Neste sábado (2), a partir das 14h, os artistas Abiniel João Nascimento (PE), Shai Andrade (BA) e Társis Aires (MA) apresentam, apresentam, no Sertão Negro, suas poéticas e as experiências vividas durante a residência artística realizada durante este mês de julho. Na primeira semana, o grupo esteve nos quilombos Engenho 2, São Domingos e Ema, onde participaram de oficinas, encontros com moradores, atividades culturais e conversas com anciãos. Fizeram oficinas de construção vernacular (bioconstrução Kalunga) e de produção de tinta à base de terra com o bioconstrutor Hildivan dos Santos Neres. Sob a orientação do guia local Guilherme Moreno, coletaram argila de diferentes cores e texturas e conheceram aspectos da geodiversidade da região nas rotas dos Cristais e do Manganês.
Também visitaram a cachoeira São Félix, no Quilombo São Domingos, e almoçaram com Dona Honória Gonçalves, que preparou pratos tradicionais com alimentos cultivados localmente. Na comunidade quilombola Ema, em Teresina de Goiás (GO), tiveram aula com a ceramista Teresa Pereira. “Estar no quilombo me conectou com vivências da infância; cresci entre São Luís e a baixada maranhense, em Cajari. A forma de viver e de lidar com a natureza são muito próximas do que eu vivi”, afirma o artista Társis Aires.
Brincadeiras com crianças e a folia de Santo Antônio marcaram essa etapa inicial da residência, que continuou nas três semanas seguintes na sede do ateliê-escola, em Goiânia. Lá, os artistas desenvolveram trabalhos individuais e coletivos, participaram de oficinas de cerâmica, gravura e capoeira, leituras de portfólio e encontros de acompanhamento curatorial.
Abiniel João Nascimento comenta que costuma trabalhar sozinha em seu ateliê, mas a residência trouxe uma dinâmica colaborativa. “No Sertão Negro, a energia é compartilhada e se expande em práticas como plantio, capoeira, escuta e fala. Quando cheguei, pensei muito na criação de um espaço como obra, um sonho de liberdade e presença”, diz a artista pernambucana.
Shai Andrade destaca a conexão com Dona Teresa, durante a oficina de cerâmica: “Esse momento trouxe de volta minhas memórias de infância e saberes ancestrais. Fui nutrida por isso. Ao criar minhas peças no Sertão Negro, me inspirei na liberdade técnica da mestra e na relação próxima que estabelecemos”, conta.
O evento, gratuito e mediado pela curadora Melissa Alves, será transmitido ao vivo pelo canal do Sertão Negro no YouTube. “Além da roda de conversa, o público poderá ver os trabalhos e estudos expostos nos chalés do ateliê, onde os artistas estão hospedados. Isso aproxima a arte contemporânea do cotidiano e das experiências locais”, observa Melissa.
Parcerias
A residência resulta de parcerias entre o Sertão Negro e instituições que apoiam a formação de novos artistas. Shai Andrade e Abiniel João Nascimento receberam bolsas do Instituto TeArt, criado pelos galeristas Antônio Almeida e Carlos Dale. Társis Aires participou por meio de bolsa-residência conquistada como premiação no Edital Coletiva de Maio 2025, promovido pela Fundação da Memória Republicana Brasileira (FMRB).
Artistas
Abiniel João Nascimento (PE, @abinieljnascimento)
Nascida em Carpina (PE), Abiniel João Nascimento é artista visual e integra o coletivo indígena Alfazema Braba. Seu trabalho parte de reflexões sobre presença, identidades indígenas, memória e temporalidades não humanas. Entre suas individuais estão “A Grande Boca” (Oficina Francisco Brennand, PE, 2025) e “Nada Acaba no Vazio” (Torre Malakoff, PE, 2024).

Shai Andrade (BA, @sunshaii)
Nascida em Salvador (BA) e criada em Candeias (BA), Shai Andrade é artista visual e fotógrafa. Sua pesquisa aborda memórias pessoais e familiares, com ênfase em arquivos, elementos sensoriais e narrativas matriarcais. Realizou a exposição individual “Oráculo da Memória” no Goethe-Institut Salvador-Bahia (2024) e na Galeria Verve, em São Paulo (2023).

Társis Aires (MA, @tarsisaires)
Natural de Rosário (MA), criado entre a baixada (Cajari) e a Ilha de Upaon-açu, Társis Aires é arquiteto, urbanista e professor universitário. Sua pesquisa envolve ilustrações de animais e paisagens, utilizando aquarela, acrílica e gravura. Participou da Coletiva de Maio Salão de Arte (MA, 2025), onde recebeu o 1º lugar, e da Pequena Mostra Maranhão Brasília de Arte Contemporânea, na galeria A Pilastra (DF, 2023).

Serviço: Ateliê aberto Sertão Negro
Quando: Sábado, 2 de agosto, `s 14h
Local: Sertão Negro – Rua Goiazes, Quadra P, Lote 9 – Condomínio Shangry-La, Goiânia – GO
Entrada: Gratuita