Manterrupting ainda é barreira a ser vencida por mulheres

Neste mês dedicado à elas, psicóloga fala sobre como agir quando uma mulher é interrompida por homem e impedida de se manifestar
Foto: Divulgação

Uma mulher está falando e é interrompida por um homem que não a deixa concluir sua fala. Não importa o ambiente, pode ser no trabalho, na roda de amigos e até mesmo em casa, a situação é conhecida e tem até nome: menrupting ou o mais conhecido, manterrupting. Uma pesquisa feita pela Universidade George Washington, e depois por Kieran Snyder, PhD em linguística e líder de equipes na Microsoft e Amazon, mostrou que mulheres não avançam em suas carreiras a partir de certo ponto se não aprenderem a interromper – ao menos em um ambiente de tecnologia dominado por homens.

A psicóloga Adriane Garcia de Paula, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, explica que existe um processo de aprendizado social que beneficia o ser masculino e que é reforçado e normatizado pela sociedade, pois não há um processo de consciência dos aspectos maléficos desse aprendizado. “Não costumamos avaliar ou criticar o que nos foi entregue como aprendizado na nossa infância e juventude. Nossa fase adulta não é, muitas vezes, reflexiva e sim piloto automático, repetindo todos os hábitos aos quais tivemos acesso e não questionamos sobre sua validade, eficácia e/ou funcionalidade”.

Pela sociedade na qual estamos inseridos, muitas mulheres ainda aceitam essas situações, mas a especialista conta como entender que elas podem ter voz. “O primeiro sinal de que há algo errado é compreender que equalizar os processos de representatividade significa se preocupar, sim, com o tempo de fala. O segundo é explorar melhor os fundamentos do seu pensamento, que a impeça de perceber que ela é uma pessoa importante, de valor e que não precisa se rebaixar por situações que julga ser inferior”, detalha Adriane.

De acordo com a psicóloga, se impor perante essas situações de interrupção pode não ser o melhor caminho. “Se impor nem sempre pode trazer resultados satisfatórios, mas se posicionar pode ser bastante reflexivo”, diz. Por isso, Adriane Garcia ressalta a melhor maneira de agir nesses momentos: “as melhores formas de lidar com situações constrangedoras ou desagradáveis são se posicionar, sendo firme, colocando seu sentimento em relação aquele processo e dizendo ao outro qual seria a melhor forma de ser assertivo”.

Além disso, a especialista salienta formas de evitar que esses maus comportamentos se perpetuem nas próximas gerações. “É papel dos pais ensinar a normalidade e a igualdade no tratamento dos semelhantes. Não se trata de uma questão de gênero e, sim, de uma questão de humanidade. Tratar o outro com respeito é o princípio básico para tratarmos as mazelas sociais”, ressalta Adriane Garcia.

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