Agosto Lilás: 16 anos da Lei Maria da Penha traz a importância para a denuncia da violência contra a mulher

O caso representa a violência doméstica a qual milhares de mulheres são submetidas em todo o Brasil
Dra. Cristina (Foto: Divulgação)

A troca da lua de mel pelo medo constante, a tensão e as atitudes violentas tornam-se cada vez mais frequentes em uma relação abusiva. Uma realidade que tem mudado, mas que ainda há muito o que ser feito.

Em 1983, Maria da Penha foi vítima de dupla tentativa de assassinato por parte de Marco Antônio Herdia Viveros. Primeiro, ele deu um tiro em suas costas enquanto ela dormia. Como resultado da agressão, ela ficou paraplégica devido a lesões irreversíveis na terceira e quarta vértebras torácicas, teve laceração, complicações físicas e traumas psicológicos. Quatro meses depois, quando Maria da Penha voltou para casa, após duas cirurgias, internações e tratamentos, o marido a manteve em cárcere privado durante quinze dias e tentou eletrocutá-la durante o banho.

O caso representa a violência doméstica a qual milhares de mulheres são submetidas em todo o Brasil. A trajetória em busca de justiça durou 19 anos e 6 meses, fez de Maria referência na luta por uma vida livre de violência para muitas outras Marias.

A sobrevivente conseguiu, após muita luta, ver a condenação do agressor. O segundo julgamento só foi realizado em 1996, no qual o seu ex-marido foi condenado a 10 anos e 6 meses de prisão. Mas, devido a recursos da defesa, saiu do fórum em liberdade. Em 1998 o caso ganhou repercussão internacional. O Centro para a Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-americano e do Caribe para Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM) denunciaram o caso para a Comissão Internacional de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA), como violação grave aos direitos humanos da mulher.

O Brasil foi responsabilizado por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica praticada contra as mulheres brasileiras. Infelizmente a história de Maria da Penha não é um caso isolado, coincide com a de tantas outras mulheres.

Em Cianorte, no Paraná, Cristina Lopes Afonso, a décima filha de quatorze irmãos, renasceu em Goiânia, no início dos anos 90. Após sofrer uma tentativa cruel de feminicídio, cometido pelo ex-namorado, resultou em 85% do seu corpo queimado.

Cristina sobreviveu, levou seu agressor a júri popular e, em 1989, durante um julgamento histórico, conseguiu que ele fosse condenado a 13 anos e dez meses de prisão. “O que eu vivi na pele me deu um propósito de vida. Após ter 85% do meu corpo queimado por alguém que dizia me amar, decidi transformar esse episódio em movimento, dedicação e luta contra a violência de gênero, a intolerância e qualquer tipo de preconceito”, relata Cristina.

A caminhada por justiça não foi fácil. A família precisou fazer uma série de renúncias e doações para que o tratamento dela fosse possível. Recursos financeiros, tempo, ausência no seio familiar e dedicação exclusiva. Dois dos irmãos tiveram que doar a própria pele para salvar Cristina.

Na época, ela era formada em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná, mas depois de ter sentido na pele a necessidade de um atendimento especializado em queimaduras, formou-se em fisioterapia para ajudar outras vítimas.

A partir disso, passou a ser chamada carinhosamente pelos seus pacientes por Dra Cristina. Falar sobre sua história de vida é uma das formas que ela encontrou para fazer com que outras mulheres e famílias não sofram o mesmo. Ela conta que em muitos lugares durante suas palestras sempre alerta meninas e mulheres sobre todos os tipos e violência, seja ela psicológica e moral, simbólica, institucional, sexual, física e outras.

Hoje Dra Cristina é uma das maiores referências em fisioterapia no país. Foi chefe do Serviço de Fisioterapia do Instituto Nelson Pícolo e do Pronto Socorro de Queimaduras, por mais de 20 anos. Além disso, foi sócia-fundadora da Sociedade Brasileira de Queimaduras, criou o grupo de apoio aos pacientes queimados: o Núcleo de Proteção aos Queimados (NPQ), e foi uma das fundadoras do primeiro curso de fisioterapia do Centro-Oeste, na ESEFFEGO/UEG, onde implementou a disciplina de queimaduras.

Campanha de Conscientização

Dra. Cristina ficou conhecida em todo Brasil, por compartilhar sua história. Ela fez de sua luta uma missão de vida. No mês Agosto Lilás, realiza diversas palestras e encabeça uma campanha de educação chamada. “Em briga de marido e mulher se mete a colher sim”, o objetivo é levar informação para que a violência doméstica seja combatida, em todos os ambientes. “Sabemos que a luta é diária, mas essas ações são importantes para conscientizar, mobilizar e cobrar por políticas públicas e leis que, de fato, protejam as mulheres e as famílias do nosso país. Violência contra a mulher é assunto sério e pode ser combatido por você”, destaca.

Deixe um comentário