Supervivências

Inveja e Competição são conhecidas antigas de um povo da Terra. Elas sempre povoaram. Uma tem cor diferente da outra. Gostos quase iguais. Tamanho quem dá ao hospedeiro é o mensageiro? Instalaram-se de vez no solo, germinaram juntas da Cobiça e da Ganância. Mas também nasceram ao lado da Amizade e do Amor. Tudo com “a”, Afeto, Apreço. Feto. Preço. Seguiram caminhos: rio de delícias vivas.
Terra.
Almas. Risos.
E por que não sexo? Inclusive, Inveja e Competição eram adeptas às orgias. Orgias de Agonia, Medo. Gozavam assim a vida. “Inveja, presente. Competição, presente”. Amizade. “Professora, essa não veio hoje”, diz a menina, na sala. A Amizade estava de cama, com febre, por ter chorado na chuva a saudade do Amigo. Amigos sempre se atrasam, mas chegam. Inveja e Competição estavam lá, presentes, de olho na prova da coleguinha. As chamam de preguiçosas, no recreio.
Na hora do lanche, merendeiras à mão. Uns brincavam de ciranda, outros de pique -esconde. Inveja e competição rodavam, rodavam e largavam as mãos. Do outro lado, caíam os outros meninos. Amor, Carinho e Amizade corriam em busca de um lugar para abrigar. Para ter a sensação de se encontrar, novamente. Surpresas do tempo. “A esperança jamais abandona o homem de cérebro estreito que pensa em coisas pequenas. A sua mão ávida escava a terra para achar tesouros, e dá-se por satisfeita quando encontra um simples verme”, escreveu Goethe sobre Cobiça. Foi um ser de terras distantes quem “rascunhou” a biografia de vários personagens, inclusive sobre um dos padrinhos da Vida: “O comportamento é um espelho em que cada um mostra a sua imagem.”
Fato.
Demonstração.
Uma que consumia a outra. Inveja brincou errado com Competição. Brigaram. Inveja competiu com Competição, que invejou a astúcia da Inveja. Enganos. Tolices do “nada”. Mundo é bola. Redondamente…
Com essa momentânea separação, Amor, Carinho e Amizade não passaram para o lado das duas. Inveja e “amiga” forçaram uma dedicação.
Cada um no seu lugar, falou espirituosa a Calma. “No fundo, são tão frágeis, parecidos”. Da Vinci, além de pintar Monalisa, deu cor a outros vários mundos, ao Pensamento: “Os ambiciosos que não contentam com o benefício da vida e da beleza do mundo, sofrem, como castigo, o desperdício da vida e a impossibilidade da posse da utilidade e beleza do mundo.”
Calma. Viver é viver… Os minutos explicam a existência.
Flores e cachinhos proveitosos. Vôos constantes. Tudo no ar. Na convivência, quem dá o retrato promete o original? Quando o orgulho grita o amor cala?
Todos os personagens. Todas as figuras dramáticas: sentimentos e coração batendo. Seres são delicados. Paciência. Ciência da paz. Mas flores são vistas por toda parte. Se uma não pega mais na mão da outra para cirandar, é porque cresceram, seguiram rumos, ficaram grandes. A arte é o homem todo. Pedaços reconquistando. Sobrevivência: espaço e tempo riem à toa. Supervivência até ao fim. E a vida beija a todos. De língua alguns, selinho outros. E com a mão, lança beijos a todos. As personagens são espelhos da estrela contemporânea. Planetas e orgias. Encontros e desencontros.
O que chega mesmo é a face, diante das horas. Nem nos resta, nem nos despreza. Apenas respeito às disputas. E disputa é diversidade.
Consideração e lá vão todos: sobrevivência. Sobre as vivências, sentidos da biografia interminável. Nós. E, partir de hoje, “só de amor falarei”. Tudo é amor. E ponto. De vistas. Envelheceram e são ainda crianças, brincando no pátio da consciência. Z

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