Reduzir as taxas de desnutrição entre os pacientes internados é, sem dúvida, um dos maiores desafios do Hospital de Câncer Araújo Jorge (HAJ). Isto porque o perfil nutricional de quem luta contra a doença, e precisa ficar internado, tem relação direta com o sucesso do tratamento. “A desnutrição facilita o desenvolvimento de infecções, retarda o processo de cicatrização, em casos cirúrgicos, e debilita ainda mais o sistema imunológico do doente. Em linhas gerais, ela piora a resposta ao tratamento”, explica a nutricionista Neusa Dias de Moura.
Responsável pelo Setor de Nutrição do HAJ, a especialista está à frente da campanha Juntos Contra a Desnutrição – ação que pretende, a partir de hoje (31 de agosto), quando celebra-se o Dia do Nutricionista, reforçar os perigos do problema dentro dos hospitais oncológicos. O alerta será voltado principalmente para a equipe médica da unidade de saúde, na intenção de aprimorar o fluxo de encaminhamento dos pacientes para acompanhamento nutricional. “O objetivo é identificar o perfil nutricional no momento da internação, com uma triagem específica. Assim é possível, por exemplo, detectar aqueles em risco nutricional e tratá-los antes que entrem num quadro de desnutrição.”
Neusa lembra que, devido à natureza do próprio tratamento, a desnutrição hospitalar é muito comum em pacientes oncológicos hospitalizados, condição que pode ser agravada dependendo do tipo, localização e estágio do câncer. “Além da perda do apetite, causada pelas alterações nas papilas gustativa, e a redução na ingestão total de alimentos, há um aumento da demanda calórica devido ao crescimento do tumor, o que contribui para o diagnóstico de insuficiência de nutrientes”, alerta, já justificando a importância da chamada terapia nutricional – acompanhamento por meio do qual é possível diminuir o número de dias na UTI e ainda o custo hospitalar.
Um em cada três pacientes são afetados
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN), a desnutrição hospital, que afeta uma em cada três pessoas internadas, pode triplicar o tempo de estadia do paciente nas unidades de saúde, aumentando em até quatro vezes o risco de lesões por pressão e elevando os riscos de atrofia da musculatura, insuficiência respiratória e pior da resposta imunológica. Na realidade oncológica, os riscos são ainda maiores: mais da metade dos pacientes necessita, em algum momento da internação, de aconselhamento nutricional e cerca de 30%, de suplementação.
“Na intenção de reduzir a necessidade de suplementação queremos melhorar, cada vez mais, o entrosamento entre as equipes, que já são multiprofissionais. Fazendo o nutricionista mais presente na rotina do paciente, conseguiremos elevar a efetividade do tratamento”, explica Neusa. A especialista se refere tanto a práticas habituais, como a pesagem e a medição muscular do paciente, quanto a novas iniciativas, como a implantação do Formulário de Registro Alimentar – documento que registra o consumo alimentar de cada paciente.
“Além disto, trabalhamos, por exemplo, com carrinhos térmicos; que mantém o alimento numa temperatura mais agradável; e com o projeto Cozinha Humanizada; que oferece atendimento individualizado, de acordo com as preferências alimentares dos pacientes que têm maior dificuldade em aceitar a dieta.”
Iniciativas do tipo ganham ainda mais relevância num cenário onde a desnutrição calórica e proteica em pacientes internados com câncer no Brasil chega a 66,4%, índice bem mais alto do que de pacientes internados por doenças de modo geral (50%). Os dados são do Inquérito Brasileiro de Nutrição Oncológica (IBNO), publicação que descreve, em linhas gerais, o estado nutricional do adulto com câncer nas diferentes fases da doença e do tratamento.