Rodeada por muito desconhecimento e preconceito, em 2006, foi criado o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla, que acontece em 30 de agosto para alertar sobre a patologia. Levantamento da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) aponta que a esclerose múltipla (EM) é a doença neurológica que mais afeta jovens adultos, sendo na sua maioria mulheres. Mesmo considerada rara, ela atinge uma média de 35 mil pessoas no Brasil e 2,5 milhões em todo o mundo, e ainda assim é desconhecida por cerca de 80% da população.
Recentemente a atriz Guta Stresser, que está com 49 anos, recebeu o diagnóstico da doença. Em uma publicação no Instagram, Guta compartilhou uma série de fotos com a atriz Cláudia Rodrigues em um encontro em Curitiba, no Paraná. Na legenda, contou que estão planejando uma peça com tom de comédia para falar sobre a esclerose múltipla, doença com a qual ambas foram diagnosticadas.
O Agosto Laranja foi criado pela organização não governamental Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME), em 2014, com o objetivo de acabar com mitos sobre a doença e fomentar mais respeito, dignidade e acolhimento para quem convive com a enfermidade.
O neurologista Iron Dangoni Filho, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, reforça essa ideia. “Acho que a principal mensagem para o Agosto Laranja é poder mostrar para as pessoas que a esclerose múltipla é tratável, que quem convive com a patologia pode ter qualidade de vida e que geralmente vai ter uma vida normal. Precisamos espalhar essa informação”.
O médico salienta que há grupos de risco para a enfermidade. “A esclerose múltipla é uma doença de jovem, na faixa etária de 20 a 40 anos, principalmente em mulheres. Inclusive, a desproporção entre homens e mulheres têm aumentado ao longo dos anos. Até o momento não se sabe o motivo. Existem vários fatores de risco para o desenvolvimento da esclerose múltipla, socioambientais, de estresse, de localização. Fatores genéticos também estão associados”, afirma. Ele lembra que uma alimentação saudável ajuda na melhora e controle da enfermidade. “A esclerose múltipla é uma doença inflamatória. Então, alimentos que são considerados antioxidantes diminuem a inflamação e são bastante benéficos”.
Sintomas
Iron Dangoni Filho relata os sinais de que é preciso estar atento: “os principais sintomas são: o início de fraqueza ou dormência em um braço, uma perna, mas principalmente no rosto, e esse é um sinal bem típico – dormência em um dos lados do rosto. Outra questão é uma alteração visual, que diminui a visão associada à dor. Pode ocorrer alteração da marcha, na qual a pessoa fica andando de forma desordenada, torta. Além disso, a esclerose múltipla tipicamente é uma doença que vem em surtos, então são episódios de alteração neurológica que duram pelo menos 24 horas e que vão recorrendo ao longo da vida”.
Segundo o médico, existe tratamento, que é medicamentoso e serve para evitar os surtos e controlar a doença. Ele salienta que é possível conviver bem com a esclerose múltipla. “É uma doença incurável, mas a possibilidade de uma vida normal é uma realidade, a doença mudou a partir do tratamento de alta eficácia. E baseado nesses tratamentos, a gente controla a inflamação da doença, a pessoa tem uma vida sem surtos e isso evita que ela tenha problemas e viva normalmente”, explica Iron.
Apesar de toda a evolução em relação aos tratamentos e qualidade de vida dos portadores da esclerose múltipla, o neurologista lamenta que ainda exista muito preconceito em torno da enfermidade. “Infelizmente isso acontece muito por desconhecimento. As pessoas têm imagem do Google e do que era doença antigamente. Isso tem mudado com os influencers, que acabam falando que tem esclerose múltipla e que vivem bem, são boas referências, inclusive. Isso é bom porque muda esse estigma da doença, mas ainda assim existe um preconceito e existe um medo muito grande envolta dela. Sempre foi pensado que a esclerose múltipla é uma doença que deixa a pessoa em cadeira de rodas, extremamente debilitante. Hoje em dia a gente consegue ver ela de uma forma diferente”, afirma.
Deve-se evitar:
Proteínas processadas: salsichas, presunto, carnes enlatadas e carnes defumadas.
Carboidratos refinados: pão branco, macarrão, biscoitos e bolos.
Alimentos altamente processados ricos em aditivos: como fast-food, batatas fritas, refrigerante, bolachas.
Gorduras trans: como margarina e óleos vegetais parcialmente hidrogenados.
Bebidas açucaradas: como energéticos, bebidas esportivas e refrigerantes.
Álcool: limitar o consumo de todas as bebidas alcoólicas o quanto possível.
Glúten: caso positivo para doença celíaca ou sensibilidade ao glúten, procure evitar todos os alimentos à base de glúten, como alimentos que contenham trigo, cevada e centeio.
Algumas evidências também sugerem que dietas cetogênicas, podem ajudar a melhorar os sintomas em pessoas com EM. Um estudo que restringe carboidratos a menos de 20 gramas por dia durante 6 meses em pacientes com EM descobriu que a dieta ajudou a melhorar a fadiga e a depressão, e reduziu marcadores inflamatórios.
Atividade física para quem tem EM
A Professora Doutora Ingrid Dias, Mestre em Ciências da Educação Física, Coordenadora do Grupo de Pesquisa do Laboratório de Treinamento de Força (EEFD/UFRJ) explica que assim como sabemos, a prática de atividades físicas tem efeitos benéficos em indivíduos saudáveis e também proporciona resultados potenciais no tratamento de doenças crônicas degenerativas, como a esclerose múltipla. Os principais benefícios de manter um programa regular de exercícios físicos para esses pacientes incluem: aumento da aptidão cardiorrespiratória, aumento da força e da resistência muscular, redução da fadiga, melhora do humor e da capacidade de realizar as atividades da vida diária.
Os exercícios físicos também ajudam no controle dos sintomas da doença, melhorando a qualidade de vida desses pacientes. No entanto, aqueles de alta intensidade devem ser evitados, para minimizar recaídas e a fadiga excessiva. Apesar dos inúmeros benefícios da atividade física na saúde corporal e mental dos indivíduos com esclerose múltipla, o nível de desempenho desses pacientes ainda é muito baixo. É importante que a rotina de prática faça parte dos programas de reabilitação, principalmente para minimizar os comprometimentos da capacidade funcional.
*Informações Assessoria de Imprensa