Hábitos mais saudáveis contribuem com a qualidade de vida e com uma alimentação mais prazerosa e saborosa com verduras, frutas e hortaliças que podem ser plantadas, colhidas e consumidas no conforto do seu lar. No final de 2021, o Google divulgou a lista dos 10 principais termos que foram tendência no ano, entre eles “como fazer horta em casa”. O hábito que se espalhou durante a pandemia, permanece atualmente, servindo também como ferramenta de aprendizagem e compartilhamento.
A agrônoma Amanda Inoue, Coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento da Isla Sementes, empresa brasileira com diversificado portfólio de sementes de hortaliças, flores, ervas, temperos e árvores nativas do Brasil, nos conta algumas dicas para ajudar como montar uma horta em casa, se desconectando da tecnologia e se aproximando ainda mais da natureza, utilizando a horticultura até mesmo como uma forma de terapia ocupacional. Confira!
Como começar e como fazer dar certo?
É preciso escolha o lugar que será feita a horta e identificar os espaços disponíveis para o cultivo que tenham condições favoráveis às plantas de interesse. Por exemplo, gostaria de plantar dentro ou fora de casa? Existe espaço disponível para cultivo direto no solo ou o cultivo seria em vasos? Qual a disponibilidade de luz do sol onde será a horta?
Dedicação e cuidados são fundamentais para que a horta dê certo. Entender quais as necessidades das plantas com relação à luz solar disponível, regas, adubação, controle de pragas e doenças, espaço para desenvolvimento, melhor época de cultivo das plantas escolhidas, fazer uso de produtos de qualidade, são pontos que levam ao sucesso na horta.
Local da horta
Para a produção de hortaliças é importante levar em conta a quantidade de luz solar direta disponível no local, ou seja, por quantas horas de fato haverá raios de sol incidindo nas folhas das plantas. Escolha um local que receba ao menos 4 horas diariamente, pois é através da energia dos raios de sol, por meio da fotossíntese que as plantas terão um bom desenvolvimento.
Se for fazer a horta direto na terra, escolher um local onde não seja um solo compactado, optando por solos de textura mais leve e com boa drenagem para um bom desenvolvimento das raízes. Caso utilize vasos, importante escolher substratos que apresentem essas mesmas características.
Espécies
Começar com cultivos mais rústicos, que requerem poucos cuidados, que tenham um rápido ciclo de desenvolvimento podem trazer resultados em poucas semanas. Bons exemplos são as hortaliças de ciclo curto como rabanete, rúcula, alface e algumas outras folhosas e temperos como salsinha, cebolinha, coentro, manjericão. O plantio dessas variedades pode ser feito o ano todo, e assim você pode realizar o plantio em várias épocas ao longo do ano.
Como germinar sementes?
Após escolher as sementes que você quer cultivar, confira se a época condiz com o período recomendado para a sua região. Plantios realizados fora da “janela de semeadura” podem não se desenvolver ou ter maiores dificuldades no ciclo.
Para germinar, existem várias formas utilizadas. Algumas sementes não exigem muito trabalho, apenas fazendo o semeio em um local com um substrato de boa qualidade, leve, que permita um bom enraizamento. Manter o substrato úmido sem encharcar é fundamental para que as sementes iniciem o processo de germinação e emissão das primeiras estruturas. O semeio pode ser feito em “bandejas sementeiras”, saquinhos, vasos, recipientes de reaproveitamento (garrafas, potes, latas, entre outros) ou direto no local definitivo. Algumas plantas como as cenouras devem ser semeadas direto no solo ou em vaso definitivo, evitando o transplantio das mudas, já que as raízes (que são a estrutura de interesse) já iniciaram seu desenvolvimento.
Cada semente é um ser vivo e dentro delas está o embrião. Caso as sementes não tenham passado por boas condições de armazenagem ou tenham sido cultivadas fora dos padrões ideais, elas podem não germinar. Os principais erros na hora de semear são: enterrar demais, além do recomendado para cada espécie (neste caso a planta não consegue emergir da terra e acaba morrendo); falta ou excesso de umidade na etapa de germinação, gerando colapso das estruturas; plantio fora da época recomendada.
O que plantar quando não tem sol?
O cultivo de microverdes é uma solução de horta em pequenos espaços ou onde não há sol direto. O cultivo é feito em bandejas, vasos ou outros recipientes, usando terra, papel umedecido ou fibras vegetais que sirvam como base para as sementes. Entre 7 e 14 dias se obtém o produto para consumir, o qual é extremamente rico em sabor, cor e nutrientes. São dezenas as variedades para colheita de microverdes: rúcula, manjericão, salsinha, cebolinha, nabo, agrião, acelga, almeirão, couve, rabanete, beterraba, cenoura, entre outras.
Horta em apartamento
Em apartamento normalmente são utilizados vasos para o cultivo, portanto, importante ser hortaliças de fácil adaptação nesse ambiente. Hortaliças como alface, rúcula, cebolinha, espinafre, manjericão são ideais. Se tiver a possibilidade de colocar o vaso em um local que tenha espaço para um desenvolvimento vertical maior das plantas, pode ser cultivado até mesmo tomate cereja e pepino, fazendo a condução das plantas através de tutoramento utilizando estacas ou fios condutores. Utilizando vasos com maior profundidade pode-se cultivar também cenoura, beterraba e rabanete.
Adubo e nutrientes
O adubo é o alimento da planta, o que contribui diretamente no seu desenvolvimento. O momento ideal para ocorrer a adubação será nas fases em que ela demanda maior energia. Desde a fase de mudas, crescimento, desenvolvimento, floração e maturação dos frutos pode ser feita a adubação.
Para a produção de frutos como tomate, pepino, abóboras, pimentões, por exemplo, é fundamental adubar durante o início do período reprodutivo, durante as fases de formação e desenvolvimento das flores. Assim evitamos o abortamento floral e frutos pequenos, sem sabor.
De forma geral, as plantas se “alimentam” através das raízes, portanto, fornecer os nutrientes de modo que entrem em contato com seu sistema radicular é essencial, podendo ser através de misturas no substrato antes do plantio e também depois da planta estabelecida. Existem diversas apresentações de adubos, podem ser sólidos (granulados, farelados, pó) ou líquidos (junto com a água que irá fazer as regas), podendo alguns também ser pulverizados nas folhas através de borrifadores, por exemplo dos adubos foliares. Na prática você deve ler os rótulos dos adubos que escolher e seguir as instruções de uso (dosagem, frequência de aplicação, etc.). Evite aplicar além da dose recomendada para não salinizar o solo nem queimar as plantas.
Combate a pragas e doenças
Busque sempre o equilíbrio do ambiente que está cultivando. Isso é possível por meio da manutenção da diversidade de plantas, não eliminar totalmente as plantas invasoras, de modo que as deixe em local onde não irá atrapalhar o desenvolvimento das suas plantas, sendo uma boa opção para manter ativo o ambiente para os inimigos naturais, que são aqueles insetos que vão te ajudar a combater naturalmente as pragas indesejadas pois eles se alimentam delas). Outra forma é fazendo plantio de plantas que tenham propriedades repelentes de insetos-praga na horta (como por exemplo Tagetes).
As doenças mais comuns são causadas por fungos, bactérias e vírus de plantas. Na horta, para identificar que uma planta está doente é necessário observar que ela estará diferente das outras, talvez mais amarelada, ou com folhas encarquilhadas (retorcidas) ou manchadas e em casos mais severos começa observar elas murchando.
Depois dessa observação é importante, já nos primeiros sintomas, fazer uso de algum mecanismo de controle, de preferência natural ou biológico, com organismos antagônicos como Trichoderma ou simbiontes como Micorrizas. Também se pode utilizar extratos vegetais ou óleos essenciais para controle. Procurar eliminar restos culturais, fazendo plantio de outras culturas para depois plantar novamente.
Ao manusear a planta e fazer podas, desinfecte suas ferramentas antes e após o uso, com água fervente. Faça também o controle de insetos vetores, além de armadilhas como por exemplo garrafas pets pintadas com cola entomológica amarela. Elas irão atrair esses insetos vetores pela cor e eles ficarão grudados aos encostarem. É uma forma eficiente e de baixo custo para controle de mosca branca, tripes, traça em pequenas hortas.