
O Colégio Cardinalício da Igreja Católica iniciou nesta quarta-feira (7), às 11h30 no horário de Brasília (16h30 em Roma), o conclave que elegerá o novo papa, sucessor de Francisco, falecido no mês passado. A cerimônia ocorre na Capela Sistina, no Vaticano, e segue um ritual que remonta à Idade Média. A partir de agora, os 133 cardeais com menos de 80 anos permanecerão isolados até que um deles alcance a maioria de dois terços dos votos e seja proclamado pontífice.
O dia começou com a Missa Pro eligendo pontifice, celebrada pelo cardeal decano Giovanni Battista Re, na Basílica de São Pedro. A liturgia marcou a preparação espiritual dos cardeais para o momento decisivo da escolha. Em sua homilia, Re concentrou-se na mensagem central da Última Ceia: “Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,13), e ressaltou que o amor cristão, ilimitado e autêntico, deve guiar os pensamentos e ações dos sucessores de Pedro.
“Entre as tarefas de cada papa está a de promover a comunhão. Não uma comunhão autorreferencial, mas totalmente orientada para a união entre pessoas, povos e culturas”, disse o cardeal, ao enfatizar que a Igreja deve ser “casa e escola de comunhão”.
Re lembrou ainda a responsabilidade que pesa sobre os cardeais, que votarão sob o olhar da pintura do Juízo Final, de Michelangelo. “A imagem imponente de Cristo Juiz lembrará a cada um a grande responsabilidade de colocar as ‘chaves supremas’ nas mãos certas”, afirmou. Para o decano, a eleição do novo papa não é apenas uma sucessão: “É sempre o Apóstolo Pedro que retorna”.
Sigilo absoluto
A entrada dos cardeais na Capela Sistina ocorreu após o juramento solene, realizado às 11h15 (horário de Brasília), na Capela Paulina. A primeira votação será realizada ainda hoje. A partir de quinta-feira, poderão ocorrer até quatro votações por dia. O resultado de cada rodada será indicado pela fumaça que sai da chaminé da capela: preta, se não houver definição; branca, acompanhada pelo toque dos sinos da Basílica de São Pedro, se um novo papa for eleito.
Durante o conclave, os cardeais estão proibidos de qualquer comunicação externa. O Vaticano adota medidas tecnológicas rigorosas, como bloqueadores de sinal, para garantir o sigilo do processo. A média de duração dos dez últimos conclaves foi de pouco mais de três dias. O mais recente, em 2013, durou apenas dois.

Possíveis nomes
O atual colégio eleitoral é o mais diverso da história da Igreja, com cardeais oriundos de 70 países, refletindo os esforços de Francisco para ampliar o alcance da instituição em regiões distantes.
Até o momento, não há um favorito claro. Os cardeais Pietro Parolin, da Itália, e Luis Antonio Tagle, das Filipinas, são mencionados com frequência. Caso nenhum deles reúna apoio suficiente, o foco poderá se voltar a outros nomes, como Jean-Marc Aveline (França), Peter Erdo (Hungria), Robert Prevost (Estados Unidos) e Pierbattista Pizzaballa (Itália).
Nos dias que antecederam o conclave, os cardeais receberam um relatório com perfis de cerca de 40 possíveis candidatos, contendo análises sobre posições doutrinárias e pastorais, entre elas, temas como bênçãos a casais do mesmo sexo, ordenação de mulheres ao diaconato e contracepção. Entre os eleitores, há visões distintas sobre o perfil desejado para o próximo papa. Alguns defendem a continuidade das reformas e da abertura promovidas por Francisco. Outros expressam desejo de um retorno a práticas mais tradicionais. Muitos, no entanto, pedem um pontificado mais previsível e comedido.
O cardeal salvadorenho Gregorio Rosa Chávez, de 82 anos, afastado da votação por idade, afirmou ao Corriere della Sera que não acredita em um retrocesso. “Isso não é possível. Quem quer que seja escolhido, acho que continuará o trabalho iniciado por Francisco.”