Mesa de debate discute as consequências do racismo ambiental no Brasil

Discussão fez recorte histórico da questão e teve a participação de professores e da vereadora da cidade de Goiás, Elenizia da Mata
Foto: divulgação

A programação do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica 2021) contou na manhã desta terça-feira com a mesa de debate “Racismo ambiental: debatendo a diversidade”. Com um importante e potente diálogo, os componentes da mesa e os participantes puderam debater como o racismo estrutural se perpetua também dentro das questões ambientais e como seria possível que os recursos dessa área pudessem ser gerenciados de forma igualitária.

O debate foi mediado pela vereadora Elenizia da Mata e teve a participação do professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Frei Paulo Sérgio Cantanheide, e da professora de comunicação da Universidade Federal de Goiás, Luciene Dias.

Elenizia iniciou sua fala lembrando da importância em se ampliar o conceito ambiental para todo o território racial e como é necessária a discussão sobre a presença do negro dentro do território da cidade e de todo o Estado de Goiás.

Já Frei Paulo recordou que a prática do racismo ambiental teve início ainda na colonização territorial do Brasil.

“Só é possível se falar em racismo ambiental a partir de duas compreensões: a primeira que ele começou no capitalismo colonialista, em um poder econômico excludente que elege quem vai ser excluído. E depois na noção de racismo estrutural que vai estar presente em todas as instâncias da sociedade”.

Racismo ambiental no Brasil

Frei Paulo também trouxe dados que mostram que a maioria das vítimas de tragédias ambientais como as de Mariana e Brumadinho, ocorridas depois do rompimento de barragens de mineração, eram negras.

Segundo ele, isso ocorre porque a força do capital nas regiões mais inóspitas são de minorias étnicas e raciais. “E a saída forçada para essas regiões se dão porque a exploração capitalista vai se dar em regiões perigosas em que a vida é colocada em risco e normalmente os excluídos são negros, índios e pardos”.

De acordo com o professor, há um pensamento errôneo sobre a desigualdade e o racismo ambiental, que ele só ocorreria dentro de florestas ou grandes biomas, enquanto na verdade “ele se expressa de forma mortífera nas grandes cidades brasileiras”.

Ele conclui: “a política de morte no período colonial ela não sai de cena no pós-colonialismo, ela apenas escolhe novos públicos”.

Espaços

A professora Luciene Dias afirmou que para pensar em racismo ambiental é preciso compreender que os seres humanos estão organizados em espaços, “e há espaços que são considerados marginais, periféricos, para onde estão destinados o lixo e a intolerância humana”.

Ela deu exemplos para se pensar as formas de racismo ambiental em uma analogia entre os lixos nucleares que poderiam ser gerados e encaminhados para o espaço sideral, e aqueles enviados para lugares de pessoas pobres, como o caso do ferro velho que foi epicentro de contaminação pelo Césio 137, em Goiânia.

“Esses espaços têm sido considerados historicamente os espaços ideais para receber o lixo. E quem são essas pessoas consideradas ideais para receber esse lixo? Pessoas pobres, negras em sua maioria, mulheres em sua maioria, indígenas… pessoas desviantes da norma, pessoas desviantes da regra e do projeto de especialização do mundo que propõe quem manda e quem tem que obedecer”, criticou Luciene.

A professora também propôs levar essa discussão para um olhar ainda mais restrito, na sede do Fica: “Quais são os espaços destinados na cidade de Goiás para colocar o lixo: comunidades quilombolas, indígenas, negras e pobres”.

Segundo ela, é o racismo ambiental que tem orientado o que deve ser considerado patrimônio, o que deve ser preservado, e o que deve ser escondido e matado. “A grande virada ambiental seria trabalhar com a perspectiva do antirracismo ambiental e buscarmos espaços de acolhimento e amor”, concluiu.

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