Ah!, essa gente moderna demais…

Pablo Kossa

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Talvez o pior lugar do mundo para eu expor esse tipo de ideia seja aqui, nas nobres páginas da Revista Zelo, mas como sou um cara de pouco bom senso e que a normalidade não é meu referencial de vida, ok, encaro esse desafio. Confesso de público para você, caro leitor: não tenho a menor paciência com o novo. O novo pelo novo não me diz nada. Para falar a verdade, é até pior: uma coisa perde pontos na minha análise subjetiva só pelo fato de ser nova. E não consigo entender quem sempre está louco atrás da última novidade. A angústia de se sentir sempre atrasado, tudo so last week, deve ser o verdadeiro inferno. Sempre ter que saber qual é a tendência de Milão, qual a banda que está na capa da Nem Music Express, o que aquele conceituado diretor iraniano está lançando, qual o blog referência em Nova York… Sejamos francos: tudo isso é um saco!

Eu tenho um seriíssimo problema com o novo. Já o percebo com um desdém que vem do fundo do meu peito. Eu realmente tenho necessidade do crivo da História para que eu sinta alguma complacência com qualquer coisa. Com obras de arte, a situação só se agrava! Prefiro sempre arriscar o escasso tempo de hobby para apostar no certo, naquilo que já tem respaldo consolidado do que confiar na indicação do blog incensado das últimas tendências. E que fique claro que não me orgulho disso. Não me sinto nem pior e nem melhor por não ligar para a velocidade em que se atualizam as coisas no mundo. Só me sinto distante disso. Simples.

Criei um critério subjetivo para o caso da música. Só vou ouvir artistas que passem no teste dos 10 anos de carreira ou três discos lançados. Se a banda mostrar essa consistência, a crítica especializada reconhecer o trabalho, caso citem referências estéticas que me interessem, aí sim posso ceder meu ouvido àquele trabalho. Inclusive, não tenho problema em ter humildade e ouvir os trabalhos anteriores do artista com atenção e reconsiderar minha opinião (sou o mestre da reconsideração). Mas, antes disso, por favor, não precisam contar comigo.

Naturalmente, tenho consciência de que perco muita coisa boa e acabo perdendo artistas em seu período mais criativo. Ok, é o preço que se paga. Não posso me queixar. E essa forma como vejo o mundo não é nada interessante para quem trabalha com o que eu trabalho. O jornalista é aquele cara que busca o novo o dia inteiro, na procura incessante pelo que ninguém sabe. O produtor cultural é o sujeito que se propõe a descobrir o novo em vários sentidos. Tsc, eu sou esquisito demais e sempre escolhi os caminhos mais tortuosos mesmo. Normal. A análise aprofundada, a reflexão bem feita, o resgate histórico me interessam bem mais do que o novo pelo novo.

Sempre me divirto quando encontro alguém e a pessoa pergunta se eu vi/li/ouvi a última. A resposta quase certa é que não. E o meu interlocutor faz aquela cara: ”Nossa!!! Mas como??? Ele é um jorna­lista…” Fazer o quê? Sinto reconforto quando ouço a palavra clássico, pois sei que ge­rações passaram pela obra e a continuam valorando.

Deve ser coisa de gente velha… Ou muito chata… Ou ainda as duas coisas. Cabe a você sacar onde eu me enquadro.

 

 

 

Texto inspirado na música Supercool de João Brasil -http://www.youtube.com/watch?v=lk9-L0qCPh8 Z

 

Artigo publicado na Revista Zelo (08/2009)

 

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