É cada vez mais natural falarmos sobre saúde mental. Ao contrário de antigamente, quando o assunto era reprimido, hoje sabemos da importância de se discutir sobre doenças que afetam a mente, como a depressão e a ansiedade, que são extremamente comuns e até mesmo perigosas. Mas mesmo com esse tema ganhando mais espaço na mídia e nas redes sociais, pouco se fala sobre um fator que possui influência direta sobre a saúde mental: a alimentação. “O intestino, por onde absorvemos os nutrientes dos alimentos, possui uma relação direta com o cérebro, sendo inclusive chamado de segundo cérebro. Nós podemos até mesmo observar essa ligação no dia a dia quando, por exemplo, sentimos “borboletas na barriga” em momentos de nervosismo. Isso ocorre porque existe uma complexa rede de comunicação em nosso corpo que liga os centros emocionais e cognitivos do cérebro às funções intestinais. O sistema nervoso intestinal se conecta ao cérebro através do nervo vago, que entre suas várias funções, é também responsável pelo controle do humor e da ansiedade”, afirma a Dra. Marcella Garcez, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia.
Segundo a especialista, é no intestino também que estão 90% dos receptores de serotonina. “A serotonina é uma substância química sintetizada principalmente pelo sistema nervoso central e trato gastrointestinal, que está envolvida no processo de regulação do humor e processamento das emoções e, quando ineficiente, pode causar ansiedade e depressão”, explica. Através da conexão entre o intestino e o cérebro, é possível entender então de que forma a alimentação influencia na saúde mental, o que vai muito além de apenas se alimentar saudavelmente ou não, já que alimentos específicos possuem impacto positivo ou negativo em nosso cérebro.
Por exemplo, o consumo de prebióticos e probióticos é uma ótima maneira de começar a regular a saúde mental por meio do bom funcionamento intestinal. “Isso porque prebióticos, presentes em alimentos como aveia, alho, cebola, frutas vermelhas e banana, são componentes naturais que ao chegarem no intestino promovem o crescimento de bactérias benéficas para a saúde intestinal e do organismo em geral. Por sua vez, são os probióticos, que podem ser encontrados em alimentos fermentados, como kombucha e missô, e alguns queijos e iogurtes”, destaca a nutróloga. “Para melhorar a saúde mental, é interessante apostar também no consumo de frutas e legumes, pois são alimentos ricos em vitaminas, minerais, fibras prebióticas e antioxidantes, nutrientes fundamentais para que as bactérias benéficas para o intestino prosperem, melhorando o humor, aumentando a sensação de bem-estar, aliviando o estresse e reduzindo a inflamação. É especialmente interessante investir em alimentos ricos em magnésio, vitamina C e fibras, que ajudam a reduzir a ansiedade.”
Em contrapartida, guloseimas, alimentos fritos em imersão e ultraprocessados, ricos em sal, açúcar refinado, gordura saturada e trans podem piorar quadros de depressão, ansiedade e estresse. “Esses alimentos favorecem a proliferação de bactérias prejudiciais para a saúde intestinal, piorando a inflamação e o humor”, alerta a médica. “A ingestão excessiva de cafeína e bebidas alcoólicas também pode prejudicar a saúde mental e fazer com que você se sinta mais ansioso ou depressivo. Por isso, é importante consumir essas substâncias com moderação. No geral, até 400mg de cafeína, o que equivale a cerca de 4 xícaras de café, é o consumo máximo diário e seguro para adultos. Já a ingestão de bebidas alcóolicas deve ser restringida a duas doses diárias para homens e uma para mulheres”, completa.
Mas vale ressaltar que condições como depressão e ansiedade são doenças e devem ser diagnosticadas e tratadas por um profissional especializado, já que suas causas vão muito além da alimentação, podendo incluir fatores como eventos traumáticos, doenças pré-existentes, desequilíbrios hormonais, uso de certos medicamentos e até mesmo genética. “Já reconhecida como uma doença hereditária, a depressão é uma condição extremamente complexa que envolve a interação de diversos genes e uma série de fatores ambientais que podem modular e acionar a predisposição genética. Para se ter uma ideia, estudos apontam que a influência genética para o desenvolvimento da depressão é de 30 a 40%, sendo que o risco dessa condição entre parentes de primeiro grau é três vezes maior do que na população geral”, afirma o geneticista Dr. Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética e diretor geral Multigene. Existem inclusive exames capazes de identificar a presença de variantes genéticas que aumenta a predisposição à depressão, ajudando assim na prevenção da condição por meio do monitoramento de fatores ambientais que podem desencadeá-la. “Esses exames genéticos podem até mesmo avaliar as respostas aos tratamentos para a depressão. Mas é fundamental consultar profissionais especializados, como psiquiatras e psicólogos, já que apenas eles serão capazes de avaliar corretamente o exame e indicar o tratamento mais adequado para cada caso”, finaliza o especialista.