Theatro Municipal do Rio de Janeiro – Um século em cartaz

Desde a sua inauguração, em 1909, a programação artística e o perfil da utilização do Theatro Municipal passaram por muitas transformações e são motivo de polêmica entre produtores, artistas e gestores até os dias de hoje. As editoras Jauá e Senac Rio vêm contribuir para este debate e lançam “Theatro Municipal do Rio de Janeiro – Um século em cartaz”, primeiro livro a esmiuçar, década por década, os espetáculos que fizeram a história do principal palco brasileiro.

“O mérito desta obra é revelar detalhes da programação do Theatro Municipal e mostrar como a agenda e o uso da casa de espetáculos se modificaram ao longo do tempo”, avalia a organizadora do livro, NubiaMelhem. Ela ressalta ainda que a ideia original do projeto era de que a casa fosse também sede de uma escola de teatro para atores e técnicos, função que nunca chegou a ser concretizada.

A publicação é resultado de uma extensa pesquisa documental em acervos públicos e privados. Conta também com a preciosa colaboração de especialistas em teatro, dança, ópera, concertos e recitais, que escrevem os textos de cada área que marcou a trajetória da casa. Em um ano e meio de trabalho, foram reunidas informações e imagens (cerca de 480; algumas inéditas) de jornais, revistas, livros e outros documentos dos principais centros de pesquisa do país e de vários acervos no exterior.

A crítica Barbara Heliodora é a responsável pela análise dos espetáculos teatrais encenados no Municipal – muitos assistidos pessoalmente por ela. Uma das maiores especialistas do Brasil no assunto, Barbara lembra as grandes montagens, aponta os fiascos (como o “improvisado” espetáculo de inauguração), as peças mais significativas para o teatro brasileiro e as importantes companhias estrangeiras que lá se apresentaram até a década de 70, quando o teatro de prosa sai definitivamente da agenda do Municipal.

Um dos principais destaques da programação teatral nesses mais de cem anos foi a montagem de “Vestido de noiva”, de Nelson Rodrigues, dirigida por Ziembinski em 1943. Para a especialista, a peça representou um “salto monumental para o teatro brasileiro” e mostrou, pela primeira vez, ao público o que a luz podia fazer para enriquecer um espetáculo. 

A crítica e doutora em artes ressalta também que, nas primeiras décadas, o Municipal abrigou mais teatro de prosa do que ópera. “Vindo todas do exterior, as companhias de teatro de prosa viajavam com mais facilidade do que as líricas, que traziam solistas, coro, orquestra e corpo de baile, não existentes ou confiáveis nas capitais que eram visitadas durante o vazio europeu dos meses de verão”, conta Barbara. Mas revela também as iniciativas do Teatro do Estudante e o sucesso do efêmero Teatro de Brinquedo de Álvaro Moreyra.

O diretor de ópera Bruno Furlanetto é quem escreve sobre os destaques dessa área. Ele lembra que a primeira temporada de um espetáculo do gênero na casa foi “Aída”, em 1910. “Ela aconteceu sem nenhuma cerimônia especial (…). Simplesmente desembarcaram na Praça Mauá 70 músicos da orquestra, 60 coristas e 16 bailarinas, além do pessoal técnico e dos cantores, para realizar 16 espetáculos de 20 de julho a 7 de agosto”, descreve Furlanetto, acrescentando que a excelente Cecília Gagliardi foi “completamente ofuscada pela outra prima-donna do elenco, a famosaGemmaBelincioni, que também cantou a estreia no Brasil de ‘Salomé’, de Richard Strauss”. 

O palco do Municipal, segundo Furlanetto, era ocupado por companhias de ópera completas, em sua maioria italianas, organizadas por empresários particulares, que não tinham subvenções estatais. Um fato curioso revelado pelo especialista é a primeira transmissão, por rádio, de uma ópera no Theatro Municipal. Ela ocorreu em 7 de setembro de 1922, numa récita de gala de “O Guarani” regida por Pietro Mascagni. Como não havia transmissores suficientes na época, colocaram alto-falantes por toda a extensão da Avenida Rio Branco para o povo ouvir. 

Sobre a programação de música de concerto e recitais, a pesquisa e o texto são do jornalista Clóvis Marques. Ele narra a trajetória desses espetáculos desde o primeiro concerto sinfônico doTheatro Municipal, em 6 de março de 1910,  até apresentações recentes, da última década, como a da Filarmônica de Berlim, passando por shows populares, como o rock do americano Carlos Santana, na década de 1970. A histórica apresentação do tenor Luciano Pavarotti também é ressaltada por Marques.O jornalista descreve um importante capítulo da música clássica brasileira, que é a criação da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), na década de 1940. As passagens de Maria Callas, na década de 1950, e da Orquestra Philharmonia de Londres, que se apresentou em concertos alternados com John Barbirolli e Igor Stravinsky, nos anos 60, também são relembradas por Marques.

Na área da dança, Beatriz Cerbino conta sobre as repercussões da primeira companhia de balé a se apresentar no Municipal, o Ballets Russes de Diaghilev, em 1913, com Nijinsky,Karsavina eFokine, e, mais adiante, as apresentações de Isadora Duncan e Anna Pavlova. 

 

Serviço:

“Theatro Municipal do Rio de Janeiro – Um século em cartaz”

Organização: Nubia Melhem Santos

Textos de Barbara Heliodora, Bruno Furlanetto, Beatriz Cerbino, Clóvis Marques e Cláudio Figueiredo.

Ensaio fotográfico de Paulo Santos Filho

Design: Evelyn Grumach

452 páginas e 480 imagens, com texto bilíngue (português e inglês)

Preço de capa: R$ 210,00

Editoras Jauá e Senac Rio

 

 

 

Deixe um comentário