Goiânia tem o pior índice de leitura entre as capitais brasileiras, aponta pesquisa

Apenas 4 em cada 10 moradores da capital afirmam ter lido parte de um livro nos três meses anteriores ao levantamento
pior índice de leitura Goiânia
(Foto: Eliott Reyna/ Unsplash )

Goiânia ocupa a última posição entre as capitais do Brasil em índice de leitura, segundo a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Apenas 40% da população com mais de cinco anos declarou ter lido, total ou parcialmente, ao menos um livro físico ou digital nos três meses anteriores à entrevista.

A pesquisa, conduzida entre abril e julho de 2024, ouviu moradores de 208 municípios brasileiros, incluindo cidades de médio e grande porte em Goiás. Embora o Estado apresente um índice de leitura de 52%, acima da média nacional de 47%, o desempenho da capital goiana contrasta com o restante do território e acende um alerta sobre a eficácia das políticas de incentivo à leitura no ambiente urbano.

O recuo no hábito de leitura é uma tendência nacional, mas, em Goiás, a situação revela contradições. Apesar dos avanços no acesso à educação básica nas últimas décadas, faltam ações estruturadas voltadas à formação de leitores. De acordo com especialistas, há uma desconexão entre o ensino formal e a leitura como prática cultural cotidiana.

Para o professor e linguista Carlos André Pereira Nunes, o quadro em Goiânia é preocupante. “É sintomático que uma capital com tanto potencial acadêmico e cultural esteja no fim da lista. O problema não é só estrutural, é também simbólico”, afirma. “O livro deixou de ser visto como ferramenta de mobilidade, cidadania e pensamento crítico.”, acrescenta.

A capital, embora conte com universidades de referência, editoras, festivais literários e iniciativas independentes, sofre com a falta de bibliotecas públicas acessíveis e a ausência de políticas permanentes de fomento à leitura nas escolas e comunidades.

A pesquisa revela também o enfraquecimento da leitura nas instituições de ensino. Apenas 19% dos entrevistados disseram ter sido motivados a ler na escola. Em contrapartida, 85% afirmaram ler em casa, por iniciativa própria, um dado que reforça a fragilidade do papel da escola na mediação do livro, especialmente em contextos onde ele ainda é inacessível para muitos alunos.

Outro fator apontado como obstáculo é o consumo crescente de conteúdo digital fragmentado. As redes sociais, com seus vídeos curtos e rolagens contínuas, disputam atenção com os livros, afetando a concentração e o interesse pela leitura.

Para Carlos André, especialista no ensino de português e redação, é urgente um pacto estadual pela leitura. “Não se trata apenas de campanhas pontuais. É necessário investimento em bibliotecas, formação de professores leitores, articulação com o setor privado e criação de redes literárias em bairros, escolas e universidades.”

Enquanto Goiânia apresenta o pior desempenho entre as capitais, cidades do interior como Anápolis, Jataí e Rio Verde mantêm índices mais próximos da média estadual. No entanto, a pesquisa nacional não detalha esses dados por município, o que dificulta um diagnóstico mais preciso sobre o comportamento do leitor goiano fora da capital. “Um Estado que lê pouco pensa pouco. E um povo que pensa pouco escolhe mal, reage mal e se torna presa fácil para discursos prontos. O desafio de Goiás é urgente: reconquistar a leitura como bem público e prática de liberdade.”, finaliza o especialista.

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