Da esperança, ao ódio, à cura. A retórica Biden-Harris e o fetiche da solução.

Nos discursos públicos de celebração da vitória do partido democrata nas eleições norte-americanas, Joe Biden e Kamala Harris prometem união e cura de uma nação fragmentada. A palavra “heal” vem para o novo presidente eleito e sua vice como a palavra chave da plataforma do governo, como o discurso de ódio esteve para Trump e a esperança para Barack Obama.
A escolha da palavra Cura não foi aleatória. Com mais de 239 mil mortes causadas pela pandemia do COVID-19, buscar a cura (a vacina, a razão, a ciência) mais do que um objetivo em comum para o mundo, é um fetiche. Em um momento de crise de saúde pública e no espírito do tempo em que vivemos de anomia social, a promessa de cura, é uma panaceia. Agrada os ouvidos e conforta os corações. Especialmente num país com tantos desafios na saúde pública como os Estados Unidos.

Numa retórica mais humanizada, que os apresentou como pai de família e uma mulher corajosa, como indivíduos e emissores individuais antes de sociais (estadistas), surge a promessa de uma comunicação não violenta.
A comunicação violenta e encolerizada foi uma assinatura do mandato Trump. De tweets que atacam ao ethos da oposição, falácias ad hominem, ataques ao caráter e a credibilidade pautaram uma agenda de fake news e ruídos. O uso das falácias em sua comunicação não é avulso, fazem parte de um projeto. Um projeto que se preocupa mais em being “misunderstood” do que “understoond”, abrindo margem para especulações e insinuações. Para além de acusações ad hominem, Trump também é fã da falácia tu quoque (você também) virando as críticas a sua pessoa contra Biden ou qualquer outro inimigo em comum (nós x eles). Essa atitude esteve evidente durante o debate presidencial quando Trump se esquivou das perguntas sobre a sua atuação para mitigar os efeitos da pandemia do coronavirus acusando Biden de ter sido negligente e ineficaz durante as pandemias do SARS e do H1N1.

Como num pêndulo, vemos um acolhimento de vulnerabilidades, minorias e um discurso de união. Ao invés da intimidação de Trump, sedução. De forma eloquente, vemos o uso de citações, provas lógicas, silogismos e uma retórica que evoca as minorias e a democracia. Nos resta saber se essa retórica se sustentará durante os próximos quatro para além da forma e do conteúdo, na sua realização.

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