Na busca pela melhor aparência, os procedimentos estéticos possuem resultados satisfatórios que melhoram a autoestima e mudam positivamente a vida das pessoas. Entretanto, também existe o outro lado: há procedimentos que podem afetar, tanto a harmonia dos traços do rosto, quanto o emocional dos pacientes de forma bastante negativa. Um exemplo disso é a bichectomia. A intervenção, que voltou a estar na moda há cerca de quatro anos, requer alto grau de análise prévia já que seu princípio se baseia na retirada permanente da gordura na região da bochecha – a chamada bola de Bichat.
Realizada com o objetivo de conquistar um rosto mais fino, em alguns casos a bichectomia pode trazer muita decepção. O médico cirurgião plástico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Victor Cutait, afirma que o resultado final a longo prazo tem altas chances de ser insatisfatório tanto fisicamente, já que deixa o rosto com aparência muito fina e desigual, quanto emocionalmente, pois, o procedimento, que deveria aumentar a autoestima, tem efeito totalmente contrário e abala a autoconfiança dos pacientes.
Outros problemas incluem lesões do nervo facial, gerando paralisia, hemorragias, assimetria facial e infecções. “A gordura é essencial para sustentação da face e, muitas vezes, não é nossa inimiga. Influenciadoras e a mídia trazem a bichectomia, que é a retirada da gordura, como uma operação com ótimos resultados, já que, no primeiro momento, o rosto realmente aparenta harmonia. Mas, a longo prazo, depois de cerca de dois anos, o procedimento pode minimizar drasticamente a gordura e sustentação do rosto, causando envelhecimento precoce, olheiras e flacidez”, explica o cirurgião.
Apesar da cirurgia ser relativamente simples e pouco invasiva, o especialista adverte que há uma certa “banalização” do uso e que a operação é mais complexa do que centros estéticos demonstram. “Essa região é ligada a uma área muito delicada da face: próxima a várias terminações do nervo facial, ducto parotídeo, por onde a saliva circula da glândula parótida para a boca, e dos principais vasos sanguíneos da face”, ressalta.
Cirurgia da moda de tempos em tempos
O médico também aponta que a cirurgia existe há cerca de 60 anos e, ao longo dos anos, tem picos de modismos. “A bichectomia é solicitada eventualmente no meu consultório por pacientes que desejam um rosto menos redondo e, na maioria dos casos, eu não recomendo a operação, pois traz mais resultados negativos do que positivos. Há também situações em que o rosto tem aparência mais alongada e arredondada em razão de outras causas e não da bochecha, como a hipertrofia do músculo masseter, sendo assim, a retirada da gordura da bochecha não resulta na aparência mais fina do rosto”, revela o profissional.
A gordura da bola de Bichat é essencial, pois ajuda a manter o rosto com formato e estrutura adequados, mais jovial, além de ser muito importante para sustentar a musculatura da face. “A gordura na região também atua como um amortecedor de impactos, além de ajudar nos movimentos de mastigação e, a retirada da gordura pode, em casos específicos, trazer benefícios, mas é preciso muita cautela para que o resultado não seja o de envelhecimento precoce e desestruturação da face que, infelizmente, é irreversível”, alerta.