A marcenaria é um dos elementos fundamentais para a execução de projetos residenciais de casas e apartamentos, independentemente do tamanho do imóvel. Através das soluções que o profissional de arquitetura de interiores visualiza para a sua instalação nos ambientes, a morada pode exercer uma das suas funcionalidades primárias: organizar os espaços e armazenar os pertences de quem lá habita.
Para a arquiteta Cristiane Schiavoni a marcenaria é, indiscutivelmente, o principal item para o planejamento do espaço. “Eu considero uma ferramenta que nos ajuda a promover a setorização de cada cômodo, bem como nos permite prever os locais onde tudo será guardado. Com cada item no seu local certo, conseguimos proporcionar ao nosso cliente todas as condições para um lar gostoso e sempre em ordem”, explica.
Com um pensamento complementar, a dupla Giselle Macedo e Patrícia Covolo, arquitetas responsáveis pelo escritório Macedo e Covolo, são enfáticas em afirmar que, além da distribuição e arrumação dos ambientes, a marcenaria contribui para definir o estilo dos ambientes e refletir o perfil dos moradores. “Isso acontece, pois quando imaginamos o projeto, a inteligência da marcenaria se consiste em adequar às necessidades dentro das especificidades de cada ambiente e do morador em si. Cada um tem uma história, objetos a serem acomodados e expectativas quanto às soluções seu imóvel oferecerá. Por isso, a personalização é primordial”, revela Giselle.
Marcenaria inteligente e acessível
Ao cunhar o termo marcenaria inteligente, a arquitetura de interiores se refere à realização de móveis planejados, produzidos por uma loja/fábrica especializada no segmento. Assim, a junção entre as ideias do profissional à frente do projeto, conectadas com o processo produtivo, é capaz de entregar uma marcenaria totalmente nova e distinta, que atende ao cômodo de forma ímpar e milimétrica.
Porém, o seu custo pode não ser um dos mais acessíveis, tornando-se um empecilho para aqueles que, no processo de reforma, estão com um orçamento mais enxuto. Para esse cenário, a recomendação das especialistas é trabalhar de forma setorizada. “Eu aconselho a não abrir mão da marcenaria inteligente. Por isso, caso o valor completo seja um empecilho, minha sugestão é desenhar o projeto, considerando cada detalhe, e dividir a execução em etapas, de acordo com a disponibilidade financeira”, alerta Patrícia Covolo. “Aqui vale o ditado popular: o barato sai caro”, complementa.
No tocante aos acabamentos, a arquiteta Cristiane Schiavoni sugere deixar de lado o preconceito com relação à alguns encontrados no mercado. “É sempre valioso observar cada matéria-prima e avaliar como cada material, incluindo os mais econômicos, consegue trazer o resultado esperado para a marcenaria e o projeto como um todo”, esclarece. “Hoje em dia, o mercado de painéis de MDF dispõe de inúmeras opções de acabamentos que atendem bem àqueles projetos com orçamentos reduzidos. Vale sempre à pena realizar uma pesquisa detalhada”, considera Giselle.
A necessidade da marcenaria inteligente
Em linhas gerais, a marcenaria inteligente é essencial para todos os tipos de ambientes, uma vez que oferece a resposta para otimizar os espaços com as premissas do local e do morador. Entretanto, há casos que ela se configura ainda mais indispensável. “As pessoas não são padronizadas, elas têm diferentes necessidades, biotipos e restrições. A marcenaria inteligente é bacana para todos os tipos de habitantes e é capaz de resolver características mais específicas, como facilitar a acessibilidade de moradores com deficiência ou idosos, por exemplo. Essa forma camaleônica da marcenaria é incrível e ao se adaptar, faz a diferença no dia a dia da casa”, afirma Cristiane.
Uma das tendências da morar atual está ligado aos espaços cada vez mais reduzidos. A superpopulação das cidades, o crescimento do número de pessoas morando sozinhas e os altos preços dos imóveis são alguns dos fatores que a impulsiona esse segmento imobiliário. Segundo o IBGE, a taxa de fecundidade já diminuiu em 20,1% na última década e, só no Brasil, já são mais de 10 milhões que moram só.
Por isso, apartamentos de 50m² são cada vez mais comuns – em São Paulo, o mercado dispões de estúdios com 10m². Tendo em vista a metragem enxuta, a marcenaria inteligente é a resposta para as adequações com vistas ao bem viver. “Em ambientes pequenos, o melhor aproveitamento de cada espaço vai contribuir de forma decisiva para o sucesso do resultado aguardado”, determina Giselle.
O que evitar
Como enfatizado pelas arquitetas, a marcenaria lidera o posto entre os detalhes a serem considerados na arquitetura de interiores. Em uma ordem oposta, o projeto pode ser prejudicado pela dificuldade em moldar e otimizar os espaços com outros itens presentes no projeto. Outro cuidado diz respeito a seguir um padrão determinado: o segredo para uma boa adaptação e aproveitamento de espaços é a personalização. “Muitas pessoas e lojas acabam incorrendo em um erro bastante comum, que é o de ficar preso às medidas e formatos. Elas são importantes, mas devem se configurar como uma referência”, aconselha Patrícia
Para Cristiane, no contexto da marcenaria inteligente, não há certo ou errado, mas sim o que funciona ou não para determinado ambiente. “O segredo é sair do automático” destaca. Um dos exemplos mais comuns está ligado ao armário de roupas, que nem sempre deve ter entre 60 e 65cm de profundidade. “O desenho pode ser mais aberto, mais curto ou mais largo: tudo depende de como o morador prefere guardar a roupa, que pode ser em cabides ou em gavetas. A vantagem da marcenaria inteligente justamente a sua capacidade de adequação às particularidades que encontramos em cada projeto”, finaliza a arquiteta.