto arquitetônico e urbanístico tombado em âmbito federal no Estado, com exemplares que vão do estilo colonial, do século XVIII, a construções com influências modernas.
Entre seus marcos históricos estão o Palácio Conde dos Arcos, antiga sede do governo e exemplo da arquitetura civil colonial; a Casa de Câmara e Cadeia, atual Museu das Bandeiras; e o Quartel do XX, erguido entre 1751 e 1763. Destacam-se ainda o Cineteatro São Joaquim, o Casarão da Prefeitura Municipal e o Mercado Municipal, espaços que ilustram a dinâmica social e cultural da cidade.
A tradição religiosa também é parte essencial da identidade local. Festas como a Procissão do Fogaréu atraem visitantes de todo o país, e igrejas tombadas em nível federal, como as de Nossa Senhora da Abadia, do Carmo, de Santa Bárbara, de São Francisco de Paula e de Nossa Senhora da Boa Morte, reafirmam a importância da fé no cotidiano goiano.
Esses edifícios históricos, além de guardarem memórias, representam o compromisso coletivo com a preservação e o uso responsável do patrimônio cultural. É nesse contexto que o Congresso Conviver 2025 se insere.

Congresso Conviver 2025
O Congresso Conviver integra o Programa Conviver, que oferece assistência técnica gratuita a moradores de cidades históricas, com foco na conservação de imóveis e na valorização dos saberes locais. O programa baseia-se nos Canteiros Modelo de Conservação, iniciativa que une conhecimento técnico e saber tradicional para garantir a preservação do patrimônio e o fortalecimento da identidade comunitária.
A programação inclui exposição sobre os Canteiros-Modelo, debates sobre salvaguarda, saberes e ofícios, mostra de curtas, roteiros fotográficos guiados e encontros entre equipes de todo o país, promovendo a troca de experiências e o diálogo entre diferentes realidades.
A Cidade de Goiás abriga o Canteiro Modelo Vila Boa, desenvolvido em parceria entre a UFG, o Iphan e a Prefeitura Municipal, que atua na conservação de imóveis tombados de famílias de baixa renda. A iniciativa reforça o compromisso com a preservação da cidade, um patrimônio vivo no coração do Brasil.














