Para os adolescentes, a interação com amigos e conhecidos por meio das redes sociais é tão natural quanto escovar os dentes após as refeições. Nascidos em um mundo tecnológico, engana-se quem acha que essas pessoas sabem lidar facilmente com o isolamento social que a pandemia trouxe. Sem poder ter o convívio físico com amigos, colegas e até mesmo professores, a saúde mental dos jovens foi extremamente afetada.
O Ministério da Saúde (MS) realizou uma pesquisa sobre saúde mental na pandemia da Covid-19 com 17.500 pessoas. Um pouco mais de 86% das pessoas responderam que durante o isolamento social apresentaram sintomas de ansiedade, transtorno que coloca o Brasil como o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo inteiro.
A incerteza com o futuro acabou levando os adolescentes a ficarem mais estressados e ansiosos. O excesso de tempo gasto em aparelhos eletrônicos também agrava os problemas de saúde mental, segundo o presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, Carlos Figueiredo. “O uso exagerado de eletrônicos podem causar alterações químicas no cérebro, que levam a prejuízos da atenção, interferem na inteligência emocional e na qualidade do sono, além de aumentar o isolamento social e intensificar sintomas psiquiátricos, como a ansiedade”, explica o psiquiatra.
O médico psiquiatra aponta ainda que o uso de celulares, vídeo games, televisão, tablets e afins interferem na qualidade do sono por diferentes mecanismos e, consequentemente, atenua sintomas de ansiedade e depressão. “As evidências científicas atuais demonstram que as telas interferem no sono, inicialmente, porque as pessoas ficam muito tempo nos eletrônicos e acabam tendo menos horas para dormir. Outro motivo é o fato do conteúdo e a interação social causarem estímulos físicos e mentais, gerando dificuldades para adormecer e continuar dormindo. Outro ponto importante é que a luz emitida pelas telas causa supressão fisiológica do chamado hormônio do sono, a melatonina, causando alterações no ciclo sono-vigília”, esclarece Carlos.
Aliviando o estresse
Uma forma que muitos jovens estão encontrando para desestressar é com atividades físicas. Desde alongamentos diários até aulas em academias, têm ajudado a melhorar a saúde mental dos adolescentes. Anderson Dornellas, coordenador da academia Bodytech Lago Sul, conta que sair do modo estático já auxilia na autoestima e no bem-estar. “O maior segredo é se manter em movimento. Atividades como meditação, yoga, Superioga, exercícios cardiovasculares (como corrida, caminhada, ciclismo , dentre outros) são excelentes alternativas e têm referencial científico bastante contundente”, afirma Dornellas. Além disso, os exercícios físicos auxiliam na produção da dopamina, da serotonina e da endorfina, neurotransmissores relacionados ao prazer e à alegria. “Esses neurotransmissores promovem relaxamento e prazer. A endorfina, em especial, auxilia o sistema nervoso a reagir a tensão corporal e mental”, completa Dornellas.
As atividades físicas ainda ajudam na retomada do convívio social. Com as academias abertas, alguns adolescentes vão para as aulas com amigos. “Hoje no mundo fitness, há o que chamamos de TRIBOS: a tribo da dança, do crossfit, da corrida e por aí vai. Essas tribos, por muitas vezes, estendem o convívio da academia para a vida pessoal, familiar, etc. Além de muito positivas para a socialização, ainda ajudam a manter a frequência na academia”, ressalta o coordenador da BT Lago Sul.
Além de todos os efeitos positivos para a saúde mental, na adolescência é um momento crucial para se iniciar a prática de atividades físicas, já que é quando o corpo está passando por mudanças importantes. “O exercício físico é importante em todos os momentos da vida, e quanto mais precoce (desde que controlado) melhores os benefícios/resultados.Os músculos desenvolvidos na adolescência tendem a ser mais saudáveis, os ossos ficam mais fortalecidos, e previne a obesidade”, frisa Dornellas. “Há de se lembrar que o repertório motor, é desenvolvido desde a infância (com sua maior “janela de aprendizado”) passando também pela adolescência”, finaliza.