
De acordo com os dados de fluxo migratório no Brasil, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiás teve o segundo maior crescimento populacional, recebendo 186.827 novos habitantes. Nesse cenário, a região Centro-Oeste é responsável pela segunda maior atração de migrantes do país e Goiás é o segundo estado que mais atraiu novos moradores no Brasil, desde 1991. Com mais pessoas chegando, a demanda por moradia tem se intensificado. Há dois anos consecutivos, Goiânia se mantém como terceiro maior mercado imobiliário do país, por exemplo. Segundo a Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), no primeiro trimestre de 2025 as vendas na capital cresceram cerca de 30%, enquanto na média nacional divulgada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) o crescimento foi de 15%.
“Esse crescimento é natural tendo em vista que a nossa população cresceu 20% entre o censo de 2010 e o de 2022, enquanto a média nacional foi de 7%. Por 15 anos consecutivos, o PIB do nosso estado cresce acima das médias nacionais. Com uma economia forte e em evolução, mais pessoas buscam a capital e a demanda por moradia e salas comerciais para negócios tende a crescer acima de outros locais”, explica Credson Batista, diretor de pesquisas e estatísticas da Ademi-GO. “Goiânia bateu recorde histórico no número de unidades comercializadas em 2024: foram R$ 8,2 bilhões no ano, sendo R$ 7,7 bilhões apenas de apartamentos. A valorização do metro quadrado na capital foi de 10%, no comparativo entre o fechamento do ano passado e o primeiro trimestre de 2025. E, entre o primeiro trimestre dos dois anos, as vendas tiveram um incremento de 29% no número de unidades e quase 50% em valores”, acrescenta.
Qualidade de vida e o agronegócio
O aumento na demanda por imóveis em função de migrantes já era percebido pelo mercado. Para o diretor comercial da CMO Construtora, Marcelo Moreira, um dos fatores determinantes no interesse pela capital goiana é a qualidade de vida. “Goiânia é hoje uma das capitais mais seguras do Brasil, com uma das menores taxas de mortalidade, além de ter uma qualidade de vida altíssima, com mais de 30 parques públicos que garantem lazer aos moradores. É uma cidade jovem, com muita perspectiva de crescimento e oportunidades de empregos. Nós já percebemos isso nas vendas: atualmente 30% dos nossos clientes não são de Goiânia, são de outros estados ou ainda de fora do Brasil. Entendemos que o nosso cliente é global, e, com as ferramentas tecnológicas, essas pessoas conseguem comprar e acompanhar a evolução de uma obra à distância, por exemplo. Então, é crescente essa parcela de compradores que buscam morar em uma cidade melhor ou investir com foco em valorização de patrimônio e rentabilizar através do aluguel”, afirma.
A diretora de empreendimentos da Consciente Construtora e Incorporadora, Camila Inácio, avalia que o agronegócio tem sido um dos motores do dinamismo imobiliário em Goiás, contribuindo também para o crescimento migratório no estado. Ela destaca que o mercado imobiliário segue como uma opção segura de investimento, com potencial de valorização a longo prazo. “Dentro desse contexto, temos percebido uma demanda crescente por imóveis por parte de clientes vindos de outras regiões, especialmente ligados ao agronegócio. A maioria está na faixa de 45 a 70 anos, com perfil mais maduro e conservador, buscando tanto moradia quanto imóveis para filhos que vêm estudar em Goiânia. Empreendimentos como o Casa Brasileira, com áreas ajardinadas e quintais privativos, têm se destacado entre as preferências desse público”, afirma Camila.
Perfis de moradia
Após o lançamento e comercialização de 100% das mais de 500 unidades do Nomad Modern Life, o CEO da SOMOS Desenvolvimento Imobiliário, Fernando Razuk, comenta que 40% dos clientes adquirentes de apartamentos do empreendimento não são residentes na capital, sendo de outros 11 estados brasileiros. “Esse dado reforça o quanto Goiânia se tornou um polo regional para o Centro-Norte do país. Com isso, recebe muitas pessoas para o turismo de negócios e em busca de serviços de saúde e educação, segmentos nos quais a capital é destaque nacional. Pensando nessa demanda de pessoas que precisam de locais estrategicamente pensados, desenvolvemos o primeiro imóvel de ultracompactos da cidade, com metragens a partir de 22m² e o conceito de coliving, no qual o morador utiliza as áreas comuns do edifício como extensão do apartamento”, explica.
Em 2024, a Opus Incorporadora vendeu imóveis para 21 estados brasileiros, em grande maioria para compradores da região Norte. “Goiânia é hoje referência em serviços de alto padrão, como saúde, com grandes clínicas e hospitais de renome no país, e instituições de ensino, o que têm atraído muitas famílias não apenas do interior, mas de outros estados do Centro-Oeste e Norte, pela sua posição centralizada e de mais fácil acesso que São Paulo. Em sua maioria, esses compradores investem em compactos, mas temos também muitas vendas de unidades de grandes metragens, acima de 200 m² como apoio dessas famílias como segunda moradia na capital”, explica o gerente comercial da Opus, Gabriel Santos.
Com base nos últimos lançamentos da EBM Desenvolvimento Imobiliário, os empreendimentos de médio e alto padrão têm despertado maior interesse entre os compradores de fora da capital. Exemplo disso são os residenciais Wish Gran Six e Smart 36, cujas vendas para clientes de outros municípios representam mais de 30% do total. Cerca de 60% dos investidores são do interior de Goiás, mas já se observa uma participação crescente de compradores de estados como São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Tocantins. “O fortalecimento da presença de compradores de outras cidades e estados é reflexo do amadurecimento do setor em Goiânia, que hoje oferece estrutura urbana, planejamento e qualidade de vida”, analisa o diretor de Incorporação da EBM, Marcos Túlio Campos. Ele ressalta que projetos como o Wish, com plantas inteligentes e mais espaço para famílias, e o Smart, com unidades compactas, tecnologia embarcada e excelente localização, têm se mostrado investimentos com alto potencial de valorização.
Desdobramentos
O presidente da Ademi-GO, Felipe Melazzo, chama a atenção para algumas consequências dessa realidade. “Goiás tem atraído muitas pessoas em busca de empregos e oportunidades. A construção civil é uma das grandes responsáveis por esse fenômeno, já que as obras geram um grande volume de empregos diretos e indiretos”, diz. Segundo dados de geração de empregos do CAGED, a indústria da construção foi responsável, em março, por 26% do saldo de empregos criados em Goiânia e Aparecida de Goiânia. “Com uma demanda aquecida é natural que número de lançamentos suba – entre dezembro de 2024 a março de 2025, o número de canteiros verticais saltou de 162 para 176 –, assim a nossa demanda por mão de obra também é crescente. Porém, o número de trabalhadores preparados para aproveitar essas oportunidades não cresce na mesma velocidade. Por isso, o custo dessa mão de obra sobe e, consequentemente, como os empreendedores já vem trabalhando com margens apertadas desde a pressão de custos dos materiais provocadas pela pandemia, essa subida nos custos de produção será repassada para o metro quadrado dos empreendimentos.
Melazzo ressalta que a atração de mão de obra, de diferentes trabalhadores em busca de melhorias nas condições de vida, também reflete na oferta e demanda por imóveis. “Nesse contexto, é importante que tenhamos iniciativas para possibilitar moradia digna a todos. Assim, a criação da faixa 4 do programa Minha Casa Minha Vida foi positiva e deve facilitar o acesso de famílias que ganham até R$ 12 mil por mês ao sonho da casa própria. E, ainda, a aprovação das Leis de Habitação de Interesse Social em Goiânia também deve impulsionar esse mercado, já que hoje apenas 12% da oferta de unidades se enquadra no programa MCMV”, finaliza.