Entenda como a dependência tecnológica afeta a saúde mental dos jovens

Em casos mais graves, o uso prolongado de aparelhos e da internet apresenta traços de um vício
dependência tecnológica
(Foto: Unsplash/@divanildoslv)

A dependência tecnológica tem sido um problema recorrente, principalmente quando se trata dos mais jovens. De acordo com a última pesquisa da TIC Kids Online Brasil, cerca de 93% dos brasileiros com idades entre 9 e 17 anos são usuários de Internet. No ano de 2019, a estimativa era de 89%, o que mostra um aumento de 4% na utilização da rede. Atualmente estar conectado ou em frente às telas faz parte da rotina de boa parte da população.

Aline Sabino, psiquiatra da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, afirma que: “Hoje temos um número expressivo de jovens acessando a internet, o que nos diz muito sobre essa geração. Eles nasceram em meio às tecnologias e querem cada vez mais fazer parte disso, o que é normal. O problema é quando a utilização da rede começa a ultrapassar limites e a interferir em diferentes áreas da vida”.

O uso prolongado de aparelhos como celulares, tablets ou computadores pode influenciar diretamente na saúde mental e colaborar para o desenvolvimento ou intensificação da depressão, ansiedade, hiperatividade, transtornos de déficit de atenção, entre outros quadros.

“O jovem passa a se isolar, ter comportamentos agressivos e a se irritar com mais facilidade. Ele encontra nas telas um universo que o distancia da realidade, sem que ele perceba”, relata a psiquiatra.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que adolescentes com idades entre 11 e 18 anos façam uso dessas tecnologias por um período de 2 a 3 horas por dia, mas, na maioria dos casos, a realidade é bem diferente.

A internet traz consigo uma infinidade de possibilidades. Assim, é possível conversar com amigos, conhecer pessoas, acompanhar aquele artista em tempo real, saber as tendências musicais e experienciar um mundo diferente a partir dos jogos. São tantas opções, que muitas vezes é difícil perceber a passagem do tempo.

“A curto prazo a internet aparenta ser um lugar bastante agradável. Mas pode ser um espaço repleto de armadilhas. As redes sociais, por exemplo, são ambientes que podem colaborar com inseguranças, desencadear transtornos de imagem e distúrbios alimentares”, enfatiza a médica. Além disso, nesse mesmo ambiente o jovem pode ter contato com o cyberbullying, sendo alvo de ofensas que podem contribuir ainda mais para a baixa autoestima.

O uso frequente de redes sociais e de jogos on-line também pode afetar a questão do sono, causando crises de insônia. “Quando não existe controle dos pais, há a possibilidade de o jovem ficar até tarde usando o celular. Com isso, o seu tempo de sono diminui. Não dormir bem traz uma série de consequências, o adolescente pode ficar de mau humor, irritado, indisposto e perder seu rendimento nas atividades que desenvolve no dia a dia”, ressalta Aline Sabino.

Transtorno de dependência de Internet

Em casos mais graves, o uso da internet demonstra características de compulsão e apresenta traços de um vício, como qualquer outro. Com isso, a sua falta pode gerar diferentes sentimentos e sintomas.

“Há situações em que a pessoa sente angústia e ansiedade quando não está conectada. Existe também um medo da solidão que essa desconexão potencializa e a sensação de se estar perdendo algo”, menciona a especialista.

Com a pandemia de Covid-19, o tema passou a ter mais visibilidade entre a sociedade, já que com o isolamento, o uso das tecnologias tornou-se ainda maior. No entanto, o transtorno ainda não é tido como uma doença.

Atualmente, apenas o uso exagerado de jogos eletrônicos é classificado como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), integrando a Classificação Internacional de Doenças, como CID-11.

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