<p><img src="https://revistazelo.com.br/public/backend/midias/tinymce/Cultura/Foto%204%20-%20MIS01044.jpg" alt="" width="800" /></p>
<p>Atualmente, a maior parte das salas de cinema de Goiânia (GO) está localizada em shopping centers. Entretanto, a exibição de filmes na cidade começou em outros espaços: os cinemas de rua. De acordo com o livro Goiás no Século do Cinema, escrito por Beto Leão e Eduardo Benfica, o primeiro cinema da Capital foi o Cine Teatro Campinas, inaugurado em junho de 1936, menos de três anos após a fundação de Goiânia.</p>
<p>Em outubro de 1939, surge o primeiro cinema do Setor Central: o Cine Popular (depois Cine Santa Maria). Já em junho de 1942, é inaugurado o Cine Teatro Goiânia, com estilo arquitetônico art déco e luxuosas instalações.</p>
<p>Nas décadas de 1960 e 1970, os setores Campinas e Central quase se igualaram em número de cinemas, segundo o livro de Leão e Benfica. No primeiro, foram os cines Helena, Rio, Eldorado e Avenida. No segundo, funcionaram os cines Capri, Ouro, Casablanca, Goiás, Frida e Presidente. Existiram, ainda, os cines Regina (Setor Vila Nova), Fátima (Setor dos Funcionários), Royal (Setor Pedro Ludovico) e o Cinema 1 (Setor Oeste).</p>
<p>O cenário, contudo, começou a mudar a partir dos anos 1970. Gradativamente, quase todos os cinemas de rua fecharam “com o advento do videocassete e, posteriormente, com o surgimento dos shopping centers”, afirma Beto Leão no artigo “O cinema goianiense em 70 anos”. No lugar dos cines, pontos comerciais, empresas e igrejas ocuparam as áreas.</p>
<p>Essa relação entre os cinemas de rua e os de shopping também é estabelecida pelo professor e atual gestor do Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON), Lisandro Nogueira. “É um fator da urbanização mal planejada das cidades, que faz com que a população, em função de segurança e outros motivos, prefira os cinemas de shopping, o que força a queda dos cinemas de rua.”</p>
<p><img src="https://revistazelo.com.br/public/backend/midias/tinymce/Cultura/Foto%201-MIS00938.jpg" alt="Cine teatro Goiânia, inaugurado na década de 1940, é um dos mais tradicionais espaços culturais da capital" width="800" /></p>
<p><strong>Panorama 1</strong></p>
<p>A saída de cena do Cine Santa Maria, ainda ativo, foi o cinema pornô. Hoje, o prédio está à venda por R$ 2 milhões, segundo corretor da imobiliária responsável. Nos anos 2000, a mesma alternativa foi adotada pelo Cine Astor (Setor Central), aberto entre o fim dos anos 1970 e o começo dos anos 1980.</p>
<p>O antigo Cine Teatro Goiânia funciona apenas como teatro nos dias de hoje. Já o Cine Ouro (atual Centro Municipal de Cultura Cine Goiânia Ouro) passou a ser gerido pela Secretaria Municipal de Cultura de Goiás (Secult-GO), que foca em mostras e festivais.</p>
<p>Goiânia já teve um cinema Drive-in nas décadas de 1970 e 1980. Localizado no Setor Santa Genoveva, o Cine Canoeiro exibia filmes para o público assistir de dentro dos carros. O local hoje é da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e ainda preserva, por exemplo, o letreiro e a tela de projeção.</p>
<p>As décadas de 1980 e 1990 podem representar o início de uma “relação coexistente” entre os cinemas da Capital: em 1981, duas salas são abertas no Shopping Flamboyant (Jardim Goiás); em 1989, ocorre a inauguração do Cine Cultura (Praça Cívica, Centro); no ano seguinte, o lançamento do Shopping Bougainville (Setor Marista); em 1991, o Cine Ritz é aberto no Centro; no ano de 1995, a inauguração do Goiânia Shopping (Setor Bueno); e, em 1996, a inauguração do Banana Shopping (Centro).</p>
<p>A partir dos anos 2000, surgem os shoppings Araguaia (2001, Centro); Cidade Jardim (2004, Bairro Cidade Jardim); Portal (2006, Bairro Capuava); Portal Sul (2010, Setor Jardins Lisboa); e Passeio das Águas (2013, na Avenida Perimetral Norte). Considerando essas décadas de “relação coexistente”, ocorreram mudanças, lançamentos, expansões e reformas em diferentes períodos dos cinemas até o momento.</p>
<p><strong>Panorama 2</strong></p>
<p>A Capital ganhou recentemente mais uma opção de rede multiplex: o Cinépolis, de origem mexicana. As salas fazem parte do Shopping Cerrado (Setor Aeroviário). “São sete salas de altíssima qualidade. Uma delas é do tipo Macro XE, e oferece som digital com 13 mil watts de potência”, revela.</p>
<p>Previstas inicialmente para 2015, as duas salas de cinema do CCON estão com as obras paradas, de acordo com a assessoria de comunicação da rede Lumière. “Há uma infiltração no solo e está comprometendo a estrutura da obra. Por isso, estamos aguardando uma posição do governo estadual para corrigir o problema. Paralisamos a obra até segunda ordem para evitar prejuízos. Portanto, também não definimos como será o layout da unidade”, explica.</p>
<p>Para o crítico de cinema e programador do Cine Cultura, Marcelo Ribeiro, os principais desafios do espaço estão ligados à manutenção da infraestrutura e à expansão/permanência do público, além da digitalização completa do cine. O programador ressalta, ainda, a importância múltipla do local: a de “construção de um modo de relação mais rico e aberto com a cidade e as diversas pessoas que a constituem”, a de “explorar o universo do cinema com liberdade, oferecendo ao público essa liberdade em forma de filmes com propostas distintas” e a de ter um “sentido de resistência contra as tendências de homogeneização que imperam no campo cinematográfico”.</p>
<p>Proprietário do Cine Ritz, Edson Randal acredita na tradição dos cines de rua, “mesmo que ainda tenham pessoas com preconceito sobre os cinemas, que confundem shoppings com cultura”. Para Randal, a importância do Ritz está em “levar cultura e entretenimento com valores acessíveis para toda população”. Acrescenta que, “em muitas capitais, os governantes se preocuparam em manter os cinemas de rua, revitalizando-os e dando apoio a esses espaços”.</p>
<p>Essa questão também é defendida por Lisandro Nogueira. “O que os governos deveriam incentivar seria a volta desses cinemas de rua, principalmente nos centros das grandes cidades”, diz. Falando sobre a situação do Cine Santa Maria, o professor sugere uma revitalização. Como exemplos de possibilidades, Nogueira cita leis de incentivo e o investimento de grupos financeiros. “Seria muito bom trazer as classes populares de volta para o cinema”, afirma.</p>
<p>Goiânia é definida pelo professor como uma “cidade privilegiada e de cinéfilos”, além de ser a 5ª em número de salas de cinema do Brasil, segundo Nogueira. “Na última edição da mostra O Amor, A Morte e as Paixões, o público foi de 31 mil pessoas. Pode ter Netflix, locadora e internet, mas continua a vontade de ir ao cinema. Por que ir ao cinema é uma experiência forte.”</p>
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<p style="text-align: right;"><em>Matéria publicada na 36ª edição da revista Zelo</em></p>
