Estilista goiana Naya Violeta faz estreia inédita na SPFW

Marca é a primeira do Centro-Oeste a desfilar coleção na passarela da maior semana de moda da América Latina
Coleção Foguete, por Naya Violeta (Foto: @takeuchiss)

Estilista estreante no line-up da principal semana de moda da América Latina, Naya Violeta chega na São Paulo Fashion Week demostrando o poder do ‘abrir caminhos’. Nesta aguardada estreia, ela exalta sua ancestralidade, reverencia aqueles que a antecederam ao ter como madrinha a Apartamento 03, marca de Luiz Cláudio Silva, primeiro estilista negro a desfilar e fazer história no evento, e deixa rastros ao mostrar à nova geração que é possível seguir seus passos, os passos da primeira estilista de moda do Centro-Oeste a levar sua coleção para uma das passarelas mais cobiçadas do mundo.

Em seu desfile de estreia, Naya apresentará, na próxima quinta-feira (24), a coleção Foguete, que tem adornos e estamparia exclusiva da designer Dani Guirra. “Em Foguete a gente fala do poder de transformação que é o lugar do fogo. O fogo que aquece, que transforma. Há o clarão que o foguete traz, o clarão que é olhar para o fogo, o clarão de estar vivo. Nesse momento histórico e social de extrema dificuldade que estamos vivendo, essa coleção tenta nos ajudar a entender a potência de corpos negros reexistirem e de olhar para estes corpos vivos”, explica a estilista.

Para Naya, a moda é também passarela para importantes questões, um lugar de afirmação, de expressão para a luta antirracista. Ela, que chega à SPFW por meio do projeto Sankofa que leva oito marcas pretas para estrear no evento, se diz contente com o que chama de “processo de empretecimento da moda nacional”. “Estamos tendo a oportunidade de fazer isso agora, no nosso tempo. É algo grandioso”, diz ao se lembrar que embora essa tenha sempre sido uma pauta orgânica de suas criações, foi de cinco anos para cá que passou a sistematizar essa questão de afroncentrar todas as suas referências.

Uma cidadã do mundo, Naya Violeta é natural de Goianira, pequena cidade da Região Metropolitana de Goiânia. Cosmopolita, já tendo morado em diversos lugares como São Paulo e Buenos Aires, são as experiências que carrega de sua cidade natal, com menos de 45 mil habitantes, que constituem a base do seu trabalho. As cores terrosas, os festejos da Folia de Reis, as roupas extravagantes da Yes, Brasil que o pai ostentava nos anos 1990… São a essas referências que Naya soma o candomblé, o axé e todas as visualidades e essências que descobre mundo afora.

Nova geração da moda nacional

A presença entre as 41 marcas participantes da 51ª semana de moda destes 26 anos de história da SPFW, chancela a estilista como promessa da moda nacional. Longe de assustar, este é a consagração de uma carreira já consolidada, com mais de dez anos de história.

A marca Naya Violeta surgiu em 2007 e, de lá para cá, coleciona muitos caminhos abertos. Dentre as tantas coleções e realizações que criou em sua jornada, já assinou, em colaboração, o figurino da Quasar Cia de Dança, uma das mais respeitadas companhias de dança contemporânea da América Latina; no cinema vestiu Elisa Lucinda; na música tem o reconhecimento de Liniker, Xênia França, dentre tantas outras personalidades, e já vestiu a escritora Dona Jacira, mãe do rapper Emicida e figura importante na cena nacional, e Erica Malunguinho, liderança do movimento negro e LGBTQIA+.

No universo da moda, Naya tem como guia ninguém menos do que Luiz Claudio Silva, fundador e diretor criativo da marca mineira Apartamento 03. Um dos primeiros estilistas negros a desfilar sua coleção na SPFW, Luiz Claudio busca racializar as passarelas com suas peças que desfilam com modelos negras e negros. Ele está entre os maiores influenciadores de moda nessa nova geração de estilistas apresentada pelo Sankofa.

“Para mim é motivo de muita alegria ter sido convidado para apadrinhar Naya Violeta. Tivemos dias de muita troca. Foi de muita potência o nosso encontro. Nós sabemos que no ambiente de moda precisamos falar sobre representatividade. Então, esse movimento, para mim, é muito emocionante porque eu sou de outra geração, eu vi uma outra moda nascendo, outra moda acontecendo. Eu tive poucas pessoas para olhar, para achar que se pareciam comigo. Por isso, hoje me sinto muito honrado em ser convidado para ser marca madrinha de uma marca que está chegando”, ressalta o estilista.

Além de Luiz Claudio, Naya também segue os passos de Isaac Silva, outra grande referência nacional do ativismo na moda. Baiano criador do lema “Acredite no seu axé”, Isaac, que tem Taís Araújo, Camila Pitanga e Elza Soares como clientes, tem influência direta no trabalho e na criação de Naya e é mais um nome de peso a abrir as portas e iluminar os caminhos da estilista.

“Naya Violeta é uma marca incrível, maravilhosa, cheia de axé. Me sinto muito privilegiado por dividir o mundo da moda com essa grande estilista de Goiânia que fala sobre brasilidade. Tem cor nessa moda. Tem muita estampa, modelagem… Naya é muito bem-vinda na SPFW, a maior semana de moda da América Latina”, reforça ele.

Clarão de foguete

Coleção Foguete, por Naya Violeta (Foto: @takeuchiss)

Sobre a estreia na SPFW, Naya Violeta conta que consegue enxergar a responsabilidade de tamanha representatividade. “Vejo esse momento como um processo de abertura de caminhos para mostrar que no Centro-Oeste temos moda autoral, produzimos com identidade de moda, que temos uma moda plural, que olha para um lugar de ancestralidade e de diálogo.” E diz ainda que espera que este seja realmente um despertar de caminhos não só para sua marca, mas um despertar do olhar que o Brasil tem sobre esta região.

Tanta responsabilidade refletiu também em sua produção, vez que a coleção Foguete apresenta traços claros de um amadurecimento de modelagem, de estruturação que Naya exigiu dela mesma para este momento. “Os 14 anos de marca vieram com muita força para a SPFW”, brinca.

“Nossa coleção tem um lugar de uma narrativa visual, poética, social, reverenciando o tempo do agora, respeitando o passado e construindo o presente. É um lugar de saudação. Esse é meu lugar de fala”, explica Naya, ao ressaltar os elementos desta estampa com claras referências ao candomblé e ao Cerrado brasileiro.
Ela conta que o conceito de Foguete foi pensado ao lado do curador de temas Gilson Plano, colaborador de longa data da marca, e da designer Dani Guirra que, além de criar a estamparia, produziu também os acessórios exclusivos para a coleção. Natural do Mato Grosso, mas hoje residente no Rio de Janeiro, Dani é grande amiga de Naya e já há algum tempo divide com ela esse processo criativo e assina os acessórios das coleções.

“Toda nossa coleção é circular, as peças se entrelaçam. É como se tudo estivesse em movimento e girando. O fogo envolve o barro e o cobre dos acessórios da Dani. Tem os babados que representam esse movimento e que também são uma saudação ao fogo. Visivelmente vemos todos esses conceitos nas peças. E por mais que a pessoa não reconheça de imediato essas referências, ela vai perceber o cuidado que tivemos com os preceitos da moda. Além de ser uma saudação material a nossa ancestralidade, é uma coleção linda e agradável de se ver. A gente transcende sobre a narrativa”, detalha Naya Violeta.

Serviço:
Coleção Foguete de Naya Violeta na 51ª edição da SPFW
Quando:
24 de junho de 2021, às 19h50
Onde: Nos canais de comunicação da SPFW 

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