Executivo do oceano azul

Navegar sempre em novos mares é o lema do engenheiro Rodrigo Meirelles

João Camargo Neto

Quando aceitou ser estagiário da EBM Incorporações em São Paulo, mesmo morando em Goiânia, o então estudante de Engenharia Civil Rodrigo Meirelles ainda não tinha lido A estratégia do oceano azul. A obra, de autoria de W. Chan Kim e Renee Mau­borgne, apresenta uma nova maneira de pensar sobre estratégia, o que resulta em criação de novos espaços corporativos, o oceano azul.

Rodrigo leu o livro recentemente, aos 28 anos. Hoje, diretor comercial de uma das maiores incorporadoras do Brasil, líder de mercado em Goiânia, onde ingressou como estagiário, se encaixa com perfeição nos exemplos institucionais dados pelos autores na obra estrategista. Eles perfilaram empresas que criaram novos nichos e encontraram um outro caminho para o crescimento.

De forma semelhante, Rodrigo, pessoa física, trilhou seu início na vida corporativa de maneira nada convencional, e desbravou pessoas jurídicas. Quando estagiário, seu salário era todo gasto com o traslado de Goiânia a São Paulo e a estada para atuar no escritório paulista. Ele já previa que não seria em vão. “Para realizar meus planos a longo prazo, abri mão de algumas coisas que eu poderia ter hoje e não tenho”, destaca.

Vida de campeão

A semana de Rodrigo não esbanja lacunas. Ele sai de casa às 6h30 – normalmente direto para a academia – e retorna às 19 horas, depois de passar o dia todo no escritório. Ao menos três dias por semana, almoça com a esposa e os filhos. Nos outros, alterna entre comer em frente ao computador, enquanto trabalha, e em algum restaurante de Brasília, Salvador ou São Paulo. As três capitais são as principais praças de atuação da EBM fora de Goiânia e Rodrigo as visita duas vezes ao mês.

Se engana quem pensa que o executivo em questão é limitado à rotina escritório-casa-escritório. Também pu­dera… Rodrigo Meirelles, antes de chegar ao topo da EBM, nadou muito. E o sentido não é figurado. Nadou profissionalmente entre 1996 e 2000, quando integrou a seleção brasileira, e, em seguida, o Vasco da Gama, juntamente com Gustavo Borges, Leonardo Costa, Gabriel Mangabeira, o goiano Carlos Jayme e outros nomes de envergadura aquática irrepreensível.

Nesses quatro anos, Rodrigo foi 14 vezes campeão nacional nas categorias 100 Peito e 200 Medley. Ele largou tudo porque, primeiro, “estava de saco cheio das piscinas” e, para piorar, coincidiu com um evento delicado na juventude de qualquer um: a separação dos pais. A decisão de abandonar o esporte profissional talvez não tivesse sentido à época em que foi tomada. Hoje, porém, diante da recente e próspera trajetória, o nadador executivo – ou seria executivo nadador? – não tem do que se arrepender.

“Todos os meus amigos do Vasco e da seleção não estudaram mais, tranca-ram a faculdade e focaram apenas na natação. Eu não podia parar de estudar”, lembra. Não podia porque, com a separação dos pais, teve de começar a traba­lhar para ajudar em casa. A ligação com a água, entretanto, o acompanha até hoje. Difícil é o fim de semana em que Rodrigo não se refugia no Lago de Caldas Novas ou na fazenda de algum amigo para praticar wakeboard.

Vinte e poucos anos e, finalmente, era chegado o momento de desvirginar-se no mundo dos negócios. Rodrigo, vocacionado a empreender, montou um escritório de avaliação de franquias. Ao mesmo tempo, participava de um grupo de promoteurs que badalou Goiânia com a produção de festas no início da década. “Eu era o administrador da turma. Meu foco era o negócio em si. Eles gostavam da bagunça e do que ga­nhavam dela”, descontrai.

Quem tem visão de futuro e opta por uma faculdade de Engenharia Civil não se reduz a um canteiro de obras. Pelo menos não no caso de Rodrigo Meirelles. Além de franquias, seu escritório começou a avaliar o setor imobiliário, atuação que resultou no convite para integrar a EBM, primeiramente como estagiário.

De lá para cá, seis anos se passaram. Ele foi gerente de Projetos e, há três anos, é diretor comercial da EBM, que possui portfolio com mais de 1,5 milhão de me­tros quadrados edificados em projetos realizados em Goiás, São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais.

Os valores defendidos pela empresa não se distanciam dos enraizados no caráter dele. Ética, responsabilidade so­cioambiental, solidez, inovação, valo­rização do ser humano, excelência no relacionamento com o cliente, qualidade nos produtos e serviços, união organizacional e transparência são comuns à EBM e, não menos, ao seu diretor comercial.

Pensamento e ação

A natação é um esporte solitário. “São a piscina, a raia e você.” A filosofia da atividade que praticou na infância e adolescência, porém, não conseguiu impregnar o individualismo em Rodrigo Meirelles. Ele se revela empenhado, além da família, com os colaboradores do departamento que comanda. “Com o tempo, você começa a ver que, além de delegar, tem de treinar e confiar algumas coisas às pessoas e, com isso, começa a se preocupar com a formação delas”, revela.

Rodrigo põe a fé a sua frente. Mas só fica sabendo que ele é evangélico quem toca no assunto. Ele não é da vertente dos bitolados que não dão um passo sem justificar que sua ação é embasada na Bíblia, que ele chama de “Manual do Fabricante”. Ele vai à igreja aos domingos de manhã, para levar o casal de filhos, e à noite, para participar do culto dominical. Durante a semana se esforça para participar de algum grupo de estudo bíblico na casa de outro membro.

A conversão à Igreja Maranata não alterou muito a rotina de Rodrigo. “As mudanças maiores acontecem de forma mais radical quando se trata de um cara totalmente doidão”, brinca. Ele nunca foi inclinado aos vícios comuns à juventude e, em função da vida esportiva, não bebia, não fumava e nem chegava tarde das baladas.

A fé não converteu o estilo de Rodrigo Meirelles porque este não precisava de endireitamento, mas, como nada acontece na vida da gente por acaso, o fez, no mínimo, enxergá-la diferente. Quem convive com ele tem o prazer de desfrutar do raciocínio que, acima da religião, é benéfico à conduta pessoal e profissional de qualquer cristão, muçulmano ou budista.

Se é que é uma recomendação, ou se é que você quer uma orientação, anote aí. Se ainda está em dúvida, ao menos reflita. Certamente você também não chegou até aqui por acaso. “Hoje meu valor principal está na minha família. E não em mim e para mim. Tem muita gente que casa para ser feliz. Quando você começa a enxergar o amor de Deus na sua vida é o contrário. Você casa para fazer a outra pessoa feliz. Se consegue fazer isso, aí, sim, a vida dá certo.”

Para arrematar, Rodrigo Meirelles garante que o lema pode ser estendido além-casa e aplicado à vida profissional e em outras esferas da sociedade. Vale a pena tentar. Mal não faz. Afinal, se esforçar para fazer alguém feliz nunca matou ninguém. Vai que a lei da reação funciona com você também.

Matéria publicada na Revista Zelo (Agosto/09)

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